Re: Entrevista a JohnyRobaz

Enviado:
17/12/2019 20:10
por Cem pt
Excelente entrevista, parabéns!
Quem anda pelos bons fóruns dos mercados seguramente aprende bastante uns com os outros, andamos cá todos ao mesmo para no final tentarmos ganhar umas boas coroas.
Re: Entrevista a JohnyRobaz

Enviado:
17/12/2019 17:34
por djovarius
Boas,
Muito bem. Uma lufada de ar fresco um jovem a entrar nos mercados de risco.
Até porque entraste ainda na casa dos vinte e tal anos...
Na minha geração houve muitos, hoje parece-me que há mais gente na batota, placards e nas raspadinhas do que a pensar em investimentos de portfolio ou mesmo especulativos.
Pior ainda: há gente que tem a mentalidade estragada ao ponto de rejeitar o capitalismo, o mercado livre... mas depois gostam dos benefícios trazidos por esses conceitos... desde que alguém lhes dê as coisas. Nem que seja o crédito ao consumo !
Há que recuperar a mentalidade do triângulo trabalhar - poupar - investir, pois é a única coisa que pode levar a benefícios reais.
E, sim, foi importante ter perdas em produtos altamente alavancados: também passei por isso. Acaba por ser uma lição, um preço a pagar que pode te dar lucros daí para a frente. Enfim, olha, o SPX já multiplicou por 5 numa década (+ ou -). Não é fácil bater o índice nessas condições.
Por mim, eu mantenho um fundo que espelha o SPX desde 1997 - podia ter vendido e entrado, mas não o fiz.
Já vi grandes oscilações, mas para já está a valer a pena seguir o Jesse Livermore
It is not the trading, it is the sitting.
Abraço
dj
Re: Entrevista a JohnyRobaz

Enviado:
17/12/2019 2:10
por JohnyRobaz
lfhm83 Escreveu:Alguns pontos em comum, praxe com o Ganhar em Bolsa. Curiosamente pensava que estavas mais no fórum por temas políticos. Pelo que li em muitos dos teus comentários fico com a sensação que ideologia que defendes é um tanto contrária daquilo que o mercado representa.
Bom, eu estou no fórum para trocar ideias e aprender sobre os mercados, não vim com o propósito de discutir temas políticos. O que não invalida que, ao haver por aqui tópicos relacionados com temas políticos, tenha vontade de exprimir as minhas opiniões. Acerca da minha ideologia, eu diria apenas que eu gosto dos mercados e da sua dinâmica, mas aplicada a uma parte do que é a sociedade. Há coisas em que eu não acho que o mercado, pelas suas características, qualidades e defeitos, seja suficiente para garantir à sociedade o que ela necessita como um todo. Não vou desenvolver muito, mas queria deixar claro que não me parece que apenas os neo-liberais podem gostar da dinâmica dos mercados, e de participar nela activamente.
Abraço
Re: Entrevista a JohnyRobaz

Enviado:
17/12/2019 0:37
por BearManBull
Alguns pontos em comum, praxe com o Ganhar em Bolsa. Curiosamente pensava que estavas mais no fórum por temas políticos. Pelo que li em muitos dos teus comentários fico com a sensação que ideologia que defendes é um tanto contrária daquilo que o mercado representa.
Re: Entrevista a JohnyRobaz

Enviado:
16/12/2019 22:59
por JohnyRobaz
pata-hari Escreveu:Muito interessante! bela evolução que fizeste enquanto investidor, sobretudo porque fiquei com a ideia de que ainda és um jovem

Sim, tenho 30 anos e ainda muito para aprender.
MarcoAntonio Escreveu:Obrigado pela entrevista, JohnyRobaz, que só agora tive oportunidade de ler. Então que então, engenheiro nas horas de expediente e DJ nas horas livres...

É verdade, e por vezes não é nada fácil conciliar, quando pouco tempo sobra para dormir..
Mais uma vez obrigado pela consideração que demonstraram pela minha participação neste espaço ao proporcionarem-me esta entrevista.

Entrevista a JohnyRobaz

Enviado:
16/12/2019 15:00
por Ulisses Pereira
O entrevistado de hoje é o JohnyRobaz, um dos mais activos participantes no fórum. Teve a amabilidade de nos conceder uma entrevista e assim ficarmos a conhecer um pouco mais sobre alguém que nos habituámos a ler diariamente.
Ulisses: Mais de 4 mil mensagens escritas em cerca de 5 anos é obra! És um dos mais activos no Caldeirão. A tua visão sobre os mercados mudou muito nestes 5 anos?
JohnyRobaz: Bem, sim, houve uma fase em que participava até bastante mais que hoje, tanto a nível de discussões sobre os mercados como a nível de discussões políticas! Mas hoje admito que participo de forma bem mais selectiva.
Quanto à minha visão sobre os mercados, mudou bastante, sim. Sempre tive curiosidade em relação à bolsa e aos mercados e comecei a participar no fórum e a negociar após ler o livro do Fernando Braga de Matos, “Ganhar em Bolsa”, tendo-me entusiasmado com a panóplia de ferramentas para analisar os mercados, principalmente de AT, que ele lá explicava.
Tudo aquilo, na altura, me parecia um jogo simples e fácil, comecei a fazer algumas negociações que corriam bem, a ambição desmesurada levou-me a alavancar, até que também chegaram algumas perdas pesadas, e comecei a perceber que negociar nos mercados não é assim tão fácil.
Algumas vezes conseguia bons lucros, as coisas funcionavam, e isso entusiasmava-me, mas noutras vezes as coisas não corriam bem e ficava frustrado. Tentava procurar respostas para as razões dos movimentos não serem os que eu esperava mesmo tendo cumprido tudo como era suposto. Procurava em notícias, aqui no fórum, e enfim, encontrava sempre algures uma justificação para o comportamento do preço à posteriori. No entanto, nos mercados não interessa muito justificar movimentos, mas sim prevê-los e ganhar dinheiro com isso. E percebi que apenas uma pequena percentagem dos participantes do mercado o faz consistentemente e batendo o mercado, e que não bastava ler uns livros de AT para conseguir tal feito.
Posto isto, hoje em dia percebo que todas as negociações têm uma certa probabilidade de sucesso e um certo risco associado, e que o segredo está na optimização destas duas variáveis. Hoje valorizo mais a disciplina e a paciência. Resumindo, sou hoje mais conservador a intervir nos mercados que no início, sou mais investidor que trader, mas continuo a querer bater o mercado. Olho para os mercados mais como uma forma possível de rentabilizar uma pequena parte das poupanças, com controlo de risco, talvez até como uma espécie de competição com essa figura abstracta que é o "mercado", mas não tanto como um jogo.
Curiosamente, fui-me também apercebendo que o Buy and Hold, hoje em dia através de ETFs, é provavelmente das melhores formas de estar nos mercados para os pequenos investidores de retalho, grupo no qual obviamente me incluo, em termos de risco-benefício. No entanto, ainda continua a interessar-me mais o investimento activo.
Ulisses: Recordas-te do teu primeiro negócio?
JohnyRobaz: Vagamente. Sei que foi em Março de 2015, umas acções da Impresa, e creio que deu lucro (provavelmente mínimo, até porque comecei com pouco capital e as comissões comiam logo parte significativa do negócio, mas lembro-me que foi positivo).
Ulisses: O teu avatar sempre me deixou curioso. Tem alguma coisa a ver contigo ou é uma personagem que admiras?
JohnyRobaz: O meu avatar é um retrato do Roberto Bolaño, que é o meu escritor favorito e obviamente alguém que admiro bastante.
Ulisses: O que fazes profissionalmente?
JohnyRobaz: Sou engenheiro civil projectista.
Para além disso, sou DJ e tenho, em conjunto com um grupo de amigos, uma editora de música electrónica. Apesar de o encarar como um hobby, é algo que levo a sério, e de certa forma, profissionalmente.
Ulisses: Tanto te vejo a analisar um gráfico como a falar dos fundamentais das empresas. Consideras que é importante conciliares análise técnica e análise fundamental?
JohnyRobaz: Sim, cada vez mais. E aquilo que alguns chamam Análise Macro também. Acho que tudo é importante nos dias de hoje, em que os mercados são totalmente globalizados e tudo está interligado por esse mundo fora. Como já dei a entender, comecei por utilizar apenas a Análise Técnica, era mais fácil para alguém que não tinha grandes bases de finanças e economia. Li as “bíblias" da AT, estudei montes de padrões, formas de velas, até que hoje em dia basicamente traço linhas de tendência, suportes e resistências, às quais adiciono o volume e o RSI. Achei melhor simplificar. Cheguei a desenvolver um sistema de negociação mecânico com base em indicadores técnicos relativamente complexos, osciladores e de tendência, que tendo resultado bem durante uns meses, foi totalmente destronado pelos movimentos bruscos do S&P500 no início deste ano, pelo que decidi deixar de o utilizar na negociação de índices e acções, e mantenho-o apenas para negociação em forex, onde os resultados têm sido mais estáveis e satisfatórios, apesar de modestos.
Entretanto, sempre tive vontade de me debruçar sobre a Análise Fundamental, perceber como se obtinha o real valor de uma empresa, até para dar mais significado e mais sustentação aos investimentos que fazia. A forma como o S&P500 quebrou todos os suportes no final do ano passado, convencendo-me que era desta que o grande Bull tinha terminado, e depois fez um "V" gigante retomando o caminho anterior como se nada fosse, foi talvez o empurrão final que me fez perder a confiança cega na AT e procurar de vez a AF. Com a ajuda de foristas como o Dr. Tretas ou o Artista Romeno, comecei por ler uns livros e artigos sobre o assunto e a desenvolver as minhas análises dos resultados das empresas. Tenho apostado nisso para fazer o chamado “stock picking”, e na AT para optimizar as entradas e saídas. Ainda é cedo para avaliar mas creio que pode ser este o caminho certo.
Ulisses: Vejo-te falar não apenas de acções portuguesas como também de outros mercados. Onde preferes investir?
JohnyRobaz: Durante muito tempo só investia em acções portuguesas, mais por questões de comissões, até que finalmente consegui começar a construir também uma carteira de acções norte-americanas noutra corretora. Acho que Portugal tem empresas bastante interessantes, até porque se não achasse não investia nelas, mas o mercado americano é onde verdadeiramente me dá mais gosto participar e acompanhar. É onde surgem as empresas mais interessantes, que exploram novos nichos de mercado, novas tecnologias, e estar a par desses desenvolvimentos é uma das coisas que me fascina no mundo dos mercados, pelo que naturalmente é para lá que mais olho.
Ulisses: Lembras-te de qual foi o teu pior negócio de sempre? E o melhor?
JohnyRobaz: Bom, o pior creio que foi quando, estando altamente alavancado em CFDs do DAX, entusiasmado por uma boa experiência com CFDs do S&P500, perdi uma grande fatia da carteira em apenas uns minutos devido a um discurso qualquer do Draghi que ninguém supostamente estava à espera. O caricato é que estava a trabalhar e portanto não vi logo que o preço saltou por cima do meu stop limite e tive que fechar a posição com uma grande perda. Admito que ganhei uma repulsa tanto a stops automáticos como a grandes alavancagens.
O melhor negócio talvez tenha sido naquele movimento incrível da Altri do ano passado, em que quase dupliquei o que investi.
Ulisses: O que achas que tens que mudar ou melhorar para te tornares um investidor de maior sucesso?
JohnyRobaz: Melhorar naquelas que considero as principais virtudes do investidor de sucesso, a disciplina e a paciência. E continuar a fortalecer os meus conhecimentos e ferramentas de avaliação do valor das empresas.
Ulisses: Como vês o actual momento da Bolsa portuguesa, dominado por ursos ou touros?
JohnyRobaz: Sinceramente, eu acho que a Bolsa Portuguesa neste momento não está dominada nem por ursos nem por touros. Acho que a tendência de longo prazo está indefinida. No entanto, estou optimista de que podemos estar a fazer uma grande base, de que o pior já passou, mas ainda com o peso às costas de não ser fácil ganhar a confiança dos mercados com tudo o que aconteceu neste país, em que a banca foi dizimada, arrastando consigo para o buraco aquela que era a melhor empresa portuguesa, a velha PT. Um país ainda altamente endividado e muito pouco produtivo, com demasiada burocracia e que continua a apostar mais na chico-espertice do que no conhecimento e inovação, na sinergia da Universidade com tecido empresarial e na valorização de quem trabalha. Mas reforço, estou optimista, o país não se tornou uma URSS como tantos temiam, e creio que as empresas que sobreviveram à crise ficaram mais fortes.
Tecnicamente, vejo uma bela linha de tendência ascendente desde meados de agosto, com 3 toques como mandam as regras, pelo que no médio prazo, o PSI é capaz de ir testar a grande barreira dos 5400, ou mesmo dos 5800. Veremos.
Ulisses: O que é que gostas de fazer, longe dos mercados?
JohnyRobaz: Tanta coisa. O meu grande problema é mesmo arranjar tempo para fazer tudo o que gosto. Adoro música e literatura, pelo que é a ouvir música e a ler que passo muito do meu tempo livre. Gosto de descarregar energias no ginásio, gosto de jogar futebol e de fazer mergulho. Gosto de estar com amigos, conversar, discutir (no bom sentido do termo). Adoro viajar sempre que posso, conhecer o máximo possível do Mundo é um dos meus objectivos de vida.
Ulisses: Qual a personalidade pública que mais admiras, esteja viva ou não?
JohnyRobaz: É difícil responder, admiro bastantes. Mas tendo que escolher, seria o Nelson Mandela. A sua capacidade de perdão é algo indescritível. Um verdadeiro líder humano e moral, daqueles que hoje muito sentimos falta.
Ulisses: Qual consideras ser uma boa rentabilidade por ano no mercado accionista?
JohnyRobaz: Quanto a mim, não tenho percentagens-alvo fixas. Acho que uma boa rentabilidade é aquela que bater o índice que consideramos de referência. No meu caso, é o S&P500. Como disse atrás, hoje em dia os pequenos investidores de retalho têm à disposição o investimento em índices, como o S&P500, através de ETFs a baixíssimos custos. Portanto, creio que, tendo em conta que se escolheu tentar ser melhor que o mercado, terá que ser esse o objectivo. E não é nada fácil de conseguir.
Ulisses: O que é que mais gostas no Caldeirão que te leva a continuares tão activo nesta nossa casa? E o que é que menos gostas?
JohnyRobaz: Ora bem, o que gosto mais é de encontrar pessoas dispostas a perder o seu tempo, certamente precioso, a partilhar verdadeiro conhecimento, sem ganharem nada com isso. E isso motiva-me a participar e contribuir também. E aqui tenho que destacar uma pessoa em particular, que é o Cem pt, quem eu considero excepcional neste aspecto.
O que menos gosto são os ataques pessoais que alguns foristas, de vez em quando, decidem atirar aos outros quando alguém não concorda com eles, seja sobre que assunto for. E muito fazem vocês, moderação, para o tentar evitar. Mas enfim, infelizmente, parece que é cada vez mais o mundo em que vivemos hoje. Há que saber viver com isso.
Por fim, gostaria de agradecer-vos pelo convite para esta entrevista, e pela oportunidade de expor a forma como olho para os mercados, como tenho crescido como investidor e como tenho aprendido com a grande ajuda do Caldeirão e dos seus participantes.
“E assim como sonho, raciocino se quero, porque isso é apenas uma outra
Ulisses: Obrigado nós pela disponibilidade e pelo teu contributo para o Caldeirão!