djovarius Escreveu:A sério? Não serve para nada do que se disse (eu disse acima)? Porquê?
Bom, se queres que te diga, vamos lá.
O Aero de Beja não serve para isso dessa maneira, mas poderia servir para "touch and go" de voos de longa distância, mas para isso a ANA teria de fazer um preço "jeitoso".
O que é o " touch and go " de voos de longa distância? Touch and go é em Tires ou Vilar da Luz nos teco-teco Cessna 150 ou 170.
Os voos de longa distância são ponto a ponto e não há " touch and go " em aviões comerciais com passageiros. Quando muito há toga ( touch and go arround ) caso a aterragem esteja comprometida. Os heavy necessitam de configuração para descolar e um avião que está a aterrar tem os seus sistemas configurados para aterragem. Como manobra de emergência pode fazer toga, mas é emergência e é para reportar.
- Interface de cargas em parceria com o porto de Sines, também com ligações rodo-ferroviárias compatíveis
A carga que é transportada para o porto de Sines boa parte dela é petróleo para a refinaria.
Outra parte são contentores TEU padronizados para transporte por navio e sem qualquer relação com contentores de aviação. Uma carga que chegasse a Sines teria que ser tirada à mão dos contentores maritimos e reposta em contentores de carga aérea. E depois de reposta iria para onde? para o centro da europa?
Os aviões não transportam o que os navios transportam. Transportam mercadorias finas, frágeis e onde a rapidez de entrega é muito mas muito importante e o preço pago por cada quilo é 20 ou 30 vezes superior à carga maritima.
- Interface para voos de correio rápido, com muito potencial de armazenamento de cargas / correio e "dormida" de aviões;
As companhias mundiais de correio aéreo tem as suas bases europeias estabelecidas e nelas investiram milhares de milhões de euros e porque raio iriam sair de onde estão e ir para Beja começar do zero?
A TNT é capaz de ser uma das mais pequenas e gostaria que visses a base deles na Bélgica como eu já vi. É um mundo de eficiência, de precisão que demorou muito a construir e com muito investimento.
- Centro de Desenvolvimento da Airbus (pesquisa e implementação tecnológica) ou outros fabricantes (tipo Bremen);
O problema é a Airbus querer implementar cá seja o que for. Portugal não é um dos quatro países fundadores e financiadores da Airbus e não é cliente com dimensão para impor seja o que for. E porque é que haveriam de implantar cá seja o que for quando os fundadores não deixam sair nada dos seus países, excepto para os grandes mercados tipo USA ou China.
Se por qualquer razão ( qual não vejo ) tivessem que implementar pro aqui fosse o que fosse iriam para Getafe. Foi para isso que os espanhóis arriscaram o financiamento como parceiros fundadores da Airbus.
- Manutenção de aeronaves, desmantelamento, peças, etc...;
Quanto à manutenção nem vale a pena pensar. Não há técnicos para manter a TAP M&E Lisboa quanto mais para começar algo novo em Beja. Fazer uma C chek implica engenheiros e mecânicos disponíveis em quantidade que Portugal agora não tem, nem terá nos próximos anos. Isto para além do investimento em máquinas e equipamentos, certificações e tudo o mais.
O resto é manutenção de linha e essa é feita nos aeroportos de operação.
No desmantelamento ainda posso dizer que... talvez... talvez. Mas há Teruel e Tarbes aqui bem perto com provas dadas, prestígio e cadeias já estabelecidas. Beja iria começar do zero num negócio novo para eles quando os vizinhos são mestres na arte.
E o desmantelamento implica ter instalações ( os hangares de Beja são militares ) e muito capital que quem lá poria?
- Zona de testes para futuras aeronaves elétricas (se algo correr mal, há muito terreno);
É verdade que há muito terreno. Mas as aeronaves eléctricas não experimentais nem daqui a 20 anos estarão aí a sério e até lá é muito mais engenharia que testes. Testes serão algumas horas apenas.
- Treino real de pilotos para aeronaves de grande porte e treino generalizado de pessoal para enfrentar acidentes aéreos (para toda a UE);
Não há nada disso em treino.
As companhias ( em algumas os próprios pilotos ) fazem ou pagam o treino dos seus pilotos para obterem ou manterem qualificações. Grande parte desse treino é em simulador. É infinitamente mais barato, não se arrisca aviões e treina-se tudo, mesmo tudo, e não se retiram aeronaves à operação. A TAP faz em Tires, no antigo hangar 5.
A única vez que os pilotos vão fazer algum treino com avião vazio é, apenas, antes de serem largados em linha ou em aeroportos com severas limitações, tipo Funchal. E na vida de um piloto isso só acontece uma ou quanto muito duas vezes numa vida profissional.
E quando isso acontece pretende-se o aeroporto limitado ou aeroportos movimentados e com ajudas. Beja nem ILS tem, quanto mais ILS cat II ou III que é requisito comum para este treino.
E o que levaria, por exemplo a LOT polaca a trazer um T7 da Polónia a Beja, vazio, para fazer esse treino, gastando toneladas e toneladas de combustível e horas de voo para além de ter um avião fora da operação durante 10 ou mais horas, quando poderiam ir a Katowice ou Poznan que são aeroportos relativamente perto de Varsóvia e tem todo o tipo de ajudas? POrque é que a Ibéria não iria a Barcelona, aeroporto que opera, e viria a Beja?
Vale a pena lembrar que a ANA ganharia bom dinheiro com a soma destas e de outras atividades.
A ANA deixa a Euroatlantic parquear em Beja a preço de saldo. Não ganha dinheiro mas Beja veio no pacote da concessão, ganha noutros e perde neste.
Há muito mais para dizer sobre isto mas já está longo.
Cumprimentos,