pata-hari Escreveu:Se a competência fosse o factor critico, os números seriam certamente equivalentes e não (tão) discrepantes. Aliás, os números mostram que, independentemente da razão, é factual que existe uma discriminação..
Tenho dúvidas que se possa inferir isso. Pode acontecer simplesmente que as mulheres tenham preferência por empregos que são pior pagos e os homens por empregos que são melhor pagos, certo?
Vi há tempos um documentário sueco sobre as profissões de homens e mulheres. O engraçado era que chegavam à conclusão que quanto maior a liberdade de escolha que existisse (incluindo económica), maior era a discrepância de géneros por profissão. Por exemplo: em alguns países subdesenvolvidos a percentagem de mulheres engenheiras é muito mais alta do que na Suécia já que nos primeiros a escolha tinha que ser feita primariamente por um motivo económico e no segundo a escolha era feita primariamente por preferência já que é possível ter uma vida razoável com as diferentes profissões. O que acontece é que quanto maior a liberdade de escolha menos mulheres vão para áreas de engenharia, economia, gestão e mais vão para educadoras de infância e enfermagem. O inverso acontece com os homens.
E a questão aqui é:
1) Será que a diferença está apenas na escolha? Aí se 80% dos engenheiros fossem homens essa proporção manter-se-ia sensivelmente estável ao longo dos diversos patamares de carreira e de salário.
2) Será que aqueles/aquelas que escolheram a área de trabalho limitados por factores económicos/sociais vão ser tão bons na sua área como aqueles que escolheram a profissão para que de facto se sentiam mais aptos? Aí se 80% dos engenheiros fossem homens essa percentagem podia ser assimétrica ao longo dos vários patamares de carreira e salário e isso seria uma questão de mérito.
É correcto dizer que 30% dos lugares de topo são para mulheres mesmo que apenas 10% das pessoas que trabalham na área sejam mulheres? É que isso tem a vertente oposta. Em breve teríamos que 95% dos enfermeiros eram mulheres mas que nos lugares de chefia 30% eram homens por causa das quotas. Ou teríamos que 99,9% dos educadores de infância eram mulheres mas que depois 30% das pessoas nos cargos de topo tinham que ser homens
3) E depois temos que se calhar muitas mulheres quando chegam a próximo dos 30 anos muitas vezes revêm as suas prioridades e optam por prestar mais atenção aos filhos e menos à carreira (e não digo isto como crítica, pelo contrário, sinceramente custa-me a perceber que muitos homens consigam dar prioridade à carreira em relação à família). Naturalmente que isto se vai reflectir. Cabe às empresas seleccionar por mérito. Se o estado quiser premiar essas mulheres (e com toda a razão, diga-se) não deve interferir no processo de escolha, mas atribuir por si benefícios às mesmas de forma directa como pagamento (licenças, possibilidade de redução de horário, beneficios fiscais, o que seja)
Há muitas mulheres que ligam muito à carreira. Curiosamente aquelas que conheci que mais ligavam são as mesmas que diziam não querer ter filhos. Depois há muitas que ligam muito mas que também querem ter filhos e que basicamente se esforçam tanto ou mais do que os homens mas depois decidem ter 2 ou 3 filhos, tiram o máximo de licenças possível (e com razão), são elas que faltam ao trabalho quando os filhos ficam doentes e entretanto têm 40-45 anos e todo o balanço profissional que levavam, que muitas vezes as colocava à frente dos homens (talvez em média até estariam à frente), foi perdido em 5-6-7 anos de actividade reduzida (entre gravidezes e licenças, tirando os 9 meses de licença que se podem tirar mais o tempo de férias que têm direito são 1,5 anos por filho, acrescente-se as baixas quando os filhos são pequenos e ficam doentes de mês a mês, mais a falta de tempo por serem elas que tomam conta dos filhos quando em casa o que é cansativo). Quando voltam já estão atrás, naturalmente, e muitas vezes as prioridades já são outras e portanto já não vão recuperar.
É justo colocar quotas para que estas mulheres que profissionalmente muitas vezes ficaram para trás (obviamente não sempre, mas também por isso a percentagem de mulheres em lugares de relevo não é zero mesmo na ausência de quotas, nem próxima de zero) passarem à frente de homens que, no final deste processo, têm mais a oferecer à empresa? É correcto por em causa a meritocracia para pagar um serviço à sociedade que nada tem a ver com o prémio que se está a dar? É no interesse da sociedade o resultado que isso terá sobre as empresas?
Em resumo, o estado interfere demais na meritocracia. Que se premeie as mães, mas de outro modo...