Estagflação = estagnação económica em clima de inflação
Estagdeflação = estagnação económica em clima de deflaçãoOlá a todo o mundo onde se fala português !!
Mais um ano a chegou ao fim, mais um novo ano que nos abraça e mais uma vez tempo para novas perspetivas sobre esta esfera financeira global, sempre em evolução.
As palavras acima foram de saudação há um ano atrás e agora repito-as, num simbolismo que convém deixar claro. Parte da análise colocada há 12 meses atrás ainda é válida agora.
2014 não foi o sim ou sopas da crise global (eis o link para a crónica do ano que passou:
viewtopic.php?f=3&t=82909&p=1083529&hilit=djovarius#p1083529), em vez disso, pode-se falar de "adiamento" e de novos episódios, mais confusão geo-política (desta vez nem tanto na esfera financeira) e, em vez de um arranque para uma forte recuperação global, assistimos a novos espaços de crise eminente e confrontação latente.
Eis, o que o mundo, incrédulo, assiste à chegada de 2015 !! Estamos agora mais à beira de fenómenos de deflação ao nível dos preços do consumidor na Europa, risco real de desinflação nos EUA e China, e um período de reinflação no Japão, estranhamente mergulhado em recessão. Estranhamente ? Talvez nem tanto... afinal, já tínhamos visto que as políticas de juro real zero ou negativo não só não resolveram qualquer crise económica, como vão adiando o eclodir de crises por mais tempo, levando à formação de bolhas atrás de bolhas. Mais liquidez iguala-se a mais combustível para bolhas especulativas. E se é verdade que já andamos nisto há cerca de 25 anos, também é verdade que os efeitos foram ficando mais "violentos" na esfera financeira Global. Não se trata mais de uma empresa, setor, país, região do mundo. Tudo o que acontece "lá", tem repercussões mais ou menos graves aqui.
Na última década, tivemos o sub-prime e a crise financeira dos PIIGS, mas, como sempre sucede, não foi o fim de um caminho, ou de um tempo. Pelo contrário, todas as crises, salvo honrosas exceções, em vez de resolvidas, foram sempre o prenúncio de novos acontecimentos, sempre surpreendentes.
O ano que findou foi testemunha disso mesmo. Com a ameaça de deflação em andamento e com o aumento quase generalizado dos programas de "expansão" monetária (os EUA estão já noutro ciclo, o do fim dos mesmos), seria de esperar, além da fuga para a qualidade (o que ocorreu mesmo) através da compra de títulos Soberanos das grandes Economias de confiança, uma espécie de fuga para a proteção. Com tamanha liquidez, seria de esperar um aumento dos preços de Ouro, Prata e Petróleo, entre outros ativos, a exemplo do que aconteceu nos tempos da bolha que culminou em 2008 - seria expectável algo semelhante, até porque o mundo continua mergulhado em extrema liquidez.
Em vez disso, chega 2015 com algo que contraria a teoria e a prática da política monetária. A liquidez está aí para durar, mas a grande fuga para a Renda fixa de menor ou maior risco, está a sinalizar algo mais preocupante: os mercados acreditam cada vez mais em estagnação não só do IPC como também do próprio PIB - dir-se-ìa neste contexto, caminhamos, sobretudo a Ocidente, para um gigantesco Japão. Nesse contexto, eu iria mais ao detalhe: teremos aqui um novo eixo Euro-nipónico, eixo de estagnação económica, social, cultural, moral, demográfica, só para citar alguns lugares comuns, mas essenciais.
Interessante verificar que, além dessa fuga para a renda fixa (os principais mercados acionistas seguem em alta por arrasto, numa espécie de arbitragem), verifica-se uma procura de alguns ativos norte-americanos, com novos máximos históricos ou vários índices ou setores. É o regresso do USD forte, não como política oficial, mas como resultado da nossa sempre referida "guerra cambial". Ao eliminar os programas QE (por motivos políticos, diga-se), os EUA perderam batalhas nessa guerra, vendo-se confrontados com uma apreciação do USD, que não vai agradar, a prazo, aos agentes económicos locais ou globais, com base naquele país. O que é facto é que os mesmos que há dez anos, à medida que o bear market do USD seguia o seu caminho, falavam do colapso da divisa (não eram só os "goldbugs"), são os mesmos que glorificam o regresso do "king dollar". Pessoalmente, nunca fui apologista de colapsos de certas divisas nem do seu oposto. É o mercado a funcionar como sempre. Não existem ativos "caros" ou "baratos". Só existe lei da oferta e procura, como sempre foi. E se o mercado crê que o dólar norte-americano deve se apreciar, isso é o que ocorre. Tentar racionalizar sobre se certo ativo está caro e deve inverter a tendência só existe porque a maioria dos "traders", ou mesmo dos investidores de portefolio, vive a sua própria bolha temporal, vestindo a camisola em relação ao ativo X ou Z. O mesmo se pode dizer em relação ao "casamento" com a ação A ou B. Essa relação só dá certo se o mercado estiver do lado do nosso próprio negócio. Caso contrário, devemos assumir o divórcio, sem mágoas. Um bom exemplo é o petróleo (crude): emocionalmente é muito fácil estar do lado curto neste ativo. Porque isso, no nosso imaginário, significa estar do lado de gasolina mais barata para os nossos veículos ou viagens de avião mais em conta. Acontece, porém, que não é isso que deve importar. A análise desse ativo deve ser fria, como de qualquer outro. (A propósito, há um ano fui apologista das quedas, mas nunca pensei que fossem tão expressivas). Pensamentos que ficam ao nos prepararmos para 2015.
Acima, referia fenómenos da esfera geo-política, que foram marcantes, e que deverão ser considerados na análise de risco para este ano novo.
Desde logo, na Europa de Leste, os desenvolvimentos da Ucrânia e as sanções à Russia são fatores que contrariam o estímulo à Economia de que tanto se fala.
A própria queda do preço do petróleo prejudica Rússia, Brasil, entre outros emergentes. No médio Oriente teremos menos "petrodólares" para investir em ativos financeiros do Ocidente, o que implica maior dependência dos programas dos Bancos Centrais. Outras tensões Regionais são importantes, mas destaco os problemas do Mediterrâneo para Leste, com uma mistura explosiva de "ISIS" e outros fanatismos. A outro nível, começam a surgir sinais que, politicamente, a Espanha não será (ainda) um problema e que outros PIIGS (e zona Euro em geral) conseguirão uma estabilidade dentro da instabilidade, com uma exceção chamada Grécia. É espantoso como, cinco anos depois, este pequeno país da Europa do Euro volta a acenar com os seus problemas internos. É mesmo disso que se trata: colocar-se em "bicos de pés" com a ilusão de que haverá uma salvação, seja por parte do BCE, ou troika ou Alemanha, etc... ao contrário, do que se pensa, a Grécia tornou-se irrelevante para o sistema, pois os credores (não o país) já estarão a salvo de um possível colapso, graças aos mecanismos que supostamente seriam a salvação do país. Nada mais errado. Se a Grécia quiser entrar numa fria e sair do EUR via calote ou por decisão política, terá de assumir as consequências da escolha. E quem diz que os "grandes" da Europa não gostariam desse cenário, até para mostrarem aos demais prevaricadores o que pode acontecer a quem pensa que o não cumprimento do que se promete é o melhor caminho !? Depois do experimentalismo da troika, não haverá quem goste de um experimentalismo pós-troika ?? Mais uma questão para resolver de vez em 2015, ou próximo...
E a sul ? Mais problemas em África com a queda do petróleo e outras "commodities" poderão retirar algo ao PIB global, mas mais sério pode ser no bloco Brasil / América Latina. Aqui, sim, há um risco de fuga de capital, como já ocorreu no passado. Por conta da alta do USD e da consequente fuga de investimentos, a que se soma a deflação das matéria primas. Mais uma ajuda à recessão global. Ou ao fraco crescimento, se preferirem.
O bloco liderado pelos EUA, terá muitas dificuldades em sustentar o crescimento do ano que findou. Teremos seguramente que abordar a questão dos EUA com um maior cuidado. Pode dar-se o caso da Reserva Federal (FED) nem sequer começar já a elevar os juros básicos. O mercado acredita em alta para meados do ano, mas, havendo desinflação de preços e de ativos, seguramente haverá margem para deixar os juros como estão, tentando não antecipar um novo ciclo mais complexo. A ter em atenção.
De volta à região Ásia-Pacífico: este é um palco principal, digamos, da guerra cambial, como veremos num dos gráficos abaixo. A política de extrema liquidez em Tóquio (quem pensava que a renda fixa nipónica já não tinha margem de valorização equivocou-se) não só baixou ainda mais os "yields" dos papéis do Tesouro, com alcançou o objetivo de trazer competitividade cambial. Não só o JPY se depreciou vis-à-vis USD e EUR, como também caiu fortemente face aos vizinhos asiáticos, incluindo-se a China. Nesse contexto, um sucesso. No que diz respeito a resultados práticos, um fracasso, pois o Japão reentrou em recessão clara. Isto é o sinal mais claro para 2015 e que levanta questões óbvias: os EUA clamam vitória graças, em parte, aos programas QE. Os Japoneses, com os mesmos programas, não saem da cepa torta. Que aconteceria na Europa em caso de implementação de tais programas de estímulo ? A minha opinião, já a deixei em cima, a de uma realidade Euro-nipónica, mas não sou eu que conto nada para a realidade dos factos. Há uma corrente, mais germanófila, que despreza o efeito prático destes programas, dando de barato que estão condenados ao fracasso, porque nada daquilo vai longe sem reformas estruturais. Outra corrente tenta "aproximar" a Europa do modelo Americano (semelhanças culturais??), afirmando que, com o estímulo certo, poderá haver liquidez para relançar a Europa, com mais crescimento e emprego, o que inevitavelmente trará resultantes tão bons quanto os dos EUA. Neste caso, confesso um certo ceticismo em relação a ambas. Há semelhanças, para o bem e para o mal, com estes grandes parceiros, a Ocidente e a Oriente, pelo que o cenário mais provável seria uma espécie de meio caminho entre o sucesso e o fracasso. Tudo isto causa angústia, desconfiança e aversão ao risco, sobretudo depois de anos de sentimento positivo pós-Lehman Brothers. E leva a que estejamos particularmente atentos à China, à Índia e ao Hemisfério Sul. Qualquer sinal de fraqueza que se revele a nível regional e posteriormente global pode trazer outra grave crise em cima de uma crise ainda mal curada. Todos sabem o que custa uma gripe na sequela de uma primeira gripe. Tende a ser bem pior.
Depois, temos outras visões, claramente mais otimistas: os mercados têm vindo a subir e a sinalizar força para mais subidas, nem que seja por conta da extrema liquidez. E neste ano terminado em cinco (2015), poderemos manter a tradição de muitas décadas, ou seja, anos terminados em cinco, são anos positivos, de maior otimismo e são até anos de arranque para ganhos. Na verdade, se pensar apenas nos mercados acionistas, consigo recordar o que se passou no pós 1985, ou a seguir a 1995 ou até a 2005 - foram tempos de medo, mas sobretudo tempos onde o sentido positivo foi mais forte do que o negativo, apesar dos perigos e das dúvidas. Hoje estamos num patamar de maior risco, mas nada que impeça a manutenção desta tradição. E se no ano passado ainda tivemos o JPY como "canário da mina" para nos mostrar o caminho da liquidez, receio que este ano, surja um "surto" de volatilidade na maioria dos ativos importantes, sinalizando estas forças em conflito.
Posto isto, avancemos sem mais delongas, para gráficos mais do que importantes no contexto da esfera financeira global.