Governo chama a si negociações com emigrantes lesados do BESAssociação de emigrantes lesados garante existirem sinais de intervenção do Governo com vista a negociação futura, à semelhança do entendimento já alcançado com os lesados do papel comercial.
O Executivo poderá vir a envolver-se na busca de uma solução para emigrantes lesados do BES que não aceitaram a proposta do Novo Banco de transformação de capital em obrigações. À semelhança dos lesados do papel comercial, a expectativa da Associação Movimento dos Emigrantes Lesados Portugueses (AMELP) é a de que o Governo de António Costa vai também empenhar-se numa solução com vista ao reembolso das poupanças dos emigrantes, investidas e subscritas como meros depósitos a prazo aos balcões do BES. O presidente da associação fala em sinais com vista a negociações futuras e alerta que, caso não se concretizem, vão ser organizadas novas manifestações, incluindo no 10 de Junho que este ano será comemorado em Paris.
“Temos a indicação de que há uma boa intenção do governo com vista a futura negociação com os emigrantes lesados do BES que depositaram dinheiro em aplicações vendidas, como depósitos a prazo garantidos em capital e juros”, revelou ao Económico Manuel Marques, presidente da AMELP. Este responsável aposta na receptividade do Executivo de António Costa para resolver o problema de 1.600 emigrantes que querem reaver 180 milhões de euros. E sustenta: “o primeiro-ministro quer a estabilidade do sector financeiro e tal só pode ser conseguido se for resolvido o problema dos emigrantes”.
Este responsável adianta que os sinais com vista a uma solução dos emigrantes lesados partiram, nas últimas três semanas, do Parlamento e visam um entendimento à semelhança do alcançado, na quarta-feira passada, para resolver o problema dos lesados do BES que compraram papel comercial.
“Temos mantido contactos com o PS, BE, PCP e PSD”, avança Manuel Marques, escusando-se avançar outro tipo de contactos e a especificar as indicações que efectivamente foram dadas à AMELP no sentido de um envolvimento do Governo e António Costa numa solução aos emigrantes lesados que não aderiram à solução apresentada, no ano passado, pelo Novo Banco e que passa pela transformação do capital investido em obrigações. Nesta situação, estão cerca de 1.600 emigrantes num total de 8.000 clientes emigrantes com aplicações no valor global de 732 milhões de euros.
Segundo Manuel Marques,
estão em causa entre 150 milhões a 180 milhões de euros, aplicados pelos emigrantes que não aceitaram a solução do Novo Banco, os quais, diz, “não estão dispostos a assumir qualquer perda” e pretendem um acordo que passe por um depósito do dinheiro com um prazo máximo de quatro anos. “O Novo Banco até pode liquidar desde já esta dívida. Até seria preferível dado que o banco pode financiar-se, actualmente, junto do BCE com uma taxa zero por cento”, acrescenta o presidente da AMELP.
Executivo acusado de discriminação política
Manuel Marques sublinha que os portugueses residentes no estrangeiro se sentem esquecidos porque o caso dos lesados do papel comercial está a ser tratado de forma “discriminatória”, já que o recente memorando de entendimento - assinado esta semana com as partes envolvidas na busca de uma solução para os lesados do papel comercial do BES – não abrange os emigrantes lesados. “Aguardamos que o Governo tenha a mesma sensibilidade”, remata o presidente da AMELP, criticando a “discriminação política” neste processo.
Este responsável dá conta que caso não surjam os sinais do Governo com vista a uma futura negociação com a CMVM e o Banco de Portugal, “os emigrantes irão para a rua”. Destaca aqui a organização de manifestações no 10 de Junho em Paris e também antes desta data.
A AMELP, registada a 2 de Fevereiro, vai ser apresentada oficialmente este sábado, em Gentilly, na região de Paris, na presença dos advogados da associação, que conta já com cerca de 300 associados. A AMELP nasceu da vontade de "oficializar o MEL [Movimento dos Emigrantes Lesados do BES/Novo Banco]" que no ano passado organizou manifestações em Paris para reclamar a devolução das poupanças dos portugueses residentes no estrangeiro. A AMELP é uma entidade diferente da AIEPC (Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial) na medida em que, diz o seu presidente, defende os emigrantes, os quais nunca compraram papel comercial, títulos de dívida de curto prazo emitidos pelo GES mas sim
depositaram dinheiro em aplicações do BES vendidas sem qualquer ficha técnica e como depósitos a prazo garantidos em capital e juros na maturidade e capital garantido em caso de resgate antecipado.
A proposta do Novo Banco
No início de Outubro do ano passado, o Novo Banco anunciou que 80% dos clientes emigrantes lesados, que subscreveram séries comerciais sobre acções preferenciais vendidas pelo BES, tinham aceite os termos do acordo por si propostos, relativamente aos veículos Poupança Plus, Top Renda e EuroAforro 8.
A instituição saída da resolução do BES informou que a 12 de Janeiro teria início a votação da alteração de estatutos destes veículos, “alteração essa que permitirá o exercício da opção de liquidação em espécie das acções preferenciais”. Na altura, o Novo Banco referiu que a primeira fase deste processo prevê transferir para o cliente "o património do veículo, na proporção das acções preferenciais de que o mesmo é titular", e que recebeu "instruções de voto que asseguram a maioria necessária para deliberar a alteração dos estatutos de cada um dos veículos".
A proposta comercial do Novo Banco fixou a assinatura prévia dos clientes para que o Novo Banco e o Credit Suisse pudessem anular os veículos financeiros para possibilitar dar seguimento à proposta que garante pelo menos 60% do capital investido, e liquidez se essa for a opção, assim como um depósito anual crescente a seis anos, que prevê recuperar no mínimo 90% do capital investido.
http://economico.sapo.pt/noticias/gover ... 46095.htmlÉ a vez dos lesados emigrantes que não aceitaram o acordo com o NB. Estou a ver que os obrigacionistas séniores vão ser mesmo os últimos a receber (e já nem falo dos pequenos accionistas).