Boas tardes e ótima semana,
Desta feita não posso acompanhar o nosso amigo Ulisses. Com um ratio dívida/PIB de 130% (que será maior pelas novas regras de cálculo da UE, o que é bom pois reflete a realidade da dívida da esfera pública), a crise da dívida pública é para continuar por muitos anos.
A diferença é que temos agora um "Draghi put" (ou pelo menos a garantia de tal coisa em caso de IPC muito baixo) que leva a que os capitais se sintam seguros em títulos que dantes não interessavam.
É claro que há um alívio: imaginem o que seria um juro médio de 4% em toda uma dívida como a nossa... dá mais de 5% do PIB em juros !!!
Mas se o juro médio for de 2% ao ano, nem chega a 3% do PIB ... falamos de poupança anual superior a 3 mil milhões, ou seja, poderemos ter défices anuais inferiores aos tais míticos 3% do PIB, caso tenhamos um saldo primário de zero, situação agora que podemos atingir, devido às medidas que todos conhecemos.
Mas... a dívida continua lá... e não me parece que possa baixar significativamente sem destruir o que resta da Economia.
Por isso é que apoio completamente o Geneva Special Report 3 - mas isso é outra discussão!!
No entanto, há um parágrafo muito bom e com o qual todos devemos concordar, Ulisses:
"Passámos do inferno ao céu em pouco tempo. Se as coisas correrem mal, espero que os políticos portugueses não voltem a atacar os mercados, os especuladores. Já repararam que agora ninguém diz mal dos mercados? Os mercados são a melhor coisa do mundo quando estão do nosso lado. É como quando temos o vento pelas costas numa corrida. Apanhá-lo de frente custa. Mas é por causa do vento que perdemos a corrida ou porque treinámos menos que os outros?"
Quando as coisas estavam em modo colapsante, havia a mania, desde a extrema esquerda até quase ao centro direita, de se afirmar solenemente que estávamos a sofrer um grande "ataque especulativo" e que, assim sendo, precisávamos de ajuda contra os temíveis especuladores.
Eis a prova do desconhecimento dos mercados. Quer dizer, não sabem como funcionam ou não desejam saber ou ainda preferem este tipo de argumento para entreter o Zé pagode.
Quem tiver noção das coisas, sabe muito bem que é exatamente o oposto que sucede.
Não sofremos ataque algum: os investidores, sérios, limitaram-se a largar os papéis portugueses (entre outros) por não terem confiança no desempenho da Economia e na capacidade de financiar o défice e de rolar a dívida. E quando chegámos ao nível de lixo, muitos investidores nem sequer poderiam manter esses títulos em carteira devido à natureza segura da mesma. Repito: muitos Fundos não "podem" ter títulos tipo B- e muito menos tipo C ou D (default).
A verdade é outra: quando os juros andaram em "peak", quem entrou foram os especuladores, os tais que entram e saem à velocidade da luz. Especulavam por conta de um ambiente favorável proporcionado pelo BCE, ou porque acreditavam que os juros não subiriam mais (seja, os títulos não cairiam mais). Aí sim, um momento de especuladores.
E a quem vão eles vender, agora com elevados lucros ?
Exatamente aos "bons" investidores, que entretanto irão regressando e até ao BCE se houver mesmo um programa de compra desses títulos em tudo semelhante aos programas Americano e Japonês.
Assim, é possível que os juros caiam ou estabilizem, o que traz um grande alívio a todos, nem que seja no curto e no médio prazo.
Mas nunca se pode falar em fim da crise da dívida pública nem tampouco de uma série de grandes questões a ela associadas, como, por exemplo, os problemas da Banca.
E por aqui ficamos nesta tarde cheia de Sol
Abraço
dj