Viandeiro Escreveu:E, para criar, ainda estou convicto de que há poucas coisas piores do que as instituições.
Concordo. Há algumas coisas piores, os pais e mães muito maus. Porque para ser pai e mãe biológico não é preciso ser avaliado por ninguém, enquanto para ser adoptante é.
Uma curiosidade sobre isto. Nos últimos anos tive duas filhas e espantou-me todo o dispositivo de segurança e apoio montado no hospital, para aqueles primeiros dois dias. Espantou-me positivamente. O apoio aos cuidados com os bebés é genericamente muito positivo. As regras de segurança para impedir raptos e acidentes são bem pensadas. Isto no Hospital de São João, no Porto, nos outros não sei. Depois, o centro de saúde da área de residência até telefona aos pais para saber se estão planeados o teste do pezinho e as primeiras vacinas - no meu caso, ainda nem sequer estávamos inscritos naquele centro de saúde, mas o próprio hospital enviou os dados para a área de residência. Magnífico.
(Pontos negativos, porém: um desprezo crónico pelo pai. As enfermeiras falam com a mãe e raramente olham para a cara do pai. No boletim de saúde até só escrevem o nome da mãe, num autocolante que ocupa o espaço para o nome da mãe e do pai. Tive de acrescentar eu próprio o meu nome, senão eram filhas de pai incógnito.)
Mas depois... nunca mais querem saber de nada. Por mim não me importei porque sou uma pessoa responsável e informada. Mas pensei que se estivesse a tratar mal o bebé, ninguém poderia saber de nada. Coisa que nunca aconteceria caso a criança fosse adoptada, julgo eu.
O Estado considera que os pais biológicos estão automaticamente aptos a tratar das suas crianças. Por mim agradeço porque assim não me chatearam. Mas quando penso em crianças que podem estar a ser maltratadas pelos pais, preferia que me chateassem com alguma regularidade.
Nunca vi as pessoas que se afirmam contra a adopção por homossexuais chamarem a atenção para a falta de acompanhamento das crianças com pais biológicos potencialmente problemáticos. Porque a preocupação destas pessoas não é a que afirmam, não é o bem-estar das crianças. A preocupação destas pessoas é unicamente negar aos homossexuais os mesmos direitos que têm os heterossexuais. Por isso fecham os olhos para não lerem o que diz a ciência, preferindo mergulhar na sua própria ignorância e no preconceito (sinónimos). Para legitimar esta ignorância, contam com o beneplácito de uma instituição demasiado poderosa, demasiado influente, demasiado retrógrada, que procura insistentemente impor a sua moral distorcida ao mundo cá fora. A única instituição em Portugal que pode desrespeitar continuamente a Constituição e mesmo assim colocar os seus representantes ao lado do Chefe de Estado em cerimónias oficiais.