Re: Troca Divida - Bom ou mau para os Contribuintes?

K. Escreveu:QuimPorta Escreveu:K. Escreveu:Não sei se está. Durante os anos de 2011/2012 houve a possibilidade de recomprar dívida bem abaixo do par (cheguei a abrir um tópico neste fórum sobre o assunto) o que teria resultado numa redução da dívida que teria compensado os défices desses anos.
K. , precisamente na sequência do teu tópico, (a que chamo "o ovo de Colombo") pedi esclarecimentos a um responsável de um dos bancos que detém dívida Portuguesa.
Foi-me dito que a recompra de dívida pelos Estados em mercado secundário está regulamentada e não pode ser feita por Portugal nas actuais circunstâncias. Podes confirmar isso?
Abraço
Não faz sentido. Mesmo que o secundário estivesse interdito seria possível ao IGCP fazer recompras através de ofertas, como sempre fez (aliás esta última operação inclui uma recompra). A Grécia fez recompras no mercado secundário. O problema é que executou mal o programa, em vez de comprar as maturidades mais curtas comprou as mais longas (porque estavam a descontos maiores), o que acentuou ainda mais a inversão dos yields e acelerou o default. Penso que foi isso que levou o Vitor Gaspar a desenvolver com a Troika um mecanismo que tivesse como prioridade a normalização da curva dos yields, o que de resto funcionou muito bem e evitou um default.
É possível que tenha sido feito um acordo relativamente secreto com a Troika para não haver recompras abaixo do par durante o programa de ajudas, para evitar distorções do mercado (a liquidez era muito baixa) e colapsos no mercado de CDS. Por outro lado o BCE comprou bastante dívida portuguesa abaixo do par, e o governo português deveria fazer pressão para comprar essa dívida ao BCE antes que mature, pois tal cedência não implica monetização por parte do BCE.
A gestão da situação é extremamente delicada, manobras de engenharia financeira para redução da dívida podem afectar a credibilidade da gestão do tesouro. Acredito que a opção que sugeri tenha sido considerada, mas provavelmente concluiram que a redução do montante da dívida em si não era prioridade, pois com as manobras do BCE no último ano, se os yields de Portugal forem para os níveis da Irlanda, os encargos com a dívida a 130% regressam ao nível da década passada, o que permite manter os défices sobre controle.
Por outro lado, a dívida elevada funciona como uma pressão sobre os países do sul reduzirem os custos de trabalho, o que parece ser o objectivo implícito nestas negociações.
Ainda agora o Estado pode recomprar a sua dívida abaixo do PAR, alias suponho que praticamente todas as emissões feitas nestes últimos anos tem sido sempre abaixo do PAR....
O que não falta no mercado são títulos da divida publica portuguesa a negociar abaixo do PAR
Agora há uma coisa que ainda não atingi na tua ideia, é como é que o estado conseguia ganhar dinheiro fazendo recompra da sua dívida no mercado.
Parece-me que te está a escapar aí qualquer coisa.
Isso de almoços grátis não é por aqui.
Não te esqueças que a operação só seria rentável se a recompra ( extinção das obrigações) fosse feita a um preço tal que o ganho potencial com essa operação fosse superior ao custo do financiamento da mesma.
Convenhamos que o estado não tem propriamente um cofre cheio de notas para ir às compras. Alguém lhe teria de emprestar.
Depois também não te esqueças que uma operação dessas para ter algum significado implicaria compras avultadas em mercado secundário o que por si só faria subir o preço das obrigações eliminando-se a potencial vantagem.
No fundo estaríamos aqui numa típica operação de arbitragem a tentar explorar momentâneas ineficiências do mercado.
Mas a esta escala não há operação de arbitragem que funcionasse
Claro que ainda se podia por a hipótese de utilizar o dinheiro da Troika para fazer tal operação, afinal até tem um juro simpático...
Não sei se haveria aí alguma restrição legal.
Mas uma coisa sei, é que o dinheiro tem vindo às mijinhas exactamente para ir fazendo face aos compromissos financeiros do país, nomeadamente as amortizações de divida que se vence o que significa que não fica nenhuma sobra para ir às ditas compras.
Ou seja também por aqui não me parecia haver qualquer margem de actuação.
De qualquer forma voltamos sempre ao problema inicial.