Um dia descobri, junto às “línguas de sogra”, uma planta diferente que se tinha desenvolvido e crescido de forma autónoma. Nunca soube como lá foi parar e o que a levou a crescer naquele local tão adverso.
Tempos depois, descobri umas pequenas esferas que se tinham instalado nas flores, como pérolas de orvalho à espera que o sol as diluísse.
Isso nunca aconteceu. Pelo contrário. As esferas transformaram-se em pequenos seres que rapidamente tomaram conta de toda a planta e, alimentando-se das suas folhas, rapidamente cresceram, transformando-se em gordas e bonitas lagartas, mas cujas cores deveriam constituir um aviso a potenciais predadores. Toda a planta é devorada, ficando apenas os galhos.
Passados poucos dias, reparei que as lagartas, bem desenvolvidas, se afastavam da planta, à procura de outros destinos (talvez o seu) que ultrapassava o local onde tinham nascido. Encontravam, não sei como, o local certo e ali ficavam, estranhamente quietas e desenvolvendo uma névoa de seda à volta da boca que as segurava à superfície sólida. Em muito pouco tempo (horas) as lagartas, como eu as tinha conhecido, desapareciam e davam lugar a uma pedra preciosa que se tornava cada vez mais brilhante à medida que o tempo passava. Um círculo de estrelas amarelas, cada vez mais brilhantes, coroava o topo daquele refúgio onde se dava uma transformação extraordinária.
Dura sempre pouco tempo (pelas nossas medidas, claro). A certa altura, a estranha formação torna-se castanha e rompe-se pela base. A pouco e pouco, uma nova (ou renovada?) vida liberta-se da sua prisão de metamorfose e abre-se ao sol para secar as asas.
Uma borboleta Monarca saúda a luz que a ilumina e pouco depois liberta-se de vez e parte... sabe-se lá para onde...
Com os dias, a “minha” planta recupera totalmente. Novas folhas crescem e as flores explodem numa sinfonia silenciosa, como que num mudo chamamento pelas outras flores, estas voadoras, que as habitam para prolongar a vida. E tudo recomeça, vezes sem conta, o tempo o permita.
Sinto-me um privilegiado por ter, em minha casa, no meu quintal, uma planta que alimenta a força da vida das borboletas Monarca.
Gostava que vocês participassem nesta demonstração da força da Terra para sobreviver.
Deixo alguns dados para perceberem melhor o que se passa:
um exemplo bastante interessante e complexo de interacção planta-animal é o caso da borboleta Monarca (Danaus plexippus) que se alimenta de várias espécies da família da falsa erva-de-rato (Asclepiadaceae). A
Asclepia curassavica, por exemplo, é conhecida por causar vómitos e ataques cardíacos súbitos, sendo responsável pela morte de muitos animais em fazendas. A larva da borboleta Monarca consegue alimentar-se da planta e é imune aos efeitos desses glicosídeos cardíacos. Ela armazena-os nos seus tecidos. Após a fase de pupa (aquela pedra preciosa verde), as borboletas adultas voam e seu corpo retém as toxinas, inclusive nas asas.
Ao serem comidas por seu predador – a gralha
Cyanocitta cristata – as borboletas provocam vómitos violentos. Acontece até, às vezes, serem expelidas pelo pássaro e conseguirem levantar voo após recuperarem. Depois de um susto desses, o pássaro não procura mais essas borboletas que ele reconhece facilmente devido às cores fortes e brilhantes de suas asas. Insectos que acumulam toxinas no seu corpo e as usam como defesa não precisam de se camuflar e podem ser até bem evidentes, o que facilita o reconhecimento pelo predador de que são perigosos.
Carrega em F5 e terás uma surpresa...
Nota: embora em jeito de história é tudo verdadeiro.
Gostaram?