
paulop2009 Escreveu:Aqui fica uma perspectiva diferente e disruptiva sobre estas campanhas do Banco Alimentar. É que, feitas as contas, elas não são assim tão "fundamentais" pois valem apenas 10% do bolo que o Banco Alimentar distribui.
As declarações (muito infelizes) da Isabel Jonet sobre "os bifes" levaram a que se fizesse contas àquilo que verdadeiramente alimenta o banco alimentar: uma excelente cadeia logística de aproveitamento de "sobras".
http://bancocorrido.blogspot.com/2012/11/o-core-business-do-banco-alimentar-e.htmlO core business do Banco Alimentar é evitar que se deteriorem os bifes que não comemos enquanto a carne é fresca
Em 2011 as campanhas de recolha em supermercados contribuiram apenas com 10% do valor dos produtos recolhidos pelo Banco Alimentar de Lisboa. A indústria agro-alimentar, reciclando os seus excedentes, doou 43%. A reciclagem de excedentes da UE contribuiu com 22%. O Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (de novo, os excedentes) doou 11%. As retiradas de fruta pelo IFAP (ainda os excedentes) renderam 6%. Ou seja, ao todo, o escoamento de excedentes correspondeu a 82% do valor dos produtos distribuídos.
O Banco Alimentar precisa das campanhas de recolha em supermercados por boas razões de marketing e ao fazê-lo mantém ocupados os escuteiros e toda a rede de voluntários ligada à Igreja Católica, que enquanto estão à porta dos supermercados a estender-nos os saquinhos estão a contribuir à sua maneira para o bem comum e a ajudar-nos a - como em todos os actos de caridade - aliviar as consciências sem resolver nenhum problema estrutural.
Espero que sejam bem-aventurados os que contribuem nestas campanhas (eu costumo contribuir), mas não tenhams dúvidas de que core business do Banco Alimentar não é a nossa caridade, é evitar o escândalo da destruição de produtos alimentares no nosso país e na nossa Europa. É evitar que se deteriorem os bifes que não comemos enquanto a carne é fresca.
O Banco Alimentar faz de uma forma sofisticada e elegante o interface entre a oferta e a procura de alimentos que encontramos por vezes, de forma repugnante e brutal, à porta dos supermercados ou nos caixotes do lixo das nossas ruas.
Este tipo de instituições ocupa um lugar importante dado que, se parasse, simplesmente seriam destruídos mais alimentos e haveria mais alimentos à porta dos supermercados e no lixo com prejuízo para todos. A senhora Jonet dedica-se essencialmente à gestão de uma estrutura logística sem fins lucrativos de reciclagem das ineficiências da produção e da distribuição alimentar. O que comanda a sua actividade é a oferta (a disponibilidade) e não a procura (a necessidade).
Por isso, pessoalmente pouco me importa o que a senhora Jonet pensa da pobreza desde que gira a sua plataforma logística de modo a que os produtos sejam utilizados e distribuídos com equidade, mesmo se vão cair predominantemente numa rede confessional de distribuição. Mais vale a distribuição imperfeita do que a destruição perfeita.
Compreendo a irritação dos que se fartaram de enaltecer a senhora como campeã que nunca foi da luta contra a pobreza e penso que deveria arrepender-se os que acharam que a sua acção era promotora dos direitos humanos. Mereceria um prémio de São Vicente de Paula, mas uma distinção por direitos humanos da Assembleia da República? Que Deus ilumine melhor no futuro o juízo das senhoras e senhores deputados.
Os que endeusaram a senhora e o Banco Alimentar sentem-se agora enganados. Mas o engano era deles e se a Senhora Jonet é uma gestora eficiente desta logística não a substituam por uma ineficiente. Podem não querer dar para o Banco Alimentar este ano, mas esse é um assunto entre vós e as vossas boas consciências, que pouco beliscará a acção do Banco.
Por mim, prefiro dedicar a minha energia a perguntar-me o que posso fazer para que diminua este tipo de procura de bens alimentares enquanto a senhora Jonet escoa a oferta.
Acho bem que alguém apresente estas "contas", que de resto são públicas o que já por si é um sinal claro de transparência.
Acho tb alguma piada a crónica pq parece que quase culpa a Isable Jonet pelo fato de existirem excedentes, e que se o BA não existisse possivelmente iam... para o lixo, o que é ao que parece muito melhor depois de ler o texto.
É tb interessante dizer que "prefiro dedicar a minha energia a perguntar-me o que posso fazer para que diminua este tipo de procura de bens", mas se o raça da natureza assim de repente permite um excesso de fruta, o que se faz com ela? Ou de peixe? Ou de outro bem alimentar?
É que por muito que se faça para minimizar a procura de bens, excedentes existem sempre e sendo assim o que fazer?
Ps - E já agora onde gasta o autor a sua energia?