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O general Pires Veloso, um dos protagonistas do 25 de Novembro de 1975, sublinhou hoje a importância do Norte no desfecho daquele sobressalto militar que pôs fim ao chamado Processo Revolucionário Em Curso (PREC) pós 25 de Abril.
Nesse dia, o país esteve a um fio da guerra civil, com as forças ditas "revolucionárias", a Sul, e as "moderadas", a Norte, preparadas para o pior.
A data culminava o chamado “Verão Quente” de 1975, marcado por confrontos, destruição de sedes partidárias e manifestações civis e militares que criavam uma sensação generalizada de anarquia.
A 11 de março daquele ano, uma tentativa falhada de golpe de Estado agravou o estado das coisas, aumentando as divergências no seio das próprias Forças Armadas.
A 25 de novembro de 1975, a divisão nacional atingira o seu auge, não só em termos ideológicos mas também geográficos, com uma fronteira algures em Rio Maior entre o Norte “conservador” e “moderado” e o Sul “revolucionário”.
Pires Veloso, na altura comandante da Região Militar Norte, mobilizou as suas tropas no apoio aos “moderados”, disponibilizando-se mesmo a acolher no Porto um governo provisório.
Em entrevista à Lusa, este general, atualmente com 86 anos, acusa o PCP, “ligado à União Soviética”, de “desenvolver um sentimento de medo na sociedade portuguesa”.
“Por todo o país, os acontecimentos mais estranhos tinham lugar diariamente: Militantes fardados desfilavam nas manifestações dos Soldados Unidos Vencerão [SUV], as forças policiais e militarizadas viviam no limite da inoperância, os professores universitários e empresários fugiam para o estrangeiro, sucediam-se ocupações de casas, montavam-se barricadas nas estradas…”, recordou.
O ano foi correndo até se chegar ao 25 de novembro, dia em que “talvez milhares de comunistas aguardavam armas que lhes haviam de ser entregues para começarem uma guerra que tinham a certeza de que ganhariam, como me disse Zita Seabra”.
Mas, recordou, no último momento, o líder comunista, Álvaro Cunhal, mandou-os desmobilizar, “talvez porque o general Costa Gomes [Presidente da República] o advertiu de que se tratava de uma guerra perdida, porque no Norte havia uma força militar disciplinada” que se oporia a qualquer investida.
Essa força estava sob as ordens de Pires Veloso, que, para as disciplinar, havia tomado um conjunto de medidas como a recolha dos oficiais aos quartéis, obrigando-os a abandonar os cargos em empresas públicas, na televisão e na rádio.
Pires Veloso garante que “naquele dia, o comando da Região Militar do Norte tinha a situação totalmente sob controlo”.
Ao Norte chegam, ao longo do dia e da noite, notícias dos acontecimentos em Lisboa: Palácio de S. Bento e Assembleia da República cercados, Governo em greve, barricadas nos acessos à capital e ocupação de várias bases militares.
Face a uma Lisboa em caos, Pires Veloso sublinhou o papel do Norte coeso em torno de uma estrutura militar disciplinada que deixou claro não aceitar um alastrar do conflito.
A dada altura, Pires Veloso recorda ter recebido a informação de que os fuzileiros de Vale de Zebro foram aliciados para atacarem para a base de Cortegaça.
“Liguei ao comandante marítimo do Norte e avisei-o de que vários aviões se encontravam já carregados de bombas para afundarem qualquer navio que passasse o paralelo de Peniche. E proibi que qualquer navio de guerra do Norte saísse do porto de Leixões”, garantiu.
O general reafirmou as críticas que no passado dirigiu a Ramalho Eanes, considerando que este militar, mais tarde Presidente da República, não teve no 25 de Novembro o papel que mais tarde lhe foi atribuído.
Pires Veloso recorda que o peso político da Região Militar Norte se devia também ao papel cívico que desenvolveu naquele período, apoiando as forças policiais na manutenção da ordem pública – nomeadamente distribuindo armas aos agentes – e oferecendo terrenos e edifícios para instituições culturais e universitárias – as instalações da Universidade do Minho foram oferecidas por aquela estrutura militar.
O general lamenta que o papel do Norte no processo não seja devidamente valorizado na memória histórica do 25 de Novembro, mas diz acreditar que os historiadores ainda o virão a fazer.