
Greve é assunto de uma pequena minoria
Henrique Monteiro (www.expresso.pt)
Segunda feira, 26 de novembro de 2012
Se fosse necessária uma prova em como o debate político e sindical está moribundo em Portugal, bastaria ver a reação (ou ausência dela) que teve uma notícia de primeira página do Expresso há mais de uma semana. Dizia 'apenas' que 80% dos portugueses nunca fizeram greve.
Os resultados são de um estudo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que não é um coio de reacionários antigrevistas (pelo contrário, o autor, António Dornelas, foi consultor de Jorge Sampaio e trabalhou para a UGT), e a peça jornalística assinada por um dos mais consistentes jornalistas portugueses e profundo conhecedor do movimento sindical - José Pedro Castanheira (ele próprio ex-presidente de uma direção do Sindicato dos Jornalistas, à qual tive a honra de pertencer). Hesitei em escrever isto, porque sou de uma geração de jornalistas que não passa a vida a elogiar-se e a citar-se uns aos outros. Mas ultrapassei essa hesitação pela importância que estes números me pareceram ter.
É claro que para conhecermos as motivações de cada trabalhador são necessários mais estudos. Uma coisa são factos - e o que Castanheira escreveu é um facto resultante de um estudo - e outra são as motivações. Por que motivo tão pouca gente faz greve? Não crê nos resultados? Não concorda com as convocatórias? Tem medo de ser despedida? Trabalha de forma precária?
Porém, independentemente das motivações, uma coisa é certa: Menos de 20% dos trabalhadores param o país, como se tem visto nas greves gerais (o estudo fica em 2010, e embora as últimas greves possam ter mobilizado mais gente, os dados não terão sido, com certeza, radicalmente alterados). Como aqui escrevi aquando da última greve geral de 14 de novembro, não é só o Estado que precisa de ser repensado. Os mecanismos tradicionais de contestação e de redistribuição de rendimentos também devem ser debatidos. Sob pena de estarmos a beneficiar sempre os memos - aos tais 20 por cento, entre os quais há aquelas ínfimas minorias, como maquinistas da CP, pilotos da TAP ou estivadores que conseguem ainda mais direitos e regalias, independentemente de sua justeza, apenas porque conseguem paralisar ainda mais o país.
Henrique Monteiro (www.expresso.pt)
Segunda feira, 26 de novembro de 2012
Se fosse necessária uma prova em como o debate político e sindical está moribundo em Portugal, bastaria ver a reação (ou ausência dela) que teve uma notícia de primeira página do Expresso há mais de uma semana. Dizia 'apenas' que 80% dos portugueses nunca fizeram greve.
Os resultados são de um estudo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que não é um coio de reacionários antigrevistas (pelo contrário, o autor, António Dornelas, foi consultor de Jorge Sampaio e trabalhou para a UGT), e a peça jornalística assinada por um dos mais consistentes jornalistas portugueses e profundo conhecedor do movimento sindical - José Pedro Castanheira (ele próprio ex-presidente de uma direção do Sindicato dos Jornalistas, à qual tive a honra de pertencer). Hesitei em escrever isto, porque sou de uma geração de jornalistas que não passa a vida a elogiar-se e a citar-se uns aos outros. Mas ultrapassei essa hesitação pela importância que estes números me pareceram ter.
É claro que para conhecermos as motivações de cada trabalhador são necessários mais estudos. Uma coisa são factos - e o que Castanheira escreveu é um facto resultante de um estudo - e outra são as motivações. Por que motivo tão pouca gente faz greve? Não crê nos resultados? Não concorda com as convocatórias? Tem medo de ser despedida? Trabalha de forma precária?
Porém, independentemente das motivações, uma coisa é certa: Menos de 20% dos trabalhadores param o país, como se tem visto nas greves gerais (o estudo fica em 2010, e embora as últimas greves possam ter mobilizado mais gente, os dados não terão sido, com certeza, radicalmente alterados). Como aqui escrevi aquando da última greve geral de 14 de novembro, não é só o Estado que precisa de ser repensado. Os mecanismos tradicionais de contestação e de redistribuição de rendimentos também devem ser debatidos. Sob pena de estarmos a beneficiar sempre os memos - aos tais 20 por cento, entre os quais há aquelas ínfimas minorias, como maquinistas da CP, pilotos da TAP ou estivadores que conseguem ainda mais direitos e regalias, independentemente de sua justeza, apenas porque conseguem paralisar ainda mais o país.