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Relações tensas com Angola
02 Dezembro 2012, 23:30 por Luís Todo Bom |
in Jornal de Negócios
Se Angola suspendesse as relações económicas, financeiras e empresariais com Portugal, o efeito em termos económico-sociais para este país, seria catastrófico.
Nas últimas semanas tem-se vindo a agudizar a tensão nas relações entre Portugal e Angola, com uma agressividade crescente na linguagem utilizada em vários artigos, na comunicação social portuguesa e angolana.
Analisemos a dimensão da relação empresarial e económica entre os dois países e as eventuais consequências desta situação.
Angola tem, neste momento de crise, uma influência relevante em todas as variáveis macroeconómicas portuguesas:
• Contribui para o equilíbrio da balança comercial face ao saldo positivo entre exportações e importações;
• Garante o fornecimento de petróleo ao país, fluxo maioritário das importações;
• Melhora a Balança de pagamentos, por força do investimento directo, das transferências dos portugueses de Angola, dos angolanos com família em Portugal e das remessas de dividendos das empresas portuguesas;
• Minimiza o efeito do desemprego, com cerca de 150.000 empregos directos e um volume semelhante de empregos indirectos;
• É garante de financiamento substancial dos Bancos Portugueses a empresas portuguesas, cujos resultados de exploração provém da actividade em Angola e da própria solvabilidade de alguns bancos;
• Contribui para o consumo privado, que tem impedido uma maior quebra do PIB, através dos angolanos que visitam ou vivem em Portugal;
• Assegura a viabilidade de instituições e empresas portuguesas que prestam serviços a cidadãos ou empresas angolanas no domínio do ensino, saúde, profissões liberais, ...
Se Angola suspendesse as relações económicas, financeiras e empresariais com Portugal, o efeito em termos económico-sociais para este país, seria catastrófico.
O agravamento da tensão nas relações entre os dois países poderá conduzir a:
• Desvio do fluxo de importações e aumento das protecções aduaneiras;
• Dificuldades na concessão de vistos de trabalho e de adjudicações a empresas portuguesas;
• Desvio do consumo privado e da aquisição de serviços profissionais, nomeadamente para o Brasil;
• Alteração da relação privilegiada com o sistema bancário português.
Esta escalada de violência verbal e escrita por parte de algumas elites portuguesas é, para mim, incompreensível. Sobretudo porque não vem da área política do "quanto pior, melhor" e surge após um processo eleitoral transparente que legitimou todos os órgãos de soberania de Angola.
Portugal ainda beneficia da janela de oportunidade que advém do facto de o Brasil, se encontrar numa fase de crescimento intenso, ocupando integralmente as suas empresas. Mas esta janela encerrar-se-á em breve, após a conclusão dos actuais investimentos públicos.
As empresas e as entidades espanholas, estão a intensificar as relações económicas, políticas e empresariais com Angola. A Catalunha criou, já, um gabinete de apoio para esse efeito.
O caminho parece pois traçado. E não se afigura promissor para Portugal, que vai perdendo oportunidades e capacidade de afirmação nos mercados externos.
E é pena, porque não tinha de ser assim.
Professor Associado Convidado do ISCTE
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