ILHAS DIAOYU/SENKAKU
Disputa de ilhas entre China e Japão agrava relações comerciais entre os dois paísesAlgumas das marcas nipónicas mais conhecidas anunciaram o encerramento temporário das suas fábricas na China, depois de uma série de protestos anti-Japão em mais de 80 cidades daquele país. Na base do diferendo entre as duas potências asiáticas está a disputa de um arquipélago rico em recursos naturais ao largo do Mar do Sul da China.
O aumento dos sentimentos anti-japoneses na China, motivados pela disputa territorial de um grupo de ilhas, está a gerar graves consequências nas relações entre as duas potências asiáticas.
O diferendo está a prejudicar as duas economias, já que as relações entre os países estão no ponto mais baixo desde a Segunda Guerra Mundial.
A Honda, Mazda, Nissan, tal como a Panasonic e Canon anunciaram a interrupção da produção na China e o Governo de Tóquio apelou aos nacionais japoneses para evitarem sair à rua nos próximos dias. Algumas escolas japonesas na China estão encerradas.
Em jeito de provocação, o Baidu, o motor de pesquisa mais popular da China, apresenta esta terça-feira, na sua página principal, um cartoon onde aparece uma bandeira chinesa no topo do conjunto de ilhas no centro da discórdia. “A intenção disto é exaltar, de uma forma racional, os sentimentos de patriotismo e, também, mostrar a verdade dos factos”, disse Kaiser Kuo, diretor de comunicação do portal, citado pela CNN.
Alguns meios de comunicação estatais chineses apelaram ao boicote à compra de produtos japoneses, o que pode ameaçar ainda mais a economia dos dois países, já que no ano passado as transações entre as duas nações atingiram os 345 mil milhões de dólares.
As agências de notação financeira já reagiram. A Fitch alerta que as taxas de juro das empresas de automóveis e tecnologias do Japão poderão ficar sob forte pressão caso o diferendo entre as duas potências se prolongue.
A venda de automóveis japoneses na China caiu 2% relativamente ao ano passado, revelou a Associação de Produtores de Automóveis da China, na semana passada. Em contrapartida, as vendas de marcas da Alemanha, Estados Unidos, Coreia do Sul e França subiram 25%, 19%, 12% e 4%, respetivamente.
Crise diplomática
No fim de semana, rebentou uma vaga de protestos em mais de 80 cidades chinesas contra empresas e delegações diplomáticas japonesas na China. Alguns supermercados e lojas nipónicas decidiram mesmo fechar portas por questões de segurança.
A disputa entre as duas maiores economias aisáticas acontece porque as águas circundantes das ilhas desabitadas são muito ricas em recursos marítimos e petrolíferos.
Esta terça-feira, assinala-se o aniversário da ocupação japonesa, em 1931, o que está a preocupar as autoridades locais, uma vez que a data pode agravar a onda de manifestações anti-nipónicas na China.
Compra de ilhas
A contenda gira à volta de um arquipélago de ilhas e ilhotas desabitadas que na China são chamadas Diaoyu e no Japão Senkaku. No dia 10 de setembro, o governo nipónico provocou a ira dos chineses ao comprar algumas dessas ilhas aos seus proprietários privados japoneses, por 2,05 mil milhões de ienes, mais de 20 milhões de euros.
O governo chinês reagiu com o envio de seis navios armados que durante algumas horas “invadiram” a zona marítima do arquipélago, há 40 anos sob jurisdição japonesa, dando origem a um diferendo tenso com a guarda costeira local.
Pequim reivindica os direitos históricos sobre o arquipélago, enquanto Tóquio defende que as ilhas estão ao seu cuidado desde 1895. O arquipélago esteve sob administração norte-americana depois da Segunda Grande Guerra, mas em 1972 Washington devolveu as ilhas ao Japão durante a retirada de Okinawa.
Na semana passada, o Ministério da Agricultura da China emitiu um comunicado explicando que as "águas circundantes da ilha de Diaoyu e as suas ilhotas são áreas de pesca tradicionais de várias gerações de pescadores chineses", informou a estação de televisão pública de Pequim, a CNTV, citada pela CNN.
Entretanto, os cidadãos chineses já reagiram à disputa. Na segunda-feira, uma frota de mil barcos de pesca chineses dirigiu-se para o arquipélago, num ato civil de reivindicação pela soberania territorial.
O chefe do governo japonês, Yoshihiko Noda, pediu a Pequim que assegure a segurança das pessoas e propriedades do Japão em território chinês.
Nuno de Noronha