“Reformar o capitalismo passa por travar o poder do dinheiro na política”

[Ulisses Pereira]

Uma colherada de Jas por dia (ou do seu plimo moladol em Xangai) eleva a boa disposição e faz bem à saúde!

Um abraço,
Ulisses

[MozHawk]

Uma vez mais JAS, excelente!

Um abraço,

MozHawk

[Cavaco]

A culpa foi dos social/facistas que tivemos que sustentar nos últimos anos.

[JAS]

... a rede foi avaliada, por vários bancos de investimento, entre 290 e 390 milhões de euros.
(...) o actual Governo pretende vender a rede até ao final do ano, para que a receita ajude na redução do défice orçamental, de modo a que atinja um valor de 2,8% do PIB.

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... Bruxelas estima que serão necessários 750 milhões de Euros para que Portugal atinja a meta dos 2.80%.

Minha querida Manuela,

Este problema do défice está a ficar muito mais complicado do que eu supunha quando te escrevi aquela pequena carta, na semana passada, com algumas das medidas de que me tinha lembrado.

Entretanto com as notícias que têm saído nos jornais e, sobretudo, com as discussões que tem havido ali no café, enquanto tomo a minha bica matinal e como o inseparável pastel de nata, cheguei à conclusão que precisamos fazer algumas correcções para se arranjarem os 750 milhões ainda este ano.

Por isso mando-te outra vez a lista com alguns itens corrigidos e algumas possibilidades novas que podes explorar.

1º Medida - Venda da Rede Fixa à Portugal Telecom
Eu não sei quais foram os Bancos que avaliaram aquilo tão por baixo mas devem estar feitos com a PT quase de certeza. Eu cá até desconfio que deve ser algum banco que é accionista dos tipos.
Tu sempre foste muito boa a fazer contas de cabeça e, portanto, já deves ter reparado que, se o valor mínimo é de 290 milhões e se o valor máximo é de 390 milhões, a variação é de 100 milhões. Estou certo não estou? Ora 100 milhões a dividir por 290 milhões são 34% o que é apenas uma pequena diferença de avaliação. Portanto mais ou menos 34% é o que pode estar em causa. Está claro que, sob o nosso ponto de vista, o “menos” está fora de questão.
Eu na semana passada já te tinha dito que 100 milhões para a PT eram trocos mas não tinha exagerado tanto pois só admiti +20%. Se os bancos concluem que pode ser +34% melhor ainda.
Sendo assim chamas o Nabo e propões-lhe a venda pelo valor da avaliação acrescidos de 34% que é a margem de dúvida dos avaliadores.
390 x 1,34 dá apenas 522,6 milhões que é um bocadinho menos do que os 600 que eu tinha dito na semana passada mas acredito que a rede já tenha umas partes velhas e obsoletas pelo que um desconto se justifica.
E, para mostrares que és uma pessoa flexível e para não dizerem que andas a perseguir os boys, acho que no final da reunião, quando ele já estiver todo borrado com aquele frase que eu te ensinei e que resulta sempre nestas ocasiões -“Bom, se não está de acordo talvez seja melhor ir trabalhar para outro lado que candidatos ao lugar não faltam”- podes ser magnânima e fechares o negócio arredondando para 522 milhões.

2ª Medida – Privatização da Portucel
Eu julgava que isto não dava nada mas parece que estava enganado pois o meu primo, aquele de Xangai, a quem eu falei no assunto e mandei umas fotocópias do Caderno de Encargos, tratou logo de adquirir activos que dessem para entrar no concurso.
Está claro que o objectivo inicial dele era vender os activos logo a seguir a grupos nacionais interessados no assunto. Segundo ele me disse apareceu-lhe logo um grupo a querer comprar-lhe a fábrica mas queria pagar em letras e ele não aceitou. Assim parece que ele vai mesmo concorrer, não sei se associado ao tipo dos casinos (esta do Jorginho ter chumbado o novo do parque Mayer veio mesmo a calhar pois assim já não temos que chatear o Pedro e aproveitamos a liquidez dele que não tem aplicação de momento ...) se apenas com os amigos lá de Xangai. Não há problema com a nacionalidade pois eles arranjam todos bilhetes de identidade de Macau e assim, se ganharem, podes sempre dizer que é um grupo nacional com investimentos no exterior mas digo-te, desde já, que tens que fazer a cerimónia à noite para que, com as luzes dos flashes, não se ver tanto que são um bocado amarelos.
Além disso também apareceu uma Administradora da Fenaflorestas, que eu não sei bem o que é mas que me parece que tem um eucaliptal lá no Norte, e que disse que queria concorrer e que queria um lugar na Administração. Neste caso tens que ir ao Arquivo ver quem ela é e se está filiada ou não. E se não estiver parece-me muito bem que compre acções lá no balcão do banco dela mas cadeirinha na Administração nem pensar.
Mesmo que seja “girl” (entendido como feminino de “boy”, nada de confusões, pois eu além de saber que é prima do Ulisses não a conheço de lado nenhum) o facto de querer comprar demonstra que há muito mais interessados no negócio do que eu supunha.
Está claro que daqui a uns dias tens que mandar a tua secretária fazer um telefonema lá para a nossa instituição bancária dando instruções para comprarem umas PTI’s pois há que esgotar a oferta e subir as cotações.
Admito que aquilo possa ir até 1,30 e, sendo assim, o preço de venda dos 15% destinados aos institucionais rende 150 milhões ainda no corrente ano o que dá muito jeito para as nossas contas pois já arranjámos 672 e só faltam 78.

3ª Medida – Venda de Património do Estado
A venda dos Jerónimos em time-sharing foi muito mal aceite aqui no nosso Bairro e parece-me que não é aconselhável enquanto viveres por aqui.
Se no final ainda nos faltar dinheiro aplica o mesmo esquema, que te disse, mas à Basílica da Estrela. Está claro que vale muito menos porque é mais pequena e, além disso, requer maiores obras de adaptação por causa daquela interminável escada para subir ao zimbório que não cumpre o actual Regulamento de Segurança contra Incêndios.
Deixemos este ponto em stand-by e ficam a faltar os mesmos 78 milhões.

4ª Medida – Aumento do IVA
(sem interesse como dito na semana passada)

5ª Medida – Encerramento da TAP ou da RTP
A RTP continua fora de questão.
Quanto à TAP, como já estamos quase no fim de Novembro, até ao final do ano já não poupas 2 meses de prejuízos mas apenas um.
Portanto fechar aquilo só nos rendia 1 milhão de contos ou seja uns míseros 5 milhões de euros e era uma medida muito pouco popular.
Deixa esta na manga para o ano que vem quando vier à baila o TGV e o novo aeroporto. Nessa altura é que dará jeito fechares a TAP pois, sem esta, o aeroporto passa a ter só um terço dos vôos e deixa de ser preciso fazer outro tão depressa.
Já viste o que isso te permite poupar nos próximos anos?
Se o Durão estiver renitente podes-lhe sempre dizer que com um TGV directo a Madrid, via Entroncamento ou Porto, podemos muito bem apanhar o avião na capital espanhola pois isso será muito mais rápido do que ir de taxi para aquele sítio lá para cima que eles escolheram para o novo aeródromo.
Este ponto também fica pendente e continuam a faltar-nos os mesmos 78 milhões.

6ª Medida – Perdão Fiscal
Continuo a manter a minha opinião da semana passada. Os portugueses guardam tudo para o último dia e o prazo acaba no dia 31 de Dezembro. Nesse dia ninguém consegue, mesmo que queira, pagar essas dívidas e o resultado vai ser zero.
E o pessoal vai ficar à espera da Amnistia, Perdão Fiscal ou outra coisa qualquer do próximo ano.
Mas o Chefe das Finanças aqui do bairro é mais optimista segundo me disse o Silva que encontrei ontem no café.
Ele diz que, pelos cálculos que esteve a fazer no fim de semana, arrecadas seguramente 4,978% dos 1000 milhões em dívida ou seja 49,78 milhões.
É bastante mais do que eu tinha calculado mas admito que ele esteja certo pois tem lá as fichas dos clientes.
Em números redondos, que vírgulas não interessa, ficam a faltar 28 milhões.

7ª Medida – Venda da Fábrica de Munições
Já averiguei que o Laboratório Suiço de Produtos Farmacêuticos está mesmo interessado em comprá-la para a transformar em unidade de fabrico de supositórios de marca registada e com calibres 7,65 e 6,32 e, ainda, supositórios genéricos de calibre indiferenciado.
Também se confirma que aproveitam grande parte da maquinaria mas acharam que o terreno anexo não tinha grande utilidade para ampliação futura.
Sendo assim os 20 milhões que eu tinha dito que aquilo valia pareciam excessivos mas eu fiz um telefonema e assegurei-lhes que depois podiam vender os terrenos àquele tipo do Benfica que compra tudo e eles ficaram muito receptivos à ideia.
Podes considerar este negócio arrumado e, quando quiseres é só dizeres que eles metem-se no avião e vêm cá assinar o contrato. Está claro que trazem o cheque pois disse-lhes que nos saldos é pronto pagamento.
Mas ficam-nos ainda a faltar 8 milhões e temos que inventar outra medida adicional qualquer.


8ª Medida – Venda de mais Património
Pondo de parte a Basílica da Estrela, em propriedade plena ou em time-sharing, como disse lá mais atrás, temos que arranjar outra coisa qualquer. Mas está difícil pois já não nos resta muito património para alienar.
A Torre dos Clérigos não me parece boa ideia pois o Rui já tem problemas que cheguem com o Pinto da Costa, a torre não se presta para restaurante panorâmico e não lhe vejo outra possível utilidade.
As pontes e auto-estradas, já construídas, estão alugadas ou sujeitas a concessão e não é fácil correr com os inquilinos. Para fazer umas novas já não vamos a tempo.
Lembrei-me da Torre de Belém mas é um monumento muito emblemático aqui da nossa zona e que tem, para ti, o mesmo problema dos Jerónimos.
Mas temos lá um mamarracho ao lado que já não serve para nada e que está afecto ao Ministério da Defesa. Estou a falar daquele forte com baterias de costa, baterias novinhas em folha pois nunca dispararam contra inimigo nenhum, e que não nos faz falta nenhuma dado não ser previsível qualquer ataque vindo da Caparica ou da praia do Meco.
Acho que o podíamos alienar bem pois está virado para Sul-Poente e tem uma magnífica vista para o Tejo e para a praia de Algés. Está claro que terás que convencer o Portas mas, para isso, basta dizeres-lhe que para o ano arranjas verba e que lhe compras uns brinquedos novos para contentar a tropa dele. E isso é fácil de fazer quando fechares a TAP de acordo com a ideia que te dei na semana passada e que transcrevo a seguir.
“Depois de fechares a TAP vão sobrar os aviões não é? E aviões em 2ª mão valem pouco... Por isso podes rentabilizar aquilo melhor se venderes apenas os motores a jacto, que estão novos e para os quais há comprador, e se mandares pôr nos aviões umas hélices que compras baratas em qualquer lado. Mas recomenda que montem as hélices viradas para cima... Rapariga esperta...Já deves ter percebido onde eu quero chegar. Vais ver que o Paulinho fica contentíssimo com os helicópteros...”
Mas voltando ao Forte tenho que te meter uma cunha para o clube aqui do bairro que está muito prejudicado relativamente aos outros dois cá da capital que se fartaram de receber terrenos da Câmara para actividades desportivas o que significa, na fase seguinte, para urbanizarem à vontade. Portanto vamos vender-lhes o Forte. Já falei com o presidente, ele já contactou o Pedro que também acha isto justo, e o clube já garantiu um empréstimo bancário para a compra a pronto pagamento.
Estás a ver como eu sou teu amigo e até te arranjei já um comprador para aquele mono por 8 milhões de euros... É um preço barato mas é para o meu clube e têm que dar contrapartidas à Camara.

Bom, para este ano, agora já ficas mesmo com o problema do défice resolvido.

Beijinhos,
JAS

P.S. – Para a semana só te escrevo se houver alguma correcção a fazer.
A seguir, já que estou de tanga, vou para as Maldivas pois em Paris está muito frio e não me deixariam entrar nos restaurantes nesta figura.