O resto é paisagem
09 Agosto 2012 | 23:30
João Cândido da Silva -
joaosilva@negocios.pt
Na Avenida da Liberdade, em Lisboa, existe um edifício onde está instalada uma entidade chamada Euronext Lisbon. Dizem que é o local de funcionamento da bolsa portuguesa. Talvez seja exagero apelidá-lo desta forma, porque o número de empresas que realmente conta neste pequeno mercado não excederia a lotação de um táxi.
É um facto que o principal indicador da bolsa nacional foi baptizado de PSI-20, conjugação óbvia das iniciais de "Portugal Stock Index" e dos dois algarismos que, juntos e ordenados daquela forma, pretendem revelar que há 20 empresas cotadas que integram a respectiva fórmula de cálculo. Acontece que se, por vezes, as aparências alimentam ilusões, o nome do principal índice de bolsa português também é pouco amigo da realidade. Não só quando calha, mas sempre.
Não há qualquer perspectiva de que o PSI 20 venha, em breve, a mudar de designação. Mas o facto é que circunstâncias recentes relacionadas com as vicissitudes normais na vida das empresas justificaria uma ida ao registo para alterar o nome e repor alguma verdade.
A partir de 13 de Agosto, o indicador seria designado de forma mais adequada caso adoptasse o nome de PSI-18. Os sucessos nas ofertas públicas de aquisição sobre a Cimpor e a Brisa produziram consequências no volume de acções livremente disponíveis para serem transaccionadas pelos investidores e as regras determinam a sua exclusão da base de cálculo. É uma tragédia nacional? Nem por isso. Se há drama é o que resulta da observação da dúzia e meia de empresas que ainda lá ficam representadas.
Não se trata, sequer, de constatar que há sectores inteiros que não estão reflectidos na lista de empresas admitidas à cotação, nem, tão pouco, no principal índice do mercado de acções de Lisboa. A título de exemplo, as seguradoras, grandes investidores institucionais para quem o mercado de capitais é tão importante para a sua actividade como respirar é para o comum dos mortais, eclipsaram-se há uns bons anos e jamais alguém voltou a vê-las. A questão é que a maioria das empresas do PSI-20 saltaria borda fora se houvesse critérios mais apertados na selecção das acções eleitas.
A conjuntura negativa ajuda a explicar a situação, mas não a desculpa. Metade das empresas que entram nas contas do indicador tem uma capitalização bolsista inferior a mil milhões de euros, o que equivale a menos de um décimo do valor de mercado da Galp, a campeã da dimensão numa bolsa com problemas de dimensão. Mas há mais. Ou menos.
O trio mais importante para o índice, integrado pela Jerónimo Martins, PT e Galp, tem um peso superior a 50% no seu desempenho. Se a este grupo se juntar a EDP, conclui-se que o quarteto domina dois terços do PSI-20. A conclusão não é difícil de antecipar. Os humores destas empresas, são os humores do índice. E sem estas empresas, não há humores. Há apenas humorismo.
Pouco poderá ser feito para mudar a pequenez da bolsa de Lisboa, caso ninguém, em delírio, se lembre de transformar a admissão à cotação em acto obrigatório e vigiado pelas autoridades. Mas o PSI-20 dá promoção a uma ficção. Resume-se a quatro empresas e o resto é paisagem.