O que está a dar
30 Julho 2012 | 11:12
João Cândido da Silva -
joaosilva@negocios.pt
Junte-se um grupo de pessoas em que uma delas esteja relacionada, pelo exercício profissional, aos mercados financeiros. Mais tarde ou mais cedo, alguém fará a pergunta sobre "o que está dar" ou em que produto deverá colocar as suas poupanças.
Junte-se um grupo de pessoas em que uma delas esteja relacionada, pelo exercício profissional, aos mercados financeiros. Mais tarde ou mais cedo, alguém fará a pergunta sobre "o que está dar" ou em que produto deverá colocar as suas poupanças.
Em tempos de turbulência e volatilidade, as dúvidas ainda são mais justificadas do que em era de estabilidade. E o recurso a quem é suposto saber dar respostas racionais e informadas também. Não faltam, actualmente, motivos para considerar escorregadio o terreno que se pisa quando a matéria em causa é a de saber onde colocar o dinheiro. De preferência, em local seguro e capaz de fornecer rendibilidade.
A perspectiva tem, no entanto, um reverso. Tentar saber o que "está a dar" revela, por si só, uma perspectiva potencialmente distorcida da relação com o dinheiro. Indica que a preocupação prioritária de quem coloca a questão está orientada para o curto prazo e envia para um plano secundário o objectivo do investimento que se pretende fazer.
Não haveria grande problema se esta forma de encarar as decisões de investimento não apresentasse riscos para quem a pratica, a começar pela probabilidade de se colocar dinheiro nos instrumentos menos adequados para se cumprirem determinados objectivos.
De aplicação de curto prazo em aplicação de curto prazo, podem passar-se anos a apostar em produtos que distribuem rendimentos e poderiam ajustar-se bem a quem pretendesse fazer um fundo de emergência. Mas que são uma perda de tempo e de dinheiro para quem vise, por exemplo, poupar e investir para constituir um complemento de reforma.
No longo prazo, o melhor amigo do dinheiro é a capitalização. E quem encara uma período alargado como se fosse uma mera sucessão de aplicações de curto prazo, não beneficiará daquele fenómeno, arriscando-se a que o produto dos seus esforços acabe por ficar abaixo do que poderia ter sido acumulado. O pior está no facto de a triste descoberta surgir, habitualmente, quando é demasiado tarde para fazer correcções. A não ser que se aposte tudo, uma vez mais, nalguma aplicação de curto prazo que prometa rendibilidades chorudas. Ou seja, correndo ainda mais riscos.
A incerteza sobre o futuro do euro, as dúvidas sobre a saúde financeira dos bancos e uma recessão económica que faz alastrar a taxa de desemprego ajudam a fazer pressão para que os aforradores concentrem as suas preocupações no curto prazo. Mas nunca é demais tentar responder à questão de saber com que objectivo se quer poupar e investir, antes de se perguntar o que "está a dar". Cavalgar a volatilidade e os seus riscos ou diluir os humores dos mercados por um período longo faz toda a diferença.