K. Escreveu:>>Ambição e ganância são sinónimos.
Comecei por definir os conceitos no início do ensaio, para evitar a confusão entre os dois termos. Da forma como os defini, não são sinónimos.
Concordo.
K. Escreveu:Um busca pela internet mostra as difernças entre os dois conceitos.
Nem por isso. Até os dicionários "bons" são confusos. Uns dão-os como sinónimos, outros nem por isso.
Espreitando definições "pessoais" destes dois conceitos, a net mostra-nos de tudo.
K. Escreveu:Muitas vezes, se confunde Inveja com Cobiça, que significa querer tirar a tal coisa desejada à pessoa que a tem, fazendo com que ela fique sem ela.
K. Escreveu:C)Inveja: desejo de retirar a alguém algo que essa pessoa tem ou é, sem que seja para proveito próprio.
Então a "sua" inveja, era a cobiça. Fica esclarecido.
K. Escreveu:>>Apenas a (expectativa de) racionalidade permite a construção de modelo económicos fiáveis.
Tenho de clarificar este ponto. É verdade que a hipótese das expectativas racionais é utilizada em àreas como Preço e arbitragem de derivados financeiros (na derivação do modelo de Black-Scholes, por exemplo) e em vários modelos econométricos. No entanto, a aplicação da hipótese das expectativas racionais nunca foi aceite em àreas da Economia não "matematizáveis", como a Economia Política.
Concordo consigo que racionalidade e matemática gostam de andar de mão dadas. Eu pelo menos gosto de as ver juntas.
Seria talvez demasiado forte chamar-lhe pseudo-ciencia à Economia Política, mas para mim é um terreno de estudo com fundações débeis.
A base da Economia (leia-se, a física e a matemática) assenta em pressupostos (leis da natureza/universo) imutáveis à escala da existencia humana e estes são aplicaveis continuamente, independentemente do tempo e do espaço.
A Economia Política tem como base construções sociais do Homem e, como ciclicamente a História nos demonstra, estes pressupostos tendem a desfazer-se de acordo com as conveniencias (e percepções) individuais. É um bom tema de leitura, mas os comportamento das estruturas institucionais e sociais não são, por si, modeláveis de forma a permitir fiabilidade de expectativas económicas a longo prazo.
Podemos encontrar, ao longo da História, inúmeros exemplos de resultados económicos divergentes em sociedades com estruturas socio-políticas semelhantes.
K. Escreveu:>>A complexidade da tomada de decisões baseada em emoções não é correlacionável com o resultado dessas decisões.
Bem, aqui limito-me a referir que a principal área de investigação do mais influente economista do mundo, Andrei Shleifer, é justamente Economia Comportamental.
Sem querer beliscar a reputação do Sr. Andrei, cujos contributos são apreciáveis, sou da opinião que a aplicabilidade dos estudos sobre economia comportamental não racional (diga-se emocional) não fazem grande sentido numa perspectiva macro.
K. Escreveu:>>O efeito da emoção, enquanto componente de modelo económico, tende para nulo.
Gostaria de entender em que se suporta para fazer tal afirmação.
A frase que se seguia à que citou dava o mote para a explicação.
O comportamento do indivíduo, enquanto ser emocional, rege-se num espaço estrito que é só seu (a sua "cabeça") e no qual as leis da Natureza/Universo (a base da Economia) - pelo menos as que conhecemos - não são aplicáveis. Não é incorporável nos modelos económicos (alargados, aplicáveis à nossa actual dimensão e realidade social).
Obviamente, em modelos redutores (poucos agentes, poucas escolhas), o comportamento emocional aparenta influenciar decisivamente a actividade económica. Se usar um modelo com 2 agentes económicos, e ambos se odiarem, no mínimo essa economia não gera trocas comerciais com frequência, podendo até chegar ao extremo de o modelo ficar reduzido a apenas 1 agente.
À medida que expande a dimensão do modelo (muitos agentes, muitas escolhas), a influência do comportamento emocional do indíviduo tende a diluír-se devido ao facto das suas emoções se dirigirem para um universo muito mais vasto, o efeito de alcance das mesmas ser relativamente mais curto e, principalmente, devido à natureza do Homem como Ser racional (uns mais que outros...) - sobreposição da razão sobre a emoção.
Já no que toca ao comportamento do indivíduo enquanto ser racional, este rege-se num espaço mais abrangente (a sua "cabeça", inserida no mundo natural) e onde são aplicáveis as mesmas leis que regem a economia. É incorporável no modelo económico (alargado,etc.).
Ao contrário da emoção, a razão é menos vísivel nos modelos redutores (e portanto menos perceptível por observação empírica). À medida que se expande a dimensão do modelo, a racionalidade sobressai como factor na tomada de decisão.
É fácil e naturalmente perceptível tirar conclusões sobre as motivações emocionais de decisões económicas em modelos redutores. O problema é que essas mesmas conclusões não são aplicáveis na realidade em que vivemos. O modelo económico, como simulador da dinamica da economia, que se pretente fiável ferramenta de previsão dos comportamentes futuros e ao mesmo tempo confirmador dos movimentos passados, continuará a lidar com cada vez mais agentes e mais escolhas enquanto a civilização humana continuar a crescer, e, como tinha referido, a considerar tendencialmente nulo o efeito da emoção.
K. Escreveu:>>É uma consequência da dualidade do ser humano.
>>Dou-lhe vários exemplos:
>>- O que a si lhe parecer correcto, pode a mim parecer-me incorrecto
Isso tem a ver com princípios, não com emoções.
>>- As sua emoções podem levá-lo a decidir fazer algo com a intenção de prejudicar terceiros, mas o resultado da sua acção ser prejudicial para si e benéfico para os terceiros
Aqui estou de acordo, é o que acontece justamente com muitas das acções provocadas pela inveja, mas as sucessivas frustrações a este nível podem levar a situações de agressão relevantes por parte do invejoso ao invejado e aqui perdem todos (como nos actos de vandalismo na Grécia)
>>- A inveja por algo que um terceiro possui pode levár-nos tanto ao desespero, ao suícidio ou à maldade, como a termos vontade de superação e encontrarmos a determinação para atingir a mesma posse
Ora é justamente aqui que entra a diferença entre inveja e ambição: a inveja leva ao desespero e à maldade, enquanto que a ambição leva à vontade de superação. É esta a minha tese, a força poderosa que a transformação de um sentimento no outro poderá ter-bem mais que as tradicionais receitas oferecidas pelas diversas religiões!
>>>- Um clássico: Os vendedores de sapatos que chegam a Afríca, onde todos (na suposta estória) andam descalços - um desilude-se porque considera não haver mercado (todos andam descalços), o outro excita-se pela grande perspectiva de negócio (ainda ninguem anda calçado)
Bem, aqui não há inveja, mas simplesmente Optimismo/Pessimismo. É o copo meio cheio/copo meio vazio.
>>- O Nazismo causou um dos mais fantásticos ciclos de crescimento económico mundial da história; O Nazismo causou um dos mais fantásticos ciclos de destruição económica mundial da história.
Isto não é verdade. O Nazismo era baseado na aplicação de políticas Keynesianas a economia de guerra. Se falamos dos efeitos na Alemanha até ao final da guerra, a Economia cresceu em PIB, mas esse crescimento veio directamente do aumento da dívida pública alemã . O desemprego diminuiu porque muita gente ficou empregada no estado ou no exército, as mulheres sairam das estastisticas por decreto e os judeus foram proibidos de trabalhar. Foi devido à consciência que a dívida era insustentável que os Nazis avançaram para a expansão territorial e confiscação dos bens dos territórios conquistados.
A bateria de exemplos que lhe dei, não tinham nem carga moral nem necessáriamente de ser exemplos de sustentabilidade económica.
São apenas exemplos de leituras antagónicas que se podem ter da mesma situação.
Dependendo do estado emocional do indivíduo no momento da análise, diferentes leituras serão feitas. Quantas decisões já tomou convicto que estava correcto, para mais tarde, após uma análise mais fria e racional, concluir que estava errado? Eu, infelizmente, tenho umas quantas atravessadas...
A frustação pelos erros pode levar a situação de agressão relevantes (como na Grécia) e nem todos perdem.
Alguns ganham. Olhe que bom é podermos dizer aqui em Portugal - "Isto não é a Grécia!". E também estamos frustados e temos, com certeza, inveja dos países que têm líderes políticos capazes de lhes proporcionar progresso económico. E os Alemães estão a ganhar à grande com a balburdia que os rodeia.
E se pegar num universo de pessoas/emoções, chega à conclusão que há de tudo em todo o lado (somos todos humanos, afinal). E desafio-o a tentar perceber as motivações de cada um.
K. Escreveu:À luz dos argumentos que apresentei em I)-III), apenas posso concluir que o final da recessão e o princípio de um ciclo económico positivo vai acontecer à medida que a ambição for substituindo a inveja.
Olhe que assim nunca mais saímos da recessão...
Eu prefiro pensar que sairemos da recessão quando conseguirmos a adaptação à realidade dos problemas que nos estão a ser colocados. Mesmo que tenha de ser à bruta. Às vezes só assim é que reagimos. Não foi a inveja e outros sentimentos negativos que nos impediram no passado de atingir crescimento fantásticos.