Juros de Espanha, Itália, Irlanda e Portugal afundam com intensidade29 Junho 2012 | 09:12
Diogo Cavaleiro -
diogocavaleiro@negocios.ptEspanha conseguiu, de madrugada, melhores condições para a ajuda à banca e a reacção foi imediata nos mercados, com uma quebra dos juros. Itália e Irlanda podem beneficiar de boas condições e também verificam menor pressão sobre a dívida. Portugal também verifica alívio. As taxas de juro implícitas da dívida pública de Espanha e Itália estão a cair em força no mercado secundário. Os investidores estão a pedir rendibilidades mais baixas para trocar obrigações destes países, reflectindo confiança nas melhores condições para a ajuda à banca espanhola.
Além disso, também foram acordadas, na cimeira europeia, medidas para travar a subida dos juros associadas às dívidas de Itália e Irlanda. O que está a acontecer.
As taxas de juro implícitas às obrigações espanholas afundam mais de 30 pontos base em todos os prazos. A dois anos, a queda é, contudo, o triplo: a “yield” segue a cair 95 pontos base face ao fecho de ontem. Ontem estava nos 5,4%, agora segue nos 4,47%.
A dez anos, a rendibilidade segue a cair 49,6 pontos base para ser negociada nos 6,45%, afastando-se da barreira dos 7% que tem desafiado nos últimos dias.
Mariano Rajoy conseguiu, ontem, que as fontes oficiais europeias de financiamento à ajuda à banca não tenham um estatuto privilegiado. Esse estatuto, que esteve em vigor no caso da Grécia, não vai ser agora assumido, o que indica que não têm vantagem em caso de incumprimento. Antes desse anúncio, os obrigacionistas temiam estar em desvantagem face a esses credores, o que penalizava a dívida no mercado.
“Um dos pontos chave em torno da Grécia foi o facto de os credores oficiais se terem colocado numa posição preferencial aos actuais obrigacionistas e tal levou imediatamente a imparidades da dívida grega”, disse à Bloomberg Jonathan Garner, do Morgan Stanley. “Uma das preocupações que os mercados tinham era que o resgate à banca de Espanha repetisse o mesmo facto. Se tal não vai acontecer são boas notícias”, indicou.
Com a quebra das taxas de juro implícitas, reduz-se também o prémio de risco que separa a dívida de Espanha das “bunds” alemães, o que reproduz uma recuperação de alguma confiança nas obrigações espanholas.
Recapitalização directa aos bancos pelos fundos reduz pressão
Itália também sente o mesmo alívio, já que foi definido que, no futuro, os fundos de resgate poderão ter uma intervenção mais activa para socorrer países em dificuldades. Algo de que Itália poderia beneficiar. A recapitalização dos bancos pode ser financiada directamente através desses fundos da Zona Euro.
As rendibilidades associadas à dívida italiana também caem com expressividade, devido às decisões da cimeira. A dois anos, a quebra é de 68,3 pontos base para os 3,62%, enquanto a dez anos a taxa de juro implícita cede 31 pontos base para os 5,89%.
O Eurogrupo comprometeu-se a analisar se poderia alterar, também, a situação do sector irlandês. Essa expectativa está a retirar 23,9% à “yield” associada à dívida irlandesa a dois anos, levando a taxa aos 5,73%. A cinco anos, a taxa de juro implícita é de 6%, ao marcar um deslize de 29,8 pontos base.
Portugal também beneficia
No caso português, as taxas de juro implícitas seguem a cair em todos os prazos. Entre os prazos a dois e nove meses, as quedas são superiores a 10 pontos base. A taxa de juro implícita a dois anos está nos 7,83%. As “yields” das obrigações a dez anos cedem 2 pontos base para 10,16%.
CDS recuam em força
O alívio sentido nos mercados estende-se aos seguros contra o incumprimento da dívida, os “credit-default swaps”. O custo destes instrumentos está a deslizar nos principais mercados, com especial destaque para Espanha (desce 40 pontos), Itália (32 pontos), Irlanda (20 pontos) e ainda Portugal (17 pontos).
O que sinaliza que os investidores consideram, hoje, uma menor probabilidade de incumprimento por parte dos países em relação a ontem. Ainda assim, estes são os países que continuam a apresentar os custos mais elevados para fazer um seguro que proteja os investidores de um possível incumprimento da dívida, principalmente, Portugal.