BCE desce juros para nível nunca visto
05 Julho 2012 | 12:45
Paulo Moutinho -
paulomoutinho@negocios.pt
As expectativas do mercado confirmaram-se. O BCE anunciou uma descida da taxa de juro para a Zona Euro de 25 pontos-base para 0,75%, um valor nunca praticado pela autoridade monetária. A taxa paga aos bancos pelos seus depósitos caiu para zero. Os investidores aguardam agora com expectativa as palavras de Mario Draghi.
O Banco Central Europeu (BCE) acabou de anunciar uma descida do preço do dinheiro para 0,75%, o que estava já a ser antecipado pelos economistas.
O mercado aguarda agora com expectativa as declarações do presidente da autoridade monetária para saber se a descida de juros é a única medida tomada na reunião que decorreu hoje.
Com a descida da taxa de juro de referência, o BCE poderá também determinou a descida do juro oferecido nos depósitos que os bancos fazem junto da instituição, de um dia para o seguinte, para zero. "Ao baixá-la, desincentiva-se o parqueamento de liquidez junto do BCE [que ontem atingiu um máximo de dois meses, de 806,5 mil milhões de euros]", diz Filipe Garcia, economista da IMF.
Assim, "incentivam-se as transacções entre as instituições financeiras", acrescenta, em declarações ao Negócios. Contudo, há quem alerte que a medida pode não ter o efeito pretendido. A descida pode penalizar a rendibilidade dos bancos levando o sector, no limite, a travar o crédito para as empresas e famílias. Consequentemente, poderá reduzir o incentivo das instituições financeiras em emprestarem entre si.
Mais do que o corte de juros, e consequente queda da taxa dos depósitos, a grande questão é se o BCE tomará mais alguma medida. Um novo programa de financiamento de longo prazo para a banca (LTRO), é uma das armas que o mercado gostaria de ver voltar a ser utilizada por Mario Draghi, depois de este já ter injectado mais de um bilião de euros de dinheiro barato na banca, desde Dezembro.
"Um novo LTRO poderia surpreender, mas penso que não vai acontecer. Mas o BCE poderia alargar o prazo desse financiamento, passando-o de três para cinco anos", diz Filipe Garcia. De acordo com o inquérito realizado pela Reuters, só 19 de um total de 43 economistas acreditam que o BCE possa voltar a "inundar" os bancos de liquidez.
"Outro LTRO, mas a um ano, poderia dar resposta ao ‘stress’ sentido pelos bancos da periferia" da Zona Euro, diz Thomas Costerg, economista do Standard Chartered. De resto, do que está ao alcance do BCE, no sentido de aliviar o sector financeiro, e assim estimular a economia da região, resta-lhe uma nova redução nas exigências dos colaterais que aceita para lhes conceder financiamento barato.
Que impacto terá o corte de juros?
Descida dos juros terá pouco impacto nos créditos, e também nas poupanças. Mas pode sustentar uma recuperação das bolsas.
1-Prestações da habitação em mínimo histórico
Quem comprou casa a crédito tem vindo a beneficiar da queda dos juros. Os cortes realizados pelo BCE, que colocaram a taxa em 1%, fizeram cair as taxas que são utilizadas como indexante nos contratos que, agora, estão em mínimos históricos. A perspectiva de uma nova descida no preço do dinheiro fez cair a Euribor a seis meses para o valor mais baixo de sempre e, consequentemente, a mensalidade que as famílias pagam aos bancos. A concretização do corte da taxa de referência, se for de 25 pontos-base, terá um impacto reduzido no custo do financiamento. Um corte superior dará margem para poupanças adicionais.
2-Poupanças com retornos cada vez mais baixos
Com a descida dos juros no mercado, reflectindo a queda da taxa directora, também a remuneração das poupanças tem vindo a baixar. A taxa média dos depósitos caiu, em Abril, para 3,27%, sendo a descida explicada, também, pelo facto de o Banco de Portugal ter avançado com penalizações contra os bancos que pratiquem juros que superem um máximo de 300 pontos-base face à referência do mercado para o prazo da aplicação. Tal como acontece no crédito, também nas poupanças um novo corte da taxa directora não deverá ter grande impacto dado que as taxas de mercado já o estão a incorporar.
3-Mercados accionistas com margem para subir
Os mercados accionistas têm sido fortemente penalizados, com os investidores a afastarem-se dos activos de risco perante a deterioração das condições macroeconómicas. O corte de juros, que terá como objectivo dar um novo impulso à economia, "não deverá ter grandes repercussões" pois já está a ser descontado, diz Duarte Caldas, da IG Markets. No entanto, a actuação do BCE, conjugada com a do Banco de Inglaterra e a Fed, dos EUA, poderá permitir "uma recuperação significativa das bolsas nas próximas seis semanas", diz Greg Coffey, da Moore Capital, à Bloomberg.