"Detesto dizê-lo, mas não faria muito diferente do Governo português"
Paul Krugman repete que Portugal caiu numa "prisão terrível" quando aderiu ao euro. No quadro de uma união monetária, as soluções possíveis são basicamente as que estão a ser implementadas. "Quem tem espaço de manobra é a senhora Merkel e o senhor Draghi".
O prémio Nobel da Economia repete hoje em entrevista ao “Público” a mesma ideia de deixara ao Negócios e à RTP: com a adesão ao euro, Portugal caiu numa “prisão terrível” que lhe roubou precocemente autonomia cambial e monetária, deixando-o sem instrumentos para responder com receitas menos dolorosas a uma conjuntura de crise e de escassez de crédito.
“Há muitas pessoas que acham que o euro foi uma coisa maravilhosa porque durante uma década trouxe muita prosperidade ao sul da Europa. O problema é que isso não era sustentável, não era verdade”.
Dez anos volvidos, “este ajustamento terrível que terá agora de realizar é o suficiente para concluir que não se deveria ter adoptado o euro logo de início”, argumenta.
Ainda assim, Paul Krugman – que esteve nesta semana em Lisboa para receber o grau de doutoramento Honoris Causa de três universidades da capital – diz não estar “preparado para dizer que sair do euro é a solução” e recomendar ao país que dê, neste momento, esse “passo radical”. Pelo que, dentro de uma união monetária, o processo de ajustamento significará viver com “condições muito difíceis”, em que é também difícil fazer muito diferente do que está a ser feito.
Questionado sobre a venda da EDP a uma empresa estatal chinesa, Krugman começa por responder que “é melhor pensar muito bem em relações a estas decisões”, interrogando-se sobre se “para ter um pouco mais de liquidez” não se terá feito uma opção de que se “irão arrepender daqui a uns 20 anos”. Mas acrescenta: “Eu realmente tenho dificuldade em dar conselhos ao governo português. Aliás, detesto dizê-lo, mas não faria as coisas de forma muito diferente daquilo que está a ser feito agora. Teria conselhos muito mais claros para a senhora Merkel [chanceler alemã] e o senhor Draghi [presidente do BCE]. São eles que têm espaço de manobra e que, mesmo assim, estão a tornar as coisas mais difíceis”.
O único conselho firme que deixa é para que Portugal diga “não” a um novo programa de austeridade que eventualmente lhe seja exigido pelos credores internacionais da troika. “Uma coisa é dar algum tempo para que a actual estratégia funcione, outra é deixar que se entre numa espiral de cada vez maior austeridade. É nessa altura que tem de se dizer não”.
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