Fizemos referência no artigo anterior em 9/1 à questão pendente dos ratings de diversos países da zona Euro e do triplo A de França. Pois, aí os temos.
Se formos rigorosos na retrospecção, falando em sentido figurado, a passada sexta-feira dia treze não começou às zero horas como habitualmente mas sim há cerca de mês e meio, quando a Standard & Poors fez circular um e-mail com o rebaixamento da notação de França. Tinha sido um “engano”, disseram eles.
Vamos então à 6ªFª. Não foi original a “produção” do evento. Como a tradição nesta matéria ainda é o que era, alguns suspeitos do costume, bem avisados, trataram de fazer pela vidinha antes que fosse tarde.
Desta forma vimos que genericamente as bolsas pouco a pouco começaram a fraquejar até atingir níveis de sell-off, apesar dos leilões de Espanha e Itália terem obtido umas yields bem melhores que as anteriores. Pensaram que o melhor mesmo era ficar em cash. Qual era a desculpa? Que o leilão italiano teve uma fraca procura. Plausível.
Tivemos então alguns rumores e o alarme - a LCH Clearnet, conhecida câmara de compensação de futuros e derivados, informa que vai subir as margens de negociação sobre a dívida italiana. Os rumores não eram… rumores, havia que abrigar a instituição da tempestade.
A confirmação do “engano” acima referido chegou no final da noite!
Olhando para a próxima 2ªFª 16/1, creio que as consequências da subida dos requisitos de margem, a acontecerem, não serão surpresa - muita boa gente vai vender parte ou todas as posições em dívida italiana de forma a cumprir os novos requisitos de margem.
E como é já nesta mesma 2ªFª que a França vai a jogo com uma nova emissão ainda com o downgrade “bem quentinho”, o risco de uma forte subida das yields italianas é um factor a considerar e poderá até ter um impacto mais forte do que as da própria França. Como nos EUA será feriado de Martin Luther King, a liquidez reduzida poderá “ajudar” à festa. A tempestade perfeita? Veremos.
Não vou alongar-me muito acerca das justificações que suportam estes downgrades.
Dizem agora que no caso de Portugal alteraram os critérios. Nada de novo (ver um artigo sobre agência de rating em “Reflexões”). Lá fora dizem que os argumentos são três: abrandamento da economia, agravamento das condicções de crédito e taxas de juro elevadas. Nada de novo. A conhecida pescadinha de rabo na boca.
Sem pretender ignorar os défices e dívidas existentes em níveis perigosos, é por demais evidente a existência de uma agenda escondida. Também é evidente a incapacidade da Europa em lhe fazer frente.
Enfim, é com esta a realidade que os traders têm que contar.
Relativamente aos mercados bolsistas, vou tentar algumas ideias, em jeito de pensamento em voz alta. Muito falível, portanto.
Para os traders que queiram arriscar abrir posições neste ambiente incerto, fará sentido, mais do que nunca, aplicar uma espécie de análise técnica ao sentimento de mercado, avaliando as reacções versus factos/números, em complemento da AT habitual.
Vamos excluir a 2ªFª, feriado nos EUA, escassez de dados económicos e de liquidez.
Dois tópicos possíveis para o muito curto prazo:
A - Se as yields continuarem a subir e as vendas no mercado bolsista forem fortes com volume apreciável, apostar na descida será de considerar. Se as vendas ocorrerem com volume fraco, o sinal é fraco, o mercado estará à espera de mais catalizadores, aguardar (em cash) pelos resultados empresariais poderá ser uma opção. Estes determinarão o rumo.
B – Se as yields não se mexerem muito, o dado poderá já estar descontado. Afinal as ameaças pairam desde Novembro/Dezembro. Estará preparado o terreno para uma evolução bullish na eventualidade dos resultados das empresas não desiludirem.
Relativamente aos resultados das empresas nos EUA, a fasquia está baixa uma vez mais, pelo que poderão surgir surpresas positivas. Pessoalmente não estou tão certo que desta vez assim aconteça, em virtude de alguns improváveis profit warnings recentes. Veremos.
Nos próximos dias alguns pesos pesados marcarão a agenda: Citigroup, Goldman Sachs, Bank of América, General Electric, Intel, entre outros. Será importante ver aquilo que os bancos têm para mostrar. O J.P.Morgan mostrou resultados algo aquém do esperado, mas a reacção não foi muito má pois que a diminuição das receitas se deveu a uma mais criteriosa qualidade do crédito concedido. Assim rezaram as crónicas.
Desta vez não apresento o gráfico do SP500. Não há grandes novidades. Está farto de martelar na resistência.
Boa semana, e talvez… boa sorte!
Viclion, 15.01.2012
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