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MensagemEnviado: 4/1/2012 14:58
por pdcarrico
escada1 Escreveu:Cuidado com as palavras.
Azeiteiro em Espanha quer dizer Chulo.

Pata-Hari Escreveu:lol, small, o carriço (a partir de agora com o cognome "azeiteiro" ganho por mérito e conhecimento) conseguiu calar-te :twisted:


pois ... azeiteiro é um adjectivo que pode suscitar dúvidas na interpretação, mas eu vou aceitar que a intenção tenha sido boa.

Concordo que a diferenciação pela qualidade seja um bom caminho, mas o problema é que não há uma massa consumidora que diferencie qualidade mesmo que até tivesse predisposição ($$) para o fazer.

Até em Portugal, até há pouco o único critério relevante no consumo, de quem pouco sabe, era a acidez, que pode ser um indicador do estado em que foram processadas as azeitonas, mas é claramente insuficiente para dizer algo sobre a qualidade de um azeite. E por exemplo em azeites espanhóis derivados da piqual, de sabor diferente (e na minha opinião muito piores que os nossos) conseguem-se teores baixos de acidez, e por isso na óptica de muitos consumidores seriam bons azeites.

Contrariamente os vinhos conseguiram criar mercadologicamente a noção de terroir, que permite a distinção de castas, de ambiente, de clima, etc.. E há também muito mais consumidores educados sobre o tipo de produto, que abre espaço para a produção com qualidade.

No azeite há espaço para o mesmo, sendo que há também as "castas" nacionais de azeites, e há condições de produção em qualidade mas tem que ser com volumes que permitem ganhos de escala. Mas com excepção de produtores como o esporão, que podem investir umas centenas de milhar de euros numa linha de produção moderna, num período de amadurecimento de marcas que possam ser apreciadas por um público mais exigente, não há muito mais quem possa.

É que produzir um bom douro e conseguir um retorno do mercado é significativamente mais fácil do que fazer o mesmo processo com um excelente azeite da mesma zona. Até porque alguns dos produtores de maior dimensão nem se dão a esse trabalho e por vezes até misturam azeites espanhóis com outros daqui.

MensagemEnviado: 4/1/2012 14:19
por SMALL1969
escada1 Escreveu:Nós não podemos competir na quantidade.Temos que competir na qualidade, é essaa a nossa dimensão.

Dou um exemplo:

O meu avô já foi um industrial do azeite.Nesse tempo (decada de 60 a 80) os lagares eram os tipicos (azzeitona moida em rodas de pedra e depois prensadas em prensas hidraulicas).
...
Mas posso garantir que o azeite produzido nesses lagares nada tem haver com o azeite produzido em lagares novos.
...


Bem....eu não defendo o tradicional pelo tradicional. Deixo isso para tocadores de zambé vegetarianos que nem sabem o que é o tofu que andam a comer :mrgreen:

Defendo a qualidade como factor de diferenciação de pequenos países como nosso.

E no azeite passou-se o mesmo que no vinho. Neste momento a qualidade dos procedimentos de produção é muito superior ao que se fazia nos anos 60/70/80/90, com alguma falta de higiene e fraca qualidade dos processos de transformação do vinho e azeite à mistura. Coloca um azeite desses ao lado de uma garrafa de azeite "Romeu" ou "Alfandagh" a fritar um ovo, e verifica a diferença no cheiro e no resultado e sabor da fritura.

Ou seja, defendo processos modernizados com uso do tradicional, por exemplo lagares tradicionais, mas com melhoramento do processo. Ainda hoje por vezes oferecem-me "azeite da terra, produzido à antiga"...e é uma verdadeira porcaria.

Exemplo do que se encontra facilmente e com excelente preço:
O azeite virgem extra Biológico/Orgânico “Alfandagh” é derivado de azeitonas de grande qualidade, cultivadas em solos adubados por fertilizantes naturais, sem resíduos de produtos químicos tóxicos, sendo obtido pelas mais recentes tecnologias com a 1ª extração a frio.


Há inúmeros exemplos do Portugal que podíamos ser. Fazem ideia da quantidade de queijo italiano de má qualidade que importamos e usamos nos restaurantes ou revendemos nos supermercados para fazer pizzas?
Já experimentaram fazer pizzas com queijo dos Açores? As pizzas ficam óptimas, é produto português e de alta qualidade.

MensagemEnviado: 4/1/2012 13:05
por escada1
Cuidado com as palavras.
Azeiteiro em Espanha quer dizer Chulo.

Nós não podemos competir na quantidade.Temos que competir na qualidade, é essaa a nossa dimensão.

Dou um exemplo:

O meu avô já foi um industrial do azeite.Nesse tempo (decada de 60 a 80) os lagares eram os tipicos (azzeitona moida em rodas de pedra e depois prensadas em prensas hidraulicas).
Com as novas regras esses lagares tiveram de desaparecer.
Mas posso garantir que o azeite produzido nesses lagares nada tem haver com o azeite produzido em lagares novos.
O mesmo se passa com o azeite produzido em olivais geneticamente alterados, e as especies naturais.
O sabor é totalmente diferente.E eu sei bem do que falo.

Temos de apostar na qualidade, apenas isso.
Não na quantidade.
Pata-Hari Escreveu:lol, small, o carriço (a partir de agora com o cognome "azeiteiro" ganho por mérito e conhecimento) conseguiu calar-te :twisted:

MensagemEnviado: 4/1/2012 12:56
por SMALL1969
Basta ver o www.herdadedofreixodomeio.pt para mim um dos melhores exemplos de uma grande exploração e ainda assim sustentável: 650ha

E ontem referi a biocoop, mas queria dizer os supermercados Brio, onde um fundo participado pelo Pais do Amaral está a apostar em força e a dinamizar o projecto.

Bolas, até cosmeticos de origem biológica têm. Não imaginam o que Portugal podia ganhar neste nicho de mercado, em vez de continuar a ser meramente fornecedor de alguns produtos de alta qualidade, para outros ganharem a parte de leão e revenderem-nos o produto transformado na suíça 50xmais caro.

Dentro da Europa temos um solo absolutamente único, dado que não foi bombardeado como foi a Holanda, a França ou a Alemanha, que está todo contaminado e mesmoa assim se forem à porcaria do Pingo doce é o que encontram de produtos biológicos. E também eramos tão atrasados, que excepto em algumas zonas, não existiram tantos DDT como em outros países.

Re: É este o investimento estrangeiro para a agricultura?

MensagemEnviado: 4/1/2012 2:48
por BearManBull
Elias Escreveu:
SMALL1969 Escreveu:dado a procura exponencial do biológico e tradicional


Small,

Não sei o que queres dizer com "exponencial", mas tenho a ideia que a procura por este tipo de produtos é absolutamente marginal...


Sim mas em termos de margem já não será a mesma conversa... Já Porter dizia diferenciação por qualidade resulta sempre em maior margem e menor os custos de gestão que não acrescentam valor...

Já agora fica a nota não sou contra qualquer que seja o investimento estrangeiro já que se não fossem os Espanhóis secalhar nem bom nem mau azeite ficava a terra ao abandono...

Outra nota quanto ao genético não ser sinónimo de qualidade: pode ser ou não depende! De resto como referido :)

pdcarrico Escreveu:Há outros exemplos, mas por aqui já dá para entender que melhor produtividade não tem necessariamente que significar pior tradição ou pior azeite.


O mesmo com qualquer método produtivo. A verdade é que produção agrícula seguindo uma estratégia de baixo custo normalmente prejudica o meio ambiente, basta ver os States e o problema do milho...

small Escreveu:Portugal não tem possibilidade de competir na quantidade, a não ser que falemos na quantidade de políticos asnos
Agree, nem teria qualquer lógica pela nossa dimensão e com o nosso excelente clima devemos aproveitar essa vantagem.

Ainda relativo ao investimento de instalações de tratamento e distribuição de alimentos em pontos estratégicos é completamente benéfico. Sei de instalações dessas que revitalizaram a agricultura da área que abrangiam!

MensagemEnviado: 3/1/2012 22:08
por Pata-Hari
lol, small, o carriço (a partir de agora com o cognome "azeiteiro" ganho por mérito e conhecimento) conseguiu calar-te :twisted:

MensagemEnviado: 3/1/2012 17:33
por SMALL1969
pdcarrico Escreveu:Há outros exemplos, mas por aqui já dá para entender que melhor produtividade não tem necessariamente que significar pior tradição ou pior azeite.


Referi mesmo que o azeite não é pior. Fica é mais parecido aos outros todos, além de que se não plantares olival dequele que pode envelhecer, com espaço, o que acontece é o que acontece sempre em Portugal. Está a comprar plantas e conhecimento ao exterior, e a depender dos químicos que te vendem, feitos no exterior. Depois dependes tanto da quantidade, que vais perdendo o que interessa: Valor acrescentado e produto altamente reconhecido.

Obviamente há espaço para tudo. Mas na minha modesta opinião, Portugal não tem possibilidade de competir na quantidade, a não ser que falemos na quantidade de políticos asnos :mrgreen: .

Em treinadores de bancada também somos bons, eu incluído. :oops:

Re: É este o investimento estrangeiro para a agricultura?

MensagemEnviado: 3/1/2012 17:26
por SMALL1969
Elias Escreveu:
SMALL1969 Escreveu:dado a procura exponencial do biológico e tradicional


Small,

Não sei o que queres dizer com "exponencial", mas tenho a ideia que a procura por este tipo de produtos é absolutamente marginal...


Tens a ideia errada. Se calhar também achas que com a crise a Luis Vitton está a vender menos :lol:
O Pais do Amaral já não sabe onde ir buscar mais produtos portugueses para a rede de supermercados Biocoop, onde está altamente investido.....acho que é um sinal.

MensagemEnviado: 3/1/2012 15:46
por pdcarrico
Existem olivais super-intensivos com espécies genuinamente Portuguesas embora os primeiros super-intensivos fossem Espanhóis - com Piqual e Arbequina.

Mas por exemplo, a cobrançosa que é uma azeitona originária do alto douro, com características de sabor e organolépticas similares à Galega que é a Oliveira mais comum em Portugal, suporta produção super-intensiva.

O problema da Galega (60% do olival antigo Português) é que tem baixíssima produtividade (quer quantidade extraída por ha, quer quantidade de azeite retirado da azeitona) e muita resistência ao desprendimento.

Ou seja dá um trabalho do catano andar a colher porque as máquinas nem conseguem ser eficientes. Convém também lembrar que as árvores são como as pessoas e depois de muitas décadas de vida perdem vigor e acabam a morrer.

Mas por exemplo a cobrançosa já é simultaneamente uma azeitona excelente para azeite, consegue suportar maior carga produtiva e também é genuinamente Portuguesa.

Há outros exemplos, mas por aqui já dá para entender que melhor produtividade não tem necessariamente que significar pior tradição ou pior azeite.

Re: É este o investimento estrangeiro para a agricultura?

MensagemEnviado: 3/1/2012 15:21
por Elias
SMALL1969 Escreveu:dado a procura exponencial do biológico e tradicional


Small,

Não sei o que queres dizer com "exponencial", mas tenho a ideia que a procura por este tipo de produtos é absolutamente marginal...

MensagemEnviado: 3/1/2012 15:17
por bráscubas
Porra, Small...
Que quadro...
Mas, afinal, que conclusões ? e, mais importante, como ultrapassar esse rol de "desgraças", chamesmo-lhe assim ?
Um Alentejano, agricultor, agrónomo e um bocadinho mais optimista....

É este o investimento estrangeiro para a agricultura?

MensagemEnviado: 3/1/2012 14:54
por SMALL1969
Vistas curtas de quem nos governa. Parte II.

in expresso.pt
"Espanhóis inauguram lagar de azeite no Alentejo
Grupo Innoliva investe €7,3 milhões num lagar em Santiago do Cacém, onde tem 5 mil hectares de olival para produção superintensiva de azeite."

O Vistas curtas: Parte I, foi quando acabaram com a agricultura e pescas tradicionais, e que agora estariam a render muito mais dado a procura exponencial do biológico e tradicional, que andamos a importar de estufas em Espanha e na Holanda.

Há o normal, o intensivo e o superintensivo. E há mesmo quem arranque olivais centenários com azeite de alta qualidade e baixa produção para plantar isto, portugueses inclusivé.
Claro que estas plantas vêm de fora, por exemplo de Espanha, onde são alteradas e melhoradas geneticamente. Esse é todo outro negócio que nos escapa. E depois para sobreviverem, só com produtos químicos que também vêm de fora.

O resultado também tem qualidade "técnica" ao nível do azeite, note-se. Acaba é com a fertilidade dos terrenos rapidamente acaba com as nossas espécies e acaba com tudo o resto, uma vez que o azeite resultante é igual a qualquer outro no Mundo, portanto facilmente substituível por chileno ou mesmo chinês, quando o começarem a produzir.