pepi Escreveu:Epah, realmente temos uma visão muito diferente de uma economia de mercado...
Quem quer fazer favores, faz caridade, cria uma ONG, etc...
Um agente económico RACIONAL procura optimizar as suas escolhas... No caso do empresário, ele procura maximizar o lucro (e se quiser ter futuro, deverá ter em atenção os restantes stakeholders)... mas os consumidores também deverão ser racionais, e deverão ser eficientes na sua compra... Ou achas que os clientes do Pingo Doce estão a fazer um favor ao Soares dos Santos?!
Pepi,
Acho que o que falta é perceberes bem o que motivou esta discussão - não é a opção empresarial que do meu ponto de vista está correctíssima.
Nós não discordamos de que existem escolhas e de que o propósito de um empresário é criar valor para si e para os seus sócios accionistas. Como o propósito de um sindicato é lutar por menos horas de trabalho, como o propósito de uma associação patronal é lutar por mais horas de trabalho, como o propósito de um político é lutar por um programa político que defende e que publica.
Repara, eu não censuro o Zeinal Bava por por exemplo ter na Holanda a holding que controla as operações Brasileiras e dessa forma se ter esquivado ao pagamento de mais valias na venda da vivo. O problema é que o Zeinal Bava não veio apelar a um esforço conjunto para que todos tiremos o País de onde está. A questão para tirar o País de onde está implica esforços de todos. Individualmente um agente pode dizer que não tem interesse em fazer um esforço maior do que lhe legalmente exigido - por exemplo um sindicato pode advogar que não tem de ceder na negociação da meia hora.
Mas nesta altura era bom que os sindicatos cedessem, e a uma pessoa como o ASS, que decidiu recentemente ter voz política activa, e que apelou a um trabalho conjunto em nome do País, fica mal fazer apenas o que lhe legalmente exigido, sendo que na óptica dele as pessoas devem trabalhar mais. Ele que me desculpe mas faz tanto sentido pedir que as pessoas trabalhem como faz sentido pedir para que o capital também trabalhe pelo País.
Se é apenas para fazer de empresário então que não tenha voz de estadista porque já ficamos a saber que quando propuser alguma coisa é em benefício próprio e não por causa da saúde financeira das contas públicas.
pepi Escreveu:Pois, se calhar está na hora de assumirmos que os serviços que entendíamos prioritários não mais possíveis fornecer, pelos menos nos pressupostos existentes... mas isso era uma discussão bem + longa!
Faço-te uma pergunta: Se tiveste + valias o ano passado, vais englobá-las no teu IRS? Vais fazer a escolha patriótica ou racional?!?!
Sim é uma discussão de outra natureza, mas até cortando seriamente em prestações sociais e em salários (dois subsídios são cortes bastante significativos), o Estado tem dificuldade em equilibrar as contas. Ou seja o problema é mais grave do que apenas deixarmos de ter alguns serviços.
Sobre as mais-valias - pessoalmente posso dizer-te que não tenho mais-valias (infelizmente). Se as tivesse não teria que as englobar porque sou não residente. Mas o problema não é a deslocalização da JM - é o facto de o ASS ser uma personalidade mediática com poder de influência e que decidiu ter voz política activa - coisa que eu não tenho.
Só para teres uma ideia - um pingo doce factura em função do mercado consumidor - digamos que facture 1 milhão por uma unidade de tempo. Recentemente avançou com uma ideia de que era necessário aumentar o tempo de trabalho (sem que houvesse aumento de salário). Digamos que a factura laboral seja 400 mil. Com outros custos e simplificando (porque é um exemplo), teria um lucro de 200. Se o número de horas aumentar, ele pode relocalizar um funcionário para outra área, e aquela loja do PD passa a lucrar um pouco mais.
Vou dizer que o governo decidiu sobre a lei da meia hora, porque ele defendeu a medida? Não. Mas ele tem poder de influência, tem poder de facto e decidiu ter voz mediática. Não é justo que se exija mais dele do que de nós?
pepi Escreveu:E o facto de pagar + ou - impostos deve ser impeditivo de ter opinião?! Se vives(ses) no estrangeiro pagas impostos em Portugal?! E isso seria impeditivo de seres critico?! Eu já trabalhei no estrangeiro e deixei de pagar uma parte substancial dos meus impostos em Portugal...
Concerteza que tens razão. Aliás eu vivo no estrangeiro e estou com opinião sobre o assunto. E aliás, estamos num fórum, a ideia é exactamente trocarmos opinião.
pepi Escreveu:Sinceramente, a hipocrisia na análise deste caso é enorme e revela bem como o pensamento estatizante está impregnado na nossa sociedade... até em pessoas que considero esclarecidas, como é o teu caso...
Agradeço-te a parte do "esclarecidas". Mas podemos e claramente temos opinião diferente. E não me parece que seja assim uma coisa tão grave.
Parece-me sinceramente que hipócrita foi o discurso que eu o vi fazer desde há dois anos a esta parte.
Aliás desde há muito tempo que considero que as grandes superfícies verdadeiras sanguessugas de liquidez numa altura em que pequenos empresários tanto precisam. 16,5% de toda a facturação, é quanto a JM consegue de financiamento gratuito à conta de pequenos fornecedores que têm a corda na garganta e já nem financiamento têm. 1500 milhões de euros!
Ele está a defender o negócio e eu compreendo isso. Mas não penso que seja a pessoa que mais moral tenha para falar em esforços conjuntos para todos sairmos da crise. Também acho o mesmo do Belmiro, mas esse pelo menos fala mais do negócio dele e não se arma tanto em Estadista.