
Dagong tentou comprar agência de ‘rating’ portuguesa
Económico com Lusa
09/01/12 17:07
As dúvidas sobre a independência dos chineses fez cair o negócio.
A agência de 'rating' chinesa Dagong abordou os responsáveis da Companhia Portuguesa de Rating (CPR) para discutir a sua compra mas o negócio caiu por terra devido a dúvidas da CPR sobre a independência do processo do 'rating'.
Fonte do sector financeiro, com conhecimento das negociações, disse à Agência Lusa que os responsáveis chineses abordaram os responsáveis da CPR em Novembro, altura em que os líderes máximos da Dagong estiveram em Lisboa a participar numa conferência promovida pelo jornal i. Na altura, a viagem dos responsáveis à Europa, que começou por Portugal, foi aproveitada pelo presidente do BES, Ricardo Salgado, para anunciar que o banco havia assinado contrato com a Dagong.
A Dagong reuniu-se então com a liderança da CPR, onde demonstraram interesse em comprar a agência portuguesa e também que "havia disponibilidade e capacidade financeira" para fazer o negócio, de acordo com outra fonte com conhecimento das conversas.
No entanto, a proposta foi rejeitada pela CPR porque a visão transmitida pelos responsáveis da Dagong "não garantia a total Independência do 'rating'", demonstrando um "enviesamento" do processo de 'rating' para o lado dos credores, ou seja, mais benéfico para o lado chinês, adiantou.
Durante a conferência, o presidente da Dagong criticou as principais agências de 'rating' a actuar maioritariamente no mercado norte-americano (Standard & Poor's, Fitch e Moody's) acusando-as de estar do lado dos países devedores, de usar os 'ratings' para defender os interesses dos Estados Unidos e utilizar preconceitos políticos e de ideologia para defender os países devedores, ao invés de fazerem a sua obrigação, de assumir uma "postura imparcial".
No entanto, a proposta seria rejeitada precisamente porque os responsáveis chineses terão transmitido a ideia que a Dagong veria o 'rating' como um instrumento de apoio de um dos lados, colocando em causa a independência da análise - a principal crítica às maiores agências por empresas e bancos que têm mudado os seus contratos para agências alternativas, caso da Dagong ou da DBRS.
A estratégia passava por adquirir a CPR como forma de entrar no mercado europeu, uma vez que as novas regras da autoridade europeia que regula as agências de 'rating' (ESMA) obrigam, entre outros requisitos, a terem sede na Europa ou uma subsidiária em terreno europeu.
A convicção entre os responsáveis portugueses é que o modo de operar da Dagong dificilmente passaria no crivo da ESMA, deixando assim a companhia portuguesa numa difícil situação, já que depois de muito
tempo para obter licença para operar no mercado europeu, finalmente conseguiu obtê-la (ainda assim uma das primeiras a nível europeu) este verão.
A Agência Lusa contactou o presidente do conselho de administração da CPR, José Poças Esteves, mas este responsável apenas disse: "não confirmo". A Lusa tentou ainda contactar a Dagong, mas até ao momento não foi possível obter qualquer esclarecimento.
No entanto, durante a sua intervenção durante a conferência, José Poças Esteves defendeu novamente mudanças no sistema de notação de crédito, e uma reconfiguração do sistema para um "sistema de crédito global", mais e melhor concorrência, "uma perspectiva verdadeiramente supranacional" e "metodologias mais qualitativas e fundamentadas".
Fonte oficial da ESMA disse apenas que a autoridade não dá informação sobre registos até ao processo estar finalizado, mas explica que "qualquer agência de 'rating' que queira operar na União Europeia (UE) - quer directamente quando tem sede na UE ou através de subsidiárias na UE - tem de se registar na ESMA e cumprir todos os critérios da regulação da União Europeia. Isto inclui regras sobre a transparência, evitando conflitos de interesse, e regras de governança".
Económico com Lusa
09/01/12 17:07
As dúvidas sobre a independência dos chineses fez cair o negócio.
A agência de 'rating' chinesa Dagong abordou os responsáveis da Companhia Portuguesa de Rating (CPR) para discutir a sua compra mas o negócio caiu por terra devido a dúvidas da CPR sobre a independência do processo do 'rating'.
Fonte do sector financeiro, com conhecimento das negociações, disse à Agência Lusa que os responsáveis chineses abordaram os responsáveis da CPR em Novembro, altura em que os líderes máximos da Dagong estiveram em Lisboa a participar numa conferência promovida pelo jornal i. Na altura, a viagem dos responsáveis à Europa, que começou por Portugal, foi aproveitada pelo presidente do BES, Ricardo Salgado, para anunciar que o banco havia assinado contrato com a Dagong.
A Dagong reuniu-se então com a liderança da CPR, onde demonstraram interesse em comprar a agência portuguesa e também que "havia disponibilidade e capacidade financeira" para fazer o negócio, de acordo com outra fonte com conhecimento das conversas.
No entanto, a proposta foi rejeitada pela CPR porque a visão transmitida pelos responsáveis da Dagong "não garantia a total Independência do 'rating'", demonstrando um "enviesamento" do processo de 'rating' para o lado dos credores, ou seja, mais benéfico para o lado chinês, adiantou.
Durante a conferência, o presidente da Dagong criticou as principais agências de 'rating' a actuar maioritariamente no mercado norte-americano (Standard & Poor's, Fitch e Moody's) acusando-as de estar do lado dos países devedores, de usar os 'ratings' para defender os interesses dos Estados Unidos e utilizar preconceitos políticos e de ideologia para defender os países devedores, ao invés de fazerem a sua obrigação, de assumir uma "postura imparcial".
No entanto, a proposta seria rejeitada precisamente porque os responsáveis chineses terão transmitido a ideia que a Dagong veria o 'rating' como um instrumento de apoio de um dos lados, colocando em causa a independência da análise - a principal crítica às maiores agências por empresas e bancos que têm mudado os seus contratos para agências alternativas, caso da Dagong ou da DBRS.
A estratégia passava por adquirir a CPR como forma de entrar no mercado europeu, uma vez que as novas regras da autoridade europeia que regula as agências de 'rating' (ESMA) obrigam, entre outros requisitos, a terem sede na Europa ou uma subsidiária em terreno europeu.
A convicção entre os responsáveis portugueses é que o modo de operar da Dagong dificilmente passaria no crivo da ESMA, deixando assim a companhia portuguesa numa difícil situação, já que depois de muito
tempo para obter licença para operar no mercado europeu, finalmente conseguiu obtê-la (ainda assim uma das primeiras a nível europeu) este verão.
A Agência Lusa contactou o presidente do conselho de administração da CPR, José Poças Esteves, mas este responsável apenas disse: "não confirmo". A Lusa tentou ainda contactar a Dagong, mas até ao momento não foi possível obter qualquer esclarecimento.
No entanto, durante a sua intervenção durante a conferência, José Poças Esteves defendeu novamente mudanças no sistema de notação de crédito, e uma reconfiguração do sistema para um "sistema de crédito global", mais e melhor concorrência, "uma perspectiva verdadeiramente supranacional" e "metodologias mais qualitativas e fundamentadas".
Fonte oficial da ESMA disse apenas que a autoridade não dá informação sobre registos até ao processo estar finalizado, mas explica que "qualquer agência de 'rating' que queira operar na União Europeia (UE) - quer directamente quando tem sede na UE ou através de subsidiárias na UE - tem de se registar na ESMA e cumprir todos os critérios da regulação da União Europeia. Isto inclui regras sobre a transparência, evitando conflitos de interesse, e regras de governança".