comentário de um amigo meu...
( da brigada do reumático e do tempo em que havia "tomates")
com uma vénia ao Jorge Esteves e com o qual estou em perfeito acordo
abraço
mcarvalho
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escrito em 2009 mas sempre actual
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Fiquei espantado, para não dizer chocado com a intervenção inoportuna da Associação 25 de Abril.
Apesar de concordar com muitas das afirmações,
1º Não lhe reconheço legitimidade para, utilizando o nome dos Capitães de Abril, instigar a insurreição
2º Porque dá a Comunicação Social tanto protagonismo a uma Associação igual a milhares de outras e não dá espaço a portugueses legitimamente eleitos que, já há muito tempo detectou para onde caminhávamos?
Em 2009, era eu deputado municipal pelo PSD num município do interior e escrevi o que abaixo transcrevo e, nem nos jornais regionais teve eco.
Desiludido da política abandonei a politica mas, não posso deixar de pensar que já em 2009 eu tinha razão.
"24 de ABRIL DE 1974
Há 35 anos, o Capitão Salgueiro Maia preparava-se para arrancar para Lisboa com os militares que aderiram à revolução e, já na parada, fez este discurso:
… HÁ VÁRIOS ESTADOS: TOTALITÁRIO, DEMOCRÁTICO…. E HÁ
“O ESTADO A QUE ISTO CHEGOU”
A frase que correu mundo, continua actual.
“O ESTADO A QUE ISTO CHEGOU”
Nesse dia teve inicio um processo que levou ao encerramento de uma ditadura e à activação de uma democracia.
Mas, hoje, passados 35 anos, alguns tiques do 24 de Abril, ainda não morreram.
Tiques de uma cultura politica autocrática persistem diariamente.
Quem governa tende a governar com arrogância e a oposição continua a crer que a sua função democrática é apenas de “opor-se”.
Já na Grécia Antiga se chamava a isto primitivismo político, ignorância sobre a democracia e desrespeito pelos cidadãos.
Em alguns casos a democracia raia a ditadura mais cínica que é aquela que deixa que todos falem sem que se ligue minimamente aquilo que dizem.
Em alguns casos que a imprensa nos relata diariamente, nem cínica consegue ser porque, o verniz estala e ficam incomodados porque alguém tem uma opinião diferente.
Kant dizia que o ser humano nasce mau. A parte biológica é coberta pela cultura adquirida permitindo-lhe criar a diferenciação com os outros animais mas, alguns, volta e meia revelam-se tal e qual como nasceram.
Teremos de reconhecer que Kant tinha razão.
“O ESTADO A QUE ISTO CHEGOU”
A verdade é que, ao fim de 35 anos, temos um défice democrático, um clientelismo que nos empobrece e nos asfixia e uma erosão de valores própria do subdesenvolvimento cultural.
A mediocridade e o despudor são premiados desde que se tenha uma fidelidade canina.
Actualmente, em Portugal, o compadrio talvez seja maior que no tempo do Marcelismo.
Quem tem ideias fora das fileiras dos obedientes é visto pelo poder não como um potencial de inovação mas como uma ameaça.
O 25 de Abril não pretendeu construir um país com esta profusão de falta de vergonha e de oportunismo.
Enquanto eu souber que há uma elevada percentagem de universitários que chumbam porque não têm dinheiro para pagar as propinas
Que há estudantes que abandonaram os estudos para ir trabalhar e aumentar o rendimento familiar
Enquanto eu não souber se alguém fez um levantamento dessas (e de outras) necessidades gritantes não contem comigo para comemorar este 25 de Abril.
Não foi para isto que eu vim para a rua, nem em 74, nem em Novembro de 75
Quando todos temos consciência dos problemas sociais que hoje, mais do que nunca, devem ter prioridade ao económico e financeiro, fazer passeios onde não há casas, prometer TGVS ou inaugurar azulejos mexe com a minha capacidade de cidadão.
É por isso que, provavelmente para satisfação de alguns, amanhã não estarei presente.
É necessário um 26 de Abril construído na vivência democrática,
pelos cidadãos que têm de decidir, crescer e viver de pé
Disse
J E