Fitch diz que dívida chinesa denominada em yuans pode sofrer novo corte de "rating"
30 Agosto 2011 | 14:23
Carla Pedro -
cpedro@negocios.pt
A agência de notação financeira considera que há fortes probabilidades de a dívida soberana da China ser alvo de novo "downgrade" num prazo de dois anos.
A China enfrenta "grandes probabilidades" de sofrer mais um corte da sua dívida em moeda local, devido aos crescentes incumprimentos e à elevada inflação decorrentes do endividamento excessivo, adverte hoje a agência de notação financeira Fitch.
A Fitch refere também, citada pela Agence France Press (AFP), que as autoridades chinesas irão enfrentar um dilema na resposta a uma nova contracção global, com o aumento dos preços no consumidor e o crédito malparado a evitarem a repetição dos fortes estímulos à economia lançados há quase três anos.
Em Abril, a agência de notação financeira norte-americana colocou o "outlook" para a moeda chinesa sob perspectiva "negativa", quando antes estava "estável". Isto devido aos receios de uma maior desestabilização da dívida, sublinha a mesma fonte.
Recorde-se que o "rating" da dívida soberana chinesa denominada em yuans está em "AA-", quatro níveis abaixo da classificação máxima atribuída pela Fitch.
"A qualidade dos activos bancários (...) irá deteriorar-se substancialmente no médio prazo", comentou hoje num seminário o responsável pelo departamento da dívida soberana da região Ásia-Pacífico na Fitch, Andrew Colquhoun.
O mesmo responsável, citado pela AFP, alertou que a China poderá ter de resgatar os seus bancos, à medida que mais administrações locais e empresas forem entrando em incumprimento, e prevê "grandes probabilidades" de a dívida chinesa em yuans sofrer um novo "downgrade" no prazo de dois anos.
A China lançou um programa de estímulo económico em finais de 2008, no valor de 4 biliões de yuans (430 mil milhões de euros), com o intuito de combater a crise global, tendo ordenado aos bancos para abrirem as torneiras do crédito de modo a promover a actividade económica e evitar que a economia entrasse em recessão, recorda a AFP.
O país continuou a injectar dinheiro, tendo o programa de estímulos praticamente duplicado, ao atingir 7,95 mil milhões de yuans (858 mil milhões de euros) em 2010, provocando pressões inflacionistas e fazendo disparar os preços das casas.
A agência de "rating" estima que o volume de novos empréstimos na China continuará bastante elevado e relembra que o país teve de colocar alguns travões de forma a conter a concessão de empréstimos e a controlar a inflação, através de um aumento das taxas de juro e do aumento do montante de capital que os bancos devem ter de reserva.
No entanto, a AFP sublinha que se os apuros económicos dos EUA e da Europa desencadearem uma nova recessão global e levarem a uma redução das trocas comerciais, as opções da China em matéria de medidas a tomar para amortecer o impacto ficarão limitadas.