Em casa de ferreiro, espeto de pau
Bloco de Esquerda aperta o cinto
10 de Julho, 2011
por Manuel Agostinho Magalhães
O Bloco de Esquerda é o partido que mais contacto tem com a austeridade. Em tempos de crise, Francisco Louçã, que perdeu oito dos dezasseis deputados, ficou também sem metade da subvenção anual de cerca de um milhão e meio de euros.
Além do mais, os antigos deputados que não conseguiram a reeleição também já não podem contribuir com uma parte do ordenado para o partido – uma tradição da extrema-esquerda parlamentar.
São menos 68 mil euros por mês de subvenção e menos 5 mil euros de ordenados mensais dos deputados a entrar nos cofres do partido, segundo as contas de um membro da organização bloquista.
Tavares deixa de dar parte do ordenado
Já depois das eleições, veio uma nova machadada financeira para o BE: Rui Tavares, o eurodeputado eleito pelas listas do BE, zangado com Louçã, deixou de fazer parte do grupo parlamentar bloquista em Estrasburgo. E Junho terá sido o último mês em que descontou uma parte do ordenado para o partido.
OBE não tem, pois, outro remédio senão cortar despesas. Propaganda, funcionários, deslocações, tudo é afectado. «Não haverá diminuição da nossa acção política», garante o assessor parlamentar Pedro Sales.
Contudo, nas ruas, não é o que se vê. Os outdoors bloquistas desapareceram e «não vão voltar tão cedo», garantem ao SOL. Para já, apenas os pequenos ‘mupis’ – iguais aos da foto – marcam presença no espaço público. Nos últimos anos, o BE primava pela presença de cartazes de grande dimensão nas ruas, em contraste com outros partidos, que fora de período eleitoral não exibiam propaganda.
Um quarto do quadro de pessoal dispensado
Cortes de pessoal também há. Vinte dos cerca de oitenta funcionários e assessores do BE desaparecem dos quadros. «Essencialmente, serão os elementos que acompanhavam os deputados que agora não foram eleitos», explica fonte partidária. «O vínculo de alguns assessores e funcionários ligados não foi renovado», diz Pedro Sales. O BE deixou de ter deputados eleitos por três distritos: Braga, Coimbra e Leiria.
A poupança poderá ainda ter efeito nas sedes. Das 90 instalações que o partido possui no país, algumas correm o risco de fechar. E as concelhias do BE têm agora mais pressão para angariar receitas próprias e pesar menos nos gastos. Quanto às iniciativas de Verão do BE, também vão ser mais poupadas.
‘Praia’ suspensa
Os comícios de praia que percorreram o litoral no último ano não terão sequência. «Vamos limitar bastante os comícios de praia», informa fonte do BE. O congelamento de iniciativas não afectará a realização da rentrée partidária, marcada para Setembro. Para este evento, o Socialismo 2011, o BE tem até a ambição de levar mais participantes a Coimbra, a cidade escolhida.
Muro de lamentações
Entretanto, a discussão interna sobre os resultados eleitorais desastrosos decorre com a realização de plenários de militantes e no esquerda.net, o portal do BE na internet.
Há opiniões para todos os gostos, linguagem livre e ironia.
Helena Carmo, militante que esteve presa num processo relacionado com o grupo terrorista FP’25, chega a escrever: «Podem usar a má-língua do passado: ‘Foram os Metralhas’» (alcunha que os adversários puseram à sua tendência).
E o histórico da UDP Mário Tomé fustiga a ‘dissenção de Rui Tavares’ para o Grupo Verde Europeu, num diálogo imaginário com Daniel Cohn-Bendit que começa assim: «Ó Daniel! O Louçã ontem tratou-me mal, posso vir para cá depois de amanhã?».
manuel.a.magalhaes@sol.pt