Autor: Vitor Bento
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24 Jan 2009
24 Janeiro de 2009
EPPUR SI MUOVE
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A má gestão política do novo regime cambial fez-nos
acumular enormes desequilíbrios macroeconómicos que se podem resumir no seguinte:
a) um excesso de despesa (sobre o PIB), na ordem dos 10% ao ano, durante uma década, de que resultou um enorme endividamento externo (200% do PIB, em acumulado total) que terá que ser pago com dinheiro ou património;
b) falta de competitividade para poder exportar o necessário para gerar as receitas de que precisamos para pagar o que consumimos e o que devemos.
Perante isto e não dispondo dos instrumentos cambial e monetário que nos permitiriam resolver o problema com as receitas de manual, só vejo três saídas:
1) redução concertada dos salários e/ou aumento do horário de trabalho (o sucedâneo de uma desvalorização que não podemos fazer), reganhando competitividade e reduzindo a despesa interna;
2) um massivo desemprego, à medida que as actividades não competitivas vão fechando (e obtendo com isso a redução da despesa interna, embora eventualmente para além do que seria necessário) e até que o aparelho produtivo se reestruture ou parte da população emigre;
3) um milagre.
A primeira é a via do planeamento e da concertação social e que exige um enorme pacto social e político que envolva os principais partidos e as forças sociais, e que teria que envolver ma redução do preço dos bens e serviços não transaccionáveis (nomeadamente nos sectores regulados), que amenizaria o impacto social da redução dos salários. Tem muitos riscos e é de dificílima implementação. É a mais socialista das vias, mas como é apelidada de neo-liberal, é liminarmente excluída pela Inquisição Ideológica.
A segunda via é a do ajustamento automático. Por isso mesmo é a mais (neo) liberal de todas, mas como é percebida como sendo imposta pelo destino, não obstante a grande preocupação social que lhe está subjacente, é aceite pela Inquisição Ideológica. É a de mais fácil aplicação por qualquer governo, bastando-lhe manter o “cruise control”.
E a terceira é a via da fé, que requer o empenho divino. Eu sei que quando Moisés chegou ao mar, este se abriu e ele passou incólume, mas eu, pelo sim, pelo não e sem duvidar da experiência bíblica, prefiro apanhar o barco, porque não creio que estejam reunidas as condições para a intervenção sobrenatural…