arnie, acho que estás a exagerar um bom bocado...
arnie Escreveu:Eu moro à frente de uma escola preparatória e fico assustado com o que vejo. A maioria dos pais deste país não faz a menor ideia dos filhos que têm.
Por cada 1 bem comportado existem uns 20 que são autênticos terroristas.
Não sei em que te baseias para chegar a estes números - 95% são mal comportados?
E já agora, qual era a percentagem de mal comportados na geração anterior?
arnie Escreveu:Pelo menos fora das paredes de casa e fora do recinto escolar.
Olha eu quando era puto (final da década de 70 e início da de 80) dificilmente seria considerado bem comportado. Estava sempre a inventar novas partidas para fazer. E lembro-me que tinha muitos colegas bem piores que eu. E isto não foi ontem: foi há mais de 30 anos (eu tenho 42).
arnie Escreveu:Tudo o que é paredes, alumínios, caixotes do lixo está tudo escrito. Nas traseiras dos prédios é só papeis, latas de sumos, beatas de cigarros.
Há 30 anos atrás, Lisboa era uma cidade imunda. E não eram só os putos que deitavam lixo para o chão: era novos, velhos, homens e mulheres. Ainda me lembro de ver lixeiras a céu aberto em plena cidade de Lisboa - ou seja, sítios onde não havia contentores de lixo e o pessoal deitava o seu lixo para um monte de sacos que ficava ali a feder até o carro do lixo o recolher. Alguns iam simplesmente despejar o balde. Lembro-me de haver greve dos homens que recolhiam o lixo... o cheiro era de tal ordem que era necessário regar o lixo com gasolina e deitar-lhe fogo para acabar com o cheiro. Era a imundície total. Isto foi em Lisboa, não muito longe do centro e não me contaram: fui eu que vi.
Onde hoje vês graffitis nas paredes, há 30 anos vias grandes pinturas murais a apelar ao voto no MRPP ou a dizer mal do Mário Soares ou do Sá Carneiro. As mensagens de teor político eram escritas em qualquer lado e muitas ficavam lá durante anos (aliás, algumas perduram até hoje).
Via e continuo a ver pessoas de todas as gerações a deitarem porcarias para o chão: papéis, beatas, maços vazios de tabaco, plásticos... o que for.
Aqui há uns anos percorri a pé um caminho que ia paralelo à linha do Norte na zona do Ribatejo (perto de Santarém). Era impressionante o número de latas, embalagens e garrafas que havia ao longo da linha, certamente atirados pela janela. E certamente não eram só putos que os arremessavam. Eu próprio já vi adultos a lançar latas da janela do comboio, em diversas ocasiões.
Pode parecer mais fácil atirar as culpas da imundície para cima dos mais jovens, mas infelizmente os mais velhos não são muito diferentes nesta matéria.
arnie Escreveu:Pessoas idosas a passar na rua, crianças menores a passar com os país e não há o menor cuidado no falatório, é gritar em plenos pulmões alhos e bugalhos.
Vivi 30 anos em Lisboa e sempre ouvi barulho na rua: gritos, buzinas, vendedores ambulantes, miúdos aos berros; peixeiras e vendedeiras de fruta a vender clandestinamente no meio da rua fazendo um grande estardalhaço e que destavam a fugir rua acima quando vinha a polícia, o que acontecia quase diariamente; adultos a gritar palavrões bem alto; uma velha que gritava "miiiiiiilho" a plenos pulmões para chamar os pombos... não me parece que o hábito de falar alto na rua seja de agora e muito menos exclusivo dos mais novos. Acima de tudo é uma questão cultural no nosso país.
arnie Escreveu:Repito, a maioria destes pais não sabe o filho que tem, ou pelo menos finge não saber.
Não tenho qualquer base para afirmar se sabem ou não. Mas eu pergunto: e há 30 anos, sabiam?
arnie Escreveu:Eu gostava de ver os pais passarem um dia inteiro a olhar para escola, para o que se passa fora das paredes da escola e ver o que os nossos jovens, o futuro deste país, fazem.
O eterno conflito de gerações. Sempre existiu e sempre existirá. Sobretudo porque muitos pais ficam parados no tempo, esquecendo-se que eles próprios quando novos já não faziam as coisas à maneira da geração anterior.
arnie Escreveu:Ainda à 2 anos houve um grupo que entrou no meu prédio e passou a tarde a passear no elevador, para cima e para baixo, tocando às campainhas, até que uma vizinha pegou numa frigideira e espetou-a na cabeça de um deles.
Há 34 anos, mais ou menos (ou seja em 1977, se a memória não me falha), eu lembro-me de vir da escola com alguns colegas e haver um deles que tocava às campaínhas todas e fugia. Isto foi em Lisboa, há 34 anos. Não me digas que pensavas que a malta da minha geração não gostava de fazer brincadeiras dessas? Ainda por cima, não havia computadores nem Internet, a malta tinha de se divertir com qualquer coisa
arnie Escreveu:Veio a policia, o INEM, veio o pai que quase engolia a minha vizinha, houve queixa da policia, até que... aquele pai veio finalmente a saber quem era o filho. Para encurtar a historia, o pai retirou a queixa e veio pedir desculpa à minha vizinha pelos transtornos que o filho lhe causou.
Em meados da década de 1970, eu era um puto endiabrado e barulhento. A vizinha de baixo de vez em quando passava-se e chegou a chamar a polícia por causa do barulho.
Mais uma vez, o que vejo é o conflito de gerações. Os mais velhos não têm pachorra para aturar as brincadeiras dos mais novos. Eu hoje também não acho muita piada às brincadeiras parvas dos putos que andam na rua, mas não consigo esquecer-me que também já fui assim - um diabrete que gostava de pregar partidas. E, como já referi acima, tive colegas que eram bem piores que eu.
As brincadeiras de hoje são as mesmas - mudam apenas os protagonistas.
arnie Escreveu:Isto são dois exemplos do que acontece todos os dias, em todo o país, em todas as escolas, em todos os bairros que circundam as escolas.
Na minha rua as coisas que aconteciam diariamente eram do tipo: bombas de carnaval a explodir (por vezes fora da época própria), grupinhos de putos desocupados que vinham das barracas e andavam à coca a ver se conseguiam gamar os cromos que eu ia comprar à papelaria (e uma vez até conseguiram); putos a jogar à bola no meio da rua, por vezes de forma muito ruidosa; mães a arrastar os filhos para a escola primária pela mão e os putos num berreiro porque não queriam ir à escola. Tudo coisas que ainda se pode observar nos dias de hoje em muitos locais - nalguns casos as barracas deram lugar a bairros sociais.
arnie Escreveu:A nossa juventude está doente e se os pais, os professores, a sociedade em si não parar e pensar seriamente no que está acontecer... vamos continuar a ter gerações à rasca por muitos, muitos anos.
A sério, eu gostava de perceber em que é que esta juventude se diferencia na anterior nos seus comportamentos e nas suas brincadeiras. É que eu vejo críticas a comportamentos que há 30 ou 35 anos eu já via abundantemente.