A verdade sobre a China e a Índia
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Em relação à Índia, o que me parece é que há realidades muito diferentes em função do lugar. Bangalore é uma coisa, Nova Delhi é outra.
Em relação à China, esta tese de que o comércio externo não é assim tão importante, parece-me fazer muito pouco sentido. Em primeiro lugar, a base para a constituição de um volume de reservas tão alto teve de sair de algum lado. Ora as autoridades Chinesas não imprimem dólar, ou seja teve que haver balanços de pagamentos superavitários, via balança comercial ou conta de investimento externo (ou as duas).
Mas ainda assim, e assumindo que o volume de reservas que a China tem é relativamente modesto face aos programas de investimento público, qual seria o sentido de manter o yuan atrelado ao dólar. Só faz sentido se as exportações forem efectivamente o ponto chave no crescimento económico, seja na sua contribuição directa seja no benefício de outros investimentos.
É que mantendo câmbio controlado, a China perde soberania económica e deixa de ter todas as ferramentas possíveis para corrigir desvios macroeconómicos. A começar com o controlo da inflação, que cada vez mais se torna difícil. Não por acaso a China está preocupada com a deterioração do valor do dólar. Não é o problema de desvalorização de reservas, é antes a expectativa de inflação de preços e apenas a ferramenta da taxa de juros para a corrigir.
Se não houvesse uma preocupação em manter um volume alto de exportações, bastaria permitir reavaliação em alta do yuan, a inflação ficaria controlada, os juros poderiam aliviar e o crescimento poderia ser sustentado pela via da procura/investimento interno.
Este aliás parece-me ser o problema mais grave da China. Por quererem um câmbio competitivo, esquecem-se que a procura aquecida estimula inflação, e sem flutuação cambial, ficam menos protegidos no combate à inflação. E o problema é que os juros já são altos.
Em relação à China, esta tese de que o comércio externo não é assim tão importante, parece-me fazer muito pouco sentido. Em primeiro lugar, a base para a constituição de um volume de reservas tão alto teve de sair de algum lado. Ora as autoridades Chinesas não imprimem dólar, ou seja teve que haver balanços de pagamentos superavitários, via balança comercial ou conta de investimento externo (ou as duas).
Mas ainda assim, e assumindo que o volume de reservas que a China tem é relativamente modesto face aos programas de investimento público, qual seria o sentido de manter o yuan atrelado ao dólar. Só faz sentido se as exportações forem efectivamente o ponto chave no crescimento económico, seja na sua contribuição directa seja no benefício de outros investimentos.
É que mantendo câmbio controlado, a China perde soberania económica e deixa de ter todas as ferramentas possíveis para corrigir desvios macroeconómicos. A começar com o controlo da inflação, que cada vez mais se torna difícil. Não por acaso a China está preocupada com a deterioração do valor do dólar. Não é o problema de desvalorização de reservas, é antes a expectativa de inflação de preços e apenas a ferramenta da taxa de juros para a corrigir.
Se não houvesse uma preocupação em manter um volume alto de exportações, bastaria permitir reavaliação em alta do yuan, a inflação ficaria controlada, os juros poderiam aliviar e o crescimento poderia ser sustentado pela via da procura/investimento interno.
Este aliás parece-me ser o problema mais grave da China. Por quererem um câmbio competitivo, esquecem-se que a procura aquecida estimula inflação, e sem flutuação cambial, ficam menos protegidos no combate à inflação. E o problema é que os juros já são altos.
Pedro Carriço
A verdade sobre a China e a Índia
Podemos, porém, estar certos de que os pontos fracos de ambas as economias serão mantidos em silêncio.
Depois de uns tantos séculos de relativa estagnação, estes dois países, que contêm perto de dois quintos da população mundial, sentiram um crescimento das receitas notavelmente rápido nas últimas três décadas. A China e a Índia, respectivamente na indústria e nos serviços (particularmente no software, gestão de processos de negócios, etc.), têm feito enormes avanços a nível internacional, e as compras de multinacionais têm atraído grande atenção.
Algumas afirmações imprecisas têm-se tornado parte do senso comum, através da constante repetição, por vezes até sem interrupção, de relatos sobre as duas nações. Mas a maior parte daquilo que realmente acontece dentro destes dois países é ainda ignorado.
Por exemplo, em termos de valor acrescentado (o valor saído da produção depois de deduzidos os custos das matérias-primas e dos componentes), a China não é, por ora, o centro do sector industrial, ao contrário da impressão popular. Os chineses produzem cerca de 15% do valor acrescentar no sector, enquanto os Estados Unidos contribuem para perto de 24% e a União Europeia para aproximadamente 20%.
Da mesma maneira, os serviços relativos às tecnologias da informação da Índia têm conquistado uma reputação internacional, embora o número total de pessoas empregadas no sector seja inferior a 0,5% da força de trabalho indiana. Como tal, eles não podem, por si só, transformar a economia do país.
O crescimento chinês é visto, em larga medida, como sendo conduzido pelas exportações, mas o investimento interno tem sido, de facto, o principal impulsionador. Mesmo no pico da expansão do comércio global em 2002-2007, as exportações (em termos de valor acrescentado) contabilizavam para apenas um pouco mais de um quarto do crescimento do PIB, sendo que o investimento nacional contribuía para uma percentagem substancialmente superior.
Além do mais, ao contrário da crença popular, muita da significativa redução da pobreza na China ao longo das últimas três décadas não se deveu à integração na economia global, mas sim a factores internos como o crescimento do sector agrícola (onde a população mais pobre estava concentrada). Tal pode, essencialmente, ser atribuído ao investimento público em infra-estruturas rurais e, num período inicial, às mudanças institucionais na organização da produção agrária e a uma distribuição igualitária dos direitos de cultivo da terra.
Sem dúvida, a expansão das exportações de produtos manufacturados feitos com mão-de-obra intensiva tirou muitos chineses da pobreza. Isso não é verdade para a Índia, onde as exportações são ainda exigentes a nível de competências e de capital. A reforma económica tornou o sector empresarial mais dinâmico e competitivo, mas uma grande parte da economia indiana não está nesse sector (tanto público como privado). Na realidade, 92% da força de trabalho está empregada no sector informal.
A redução da pobreza na Índia tem sido importante, mas não substancial. No entanto, em relação a indicadores de pobreza que não as receitas – por exemplo, mortalidade infantil, má nutrição e abandono escolar –, a performance do país tem sido negativa (em alguns casos, até pior do que na África Subsariana).
Nos media financeiros, a China e a Índia tornaram-se figuras emblemáticas da reforma de mercado e da globalização, mesmo que, em matérias de privatização, de direitos de propriedade, de desregulação e de uma persistente rigidez burocrática, ambos os países se tenham afastado, em muitos pontos, de uma ortodoxia económica. De acordo com o muito citado Índice da Liberdade Económica, da Fundação Heritage, a China e a Índia são relegadas para o grupo de países descritos como “maioritariamente sem liberdade”. Em 2008, de um total de 157 nações, a China ficou na 126ª posição e a Índia na 115ª.
Embora as políticas económicas socialistas nos dois países proíbam a iniciativa e o empreendedorismo, um legado positivo daquele período não pode ser negado. Pode-se argumentar, por exemplo, que o socialismo chinês lançou uma rampa para o forte crescimento, particularmente, em termos de uma base sólida para a educação e saúde, a electrificação rural, uma rede de segurança permitida por uma distribuição equitativa dos direitos da terra, a descentralização económica regional e uma alta participação feminina na força de trabalho. Além do mais, uma grande parte da herança socialista em ambos os países é o efeito cumulativo do papel activo do Estado no desenvolvimento tecnológico.
Ao contrário da Índia, onde o sector empresarial privado é o sector mais dinâmico, as empresas estatais chinesas são algumas das mais bem sucedidas a nível global. Mesmo nas famosas companhias privadas como a Lenovo e a Huawei Technologies, a estrutura de propriedade é bastante complexa, e as fronteiras entre os direitos público e privado obscurecem-se. A recente compra da Volvo pela fabricante de automóveis chinesa privada Geely gerou muita carga mediática, mas muito do dinheiro foi disponibilizado pelos governos municipais.
As famílias políticas poderosas gerem a maior parte das empresas estatais. Na realidade, há algumas provas de que a esmagadora maioria dos multimilionários da China são familiares de altos funcionários do Partido Comunista. E, graças à grande quantidade de poupanças conseguidas pelos agregados chineses e pelas empresas públicas, a economia chinesa pode, por enquanto, enfrentar o desperdício e a distribuição irregular, implícitos neste capitalismo de tráfico de influências.
Mas, sem uma reforma política, a viabilidade a longo prazo do sistema está em dúvida. O próprio primeiro-ministro Wen afirmou-o num discurso em Agosto, que foi largamente noticiado no estrangeiro mas censurado pelos media chineses. Já os media globais deveriam avançar um pouco mais e começar a examinar os muitos aspectos da evolução da China e da Índia que escapam à narrativa simplista do triunfo da reforma de mercado.
Pranab Bardhan é professor de Economia, na Universidade de Califórnia em Berkeley.
Copyright: Project Syndicate, 2010.
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"A soberania e o respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um Forte, e isso é obra e serviço dos homens de El-Rei nosso senhor e, como tal, por mais duro, por mais difícil e por mais trabalhoso que isso dê, (...) é serviço de Portugal. E tem que se cumprir."
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"A soberania e o respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um Forte, e isso é obra e serviço dos homens de El-Rei nosso senhor e, como tal, por mais duro, por mais difícil e por mais trabalhoso que isso dê, (...) é serviço de Portugal. E tem que se cumprir."
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