Heróis

Acho que este artigo não passou por aqui e acho hiper interessante:
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10 Dezembro2010 | 11:45
Cristina Casalinho
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Opinião
Portugal visto de fora
O dilema da política VER MAISHoje, a área do euro discute a sua reconfiguração com a eventual criação de um emitente de dívida global
Hoje, a área do euro discute a sua reconfiguração com a eventual criação de um emitente de dívida global, harmonização de políticas orçamentais e inédita transferência de poder para instâncias centrais (leia-se: dominadas pela "praxis" alemã) europeias. A superação da crise europeia não soluciona, no entanto, o principal desafio da economia portuguesa. Nos EUA, co-existem o Mississípi e o Alabama com a Califórnia e a Virgínia e, em Itália, o Norte com o Sul. Uma solução europeia não é uma solução para Portugal, embora também o seja.
Como se tem referido persistentemente, a maior dificuldade presente da economia portuguesa é o baixo potencial de crescimento. Foi, em grande medida, a reduzida expansão nominal do produto que fez agravar o rácio da dívida pública face ao produto e que acentua as dúvidas dos investidores internacionais sobre a capacidade de pagamento futuro das responsabilidades actuais.
Para melhorar as perspectivas de evolução do produto potencial, o receituário está identificado e é bem conhecido. Tal implica: uma reorientação do investimento para sectores de bens transaccionáveis (sobretudo, manufacturas); aumento da poupança para as empresas disporem de uma base de capital doméstica indiferente aos humores dos aforradores não-residentes; maior concorrência nos mercados do produto para reduzir alguns importantes custos de contexto como os preços da energia, telecomunicações, transportes, entre outros; melhor qualificação da mão-de-obra; estabilidade e simplificação do quadro fiscal e regulamentar; mais célere decisão judicial; melhor ordenamento e planeamento territorial; maior mobilidade laboral e social; aumento da natalidade.
Porém, mesmo que Portugal concretize todos estes pressupostos, que são condição necessária para evitar o definhamento relativo, o regresso ao processo de progresso relativo de rendimento não está assegurado. A prossecução destes objectivos garante que, no futuro, Portugal estará melhor que hoje no que respeita ao rendimento e ao crescimento potencial; porém, não pressupõe que progredirá na lista dos países europeus mais ricos. É condição necessária, mas não suficiente. A discussão em curso do Estado Social, de algum modo, também deve entroncar nesta lógica. O Estado Social deve existir para quem dele necessita e não para todos de forma indiscriminada, porque é inviável e injusto. Querer um Estado Social paritário é negar a possibilidade de melhoria das condições de vida de uma parcela significativa da população. O objectivo individual deveria ser cada um depender o menos possível do Estado, para este existir adequadamente para quem dele decisivamente necessita.
A receita, que Portugal terá e estará a aplicar, foi prescrita e adoptada por outros países dentro e fora da Europa. Estes países são concorrentes directos de Portugal e, no passado recente, foram mais eficazes na persecução destas metas. Não basta fazer o que tem de ser feito para progredir: é imperioso fazer melhor que os outros. Se não se fizer mais e melhor, fica-se inevitavelmente na mesma posição relativa, muito embora se tenha alcançado progressos absolutos notáveis. A subida da escada obriga sempre à saída da zona de conforto: a ser mais e melhor. Apenas fazer a coisa certa, quase sempre, não é suficiente para alcançar o resultado desejável.
Economista-chefe do Banco BPI
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