Elias Escreveu:Mares Escreveu:Ola Elias,
achei interessante esta noticia. Ve o que ainda ontem falamos:
Elias: "É claro que podemos mandar estes princípios todos para o galheiro e estabelecer por decreto que os salários são iguais para toda a gente. Acabam-se as desigualdades e ficamos todos bem (e é claro que uma opção dessas tem consequências para a nossa economia, mas isso agora não interessa nada)".
Mares: "Nem concordo contigo, nem discordo. Parece-me que, se nivelarmos por cima teríamos consequências bem mais graves, do que nivelarmos pela nossa produtividade. Mas claro, que tem muita gente que irá discordar."
Tens mais algum comentario a fazeres?
Olá Mares,
Desculpa só responder agora mas estive ausente uma grande parte da tarde.
Eu acho que os salários devem reflectir a produtividade, mas não acho que isso possa acontecer por decreto. Quem determina a produtividade é o mercado (que vai premiar o bom desempenho de alguém) e não o Estado ou um qualquer chefe com base em critérios discricionários, muitas vezes subjectivos e arbitrários.
R: Tal como já lí num dos posts anteriores, é uma regra de mercado as pessoas receberem pela sua produtividade, pelo lucro que geram. Se tudo estivesse bem na economia portuguêsa, não faría nenhum sentido estarmos discutindo isso aqui. Infelizmente não é assim.
Como diz o Migluso: "educação, formação e incentivo ao espírito empreendedor. Um bom ambiente político, fiscal, judicial e social é fundamental. Tudo o que o nosso Estado não tem."
Infelizmente a realidade é diferente e vêmos que é preciso haver uma "terapia de choque". Como podêmos acelerar este processo? Por educação, mudança de mentalidades ou por decreto? As duas primeiras exigem vários anos e mudar a cultura de um povo é algo muito difícil, senão quase impossível. Então o que fazer?
Na minha opinião é então preciso uma "terapia de choque". As pessoas precisam sentir a necessidade de progredír, terem espírito empreendedor, existír capital de risco e as pessoas estarem dispostas a assumírem riscos. Infelizmente, dentro da nossa sociedade criou-se a cultura da aversão ao risco. Vou dar alguns exemplos ridículos da mentalidade do nosso povo, mas que são a pura realidade: "ahh, Vou comprar uma casa, para não pagar aluguer",... "vou comprar no supermercado pois lá irei poupar uns centavos (pq tereí de dar esse dinheiro ao velho da esquina?)",... "tem muita gente que enriquece, mas não deverá ser com o seu suor (inveja)",..."depois da casa, em seguída vou comprar um carro novo",... "se tivermos dinheiro, vamos ao de férias ao Brasil, senão podemos ir para a Serra da Estrela",..."Se o nosso filho não entrar na universidade A, ele concorre para a B (não interessa para o quê que serve... o que interessa é que ele tenha um canudo",... "Quando o meu filho se formar, o tio dele arranja-lhe um emprego",...."o engenheiro da câmera é a pessoa indicada para lhe darmos o projecto da nossa casa nova",...
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O facto de em Portugal termos (em média) salários baixos é uma consequência directa do nosso baixo nível de produtividade.
R: Não sei o que vêm primeiro....se é a produtividade ou se são os salários baixos.... (é como o ovo e a galinha

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O facto de em Portugal termos uma grande desigualdade de rendimentos (que se traduz na existência de muitos casos de salários altos) é uma consequência directa do nosso elevado nível de corrupção e da cultura do favor, que valoriza a amizade mais do que o mérito.
R: As empresas privadas precisam de serem lucrativas. Mas o lucro não é distribuído por todos os colaboradores. Isso leva à desmotivação das estruturas mais baixas. Um empresário que valoriza a amizade, é um empresário morto....
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Soluções para isto?
Penso que é importante por um lado aumentarmos o nosso nível de produtividade (genericamente falando) e por outro lado reduzirmos o nível de corrupção existente. Acontece que ambos os aspectos são contrários à cultura dominante (que premeia a mediocridade e favorece o "conhecimento") e por isso não acredito que as coisas mudem nos próximos anos, pois as questões culturais podem levar uma geração ou mais a mudar.
R: A produtividade só pode ser aumentada pela educação. Mas não é educação somente pelo nível de instrução académico, mas sim pelo profissionalismo, pelo grau de envolvimento do trabalhador com o seu posto de trabalho. Ao mesmo tempo, o trabalhador tem de se sentir respeitado e seu trabalho valorizado. Ele deverá ser envolvído nos objectívos da empresa e deverá participar nos lucros e na gestão/organização da empresa ou do seu posto de trabalho.
Outro aspecto tem a vêr com a nossa disposição a corrermos riscos, isto é, sermos empreendedores. Isso deverá fazer parte da nossa formação. Deverá haver maior facilidade de empréstimo pelos bancos para a criação de empresas. O que vimos até agora é que era mais fácil um casal conseguir um emprestimo de 150 mil euros para comprar uma casa, do que pegar nesse dinheiro e o aplicar num negócio. Além disso, os pais induziram nos filhos que um futuro bom era estudarem e serem "doutores". Isso foi mais um erro. Desprezámos quem trabalhava em detrimento de quem usa um fato.
E outras tantas coisas.....
O nível de corrupção também tem a vêr com o nosso nível de formação cívica. É necessário criar a cultura de denunciar o clientelismo e o favorecimento ilícito. Quem nunca ouviu um exemplo de corrupção? E quem denuncia? Então é preciso mudar. Estamos numa fase em que tudo isso poderá ser posto em causa e haver sim uma "terapia de choque". As mudanças ocorrem sim, precisamos de acreditar nisso.
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1 abraço,
Elias