O Congresso ordenou e a Fed cumpriu.

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O banco central norte-americano revelou hoje os nomes dos beneficiários de ajuda financeira entre 1 de Dezembro de 2007 e 21 de Julho de 2010.
A Reserva Federal norte-americana, a mando do Congresso, divulgou hoje os nomes das entidades que receberam 3,3 biliões [trillion na métrica anglo-saxónica] de dólares em ajudas destinadas a travar o pior movimento de pânico dos mercados financeiros desde a Grande Depressão.
A Fed divulga hoje os dados no seu “website”, de forma a harmonizar-se com a decisão da lei Dodd-Frank, de Julho passado, que reformou a regulação financeira.
A informação - que inclui também os montantes das cerca de 21.000 transacções decorridas neste âmbito, bem como as taxas de juro que foram impostas - abrange seis programas de concessão de empréstimos, “swaps” cambiais com outros bancos centrais, compras de activos endossados a hipotecas e os resgates do Bear Stearns e da seguradora American International Group (AIG), refere a Bloomberg.
“A Reserva Federal adoptou práticas sólidas de gestão de risco na gestão de todos estes programas, não incorreu em quaisquer perdas no âmbito dos programas que já foram concluídos e não espera ter perdas com os restantes”, salientou o banco central norte-americano em comunicado.
Ainda assim, sublinha a Bloomberg, a divulgação destes dados poderá aumentar as críticas à Fed, que tem enfrentado alguma contestação desde que a 3 de Novembro passado decidiu adicionar 600 mil milhões de dólares de estímulos monetários à economia. A 17 de Novembro, os principais representantes republicanos no Congresso disseram, numa carta enviada ao presidente da Fed (Ben Bernanke), que esta medida poderá alimentar a inflação e bolhas nos preços dos activos.
“Esta divulgação surge num momento politicamente inoportuno para a Fed”, comentou à Bloomberg uma responsável da Brookings Institution, Sarah Binder, cuja investigação se focaliza no relacionamento do Congresso com a Reserva Federal. “Precisamente numa altura em que Bernanke está a tentar defender a Fed das críticas dos republicanos relativamente às suas compras de activos, reabrem-se as feridas com que a Reserva Federal ficou devido à crise financeira.
Os dados hoje revelados pormenorizam a dimensão do apoio do banco central, que foi concedido não só a entidades bancárias mas também a empresas como a General Electric.
Dois anos e meio de ajudas e resgates
Esta informação diz respeito às ajudas concedidas entre 1 de Dezembro de 2007 e 21 de Julho de 2010, quando o presidente Barack Obama promulgou a lei Dodd-Frank – que visa a divulgação dos nomes das empresas que receberam ajudas da Fed.
Os congressistas há muito que exigiam a divulgação destes dados, tendo assim levado a melhor sobre as objecções da Fed. A Reserva Federal comprou obrigações de curto prazo às empresas, activos de risco ao Bearn Stearns e mais de um bilião de dólares em dívida imobiliária norte-americana.
Entre os programas de emergência que foram accionados contam-se, entre outros, o famoso programa governamental de resgate de activos tóxicos (TARP – Troubled Asset Relief Program), um programa que concedeu milhares de milhões de dólares em crédito a pequenas empresas, estudantes e detentores de cartões de crédito (TALF - Term Asset-Backed Securities Loan Facility), bem como o Term Auction Facility (TAF) – que ajudou a banca a conseguir financiamento mais barato.
Bernanke estendeu as fronteiras dos poderes da Fed, ao recorrer à secção 13(3) da Federal Reserve Act, que lhe permitiu ajudar entidades não-bancárias, “em circunstâncias invulgares e exigentes”.
"Discount window" ainda em tribunal
O Congresso não incluiu na obrigação de divulgação, pela Fed, a chamada “discount window” (janela de desconto), uma vez que o banco central norte-americano é alvo de um processo em tribunal, desde 2008, intentado pela Bloomberg, que visa que a Reserva Federal identifique os beneficiários deste programa, que em Outubro de 2008 atingiu um pico de 110,7 mil milhões de dólares.
Recorde-se que a “discount window” é um instrumento de política monetária através do qual as entidades financeiras em situação de aperto podem pedir dinheiro emprestado ao banco central, a curto prazo.
A “discount window” foi um dos primeiros instrumentos a que o presidente da Fed, Ben Bernanke, recorreu para facilitar as condições de financiamento ao mercado bancário quando a crise do crédito começou a intensificar-se.
Em Agosto de 2007, a Fed estendeu a maturidade dos empréstimos “discount window” para 30 dias e em Março de 2008 alargou-a para 90 dias, de forma a impulsionar a liquidez nos mercados de financiamento interbancário, depois do quase colapso do Bear Stearns naquele mês. O Bear Stearns acabou por ser fundido com o JPMorgan Chase, com o apoio da Fed.