Entrevista a Alexandre Santos - Presidente da JM
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Entrevista a Alexandre Santos - Presidente da JM
Como toca também em vários assuntos de carácter nacional, optei por não deixar no tópico da JM.
Entrevista longa, mas interessante.
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Entrevista longa, mas interessante.
"É necessária uma cultura de mérito em Portugal", diz presidente da JM
Chegou a hora de colocar um ponto final nas meias palavras e nos eufemismos quanto à real situação do país. Alexandre Soares dos Santos, presidente do grupo Jerónimo Martins, faz uma reflexão acutilante sobre a conjuntura actual e constrói um diagnóstico com base em tudo o que aprendeu numa intensa vida empresarial de cinco décadas. Advoga uma reformulação profunda do actual sistema político, aponta o dedo às dificuldades criadas à iniciativa privada e vai mais longe ao defender um amplo consenso nacional para encontrar aquilo que considera ser mais urgente: "Um rumo para o País". Quanto à Jerónimo Martins, revelou que o Brasil e mais dois países estão na mira da expansão, ao mesmo tempo que considera ser cada vez mais difícil manter a sede em Portugal.
Cerca de 23 anos depois, a História poderá repetir-se com a vinda do FMI ou de outro apoio externo no âmbito da UE. Considera que isto é um atestado de incompetência a Portugal e aos portugueses?
Um atestado de incompetência aos portugueses não é, certamente. Há algumas semanas, tive ocasião de dizer, a um membro do Governo, que eles fazem as coisas e utilizam o dinheiro como querem e lhes apetece e depois mandam-nos a factura - a nós, portugueses, que não fomos chamados rigorosamente para nada. O que se tem vindo a passar, de há uns anos a esta parte, é que o Governo e o Parlamento são uma e a mesma coisa, decidem determinados caminhos sem terem em consideração as necessidades do País, antes observando as suas próprias, que servem objectivos partidários.
Alimentam-se e decidem-se, por exemplo, projectos megalómanos que têm como único resultado o crescimento do endividamento nacional. Aliás, em Portugal sempre se falou muito no défice, mas sempre considerei que o grande problema seria a dívida pública e isso é algo que sabemos pela nossa própria vida pessoal - se gastamos mais do que podemos, o resultado só poderá ser negativo. Por outro lado, criou-se, em Portugal, uma coisa chamada Estado social e, em nome desse Estado social, cometeram-se as maiores barbaridades... até que chegou um dia em que o credor veio pedir contas. É exactamente nesse ponto que estamos, mas, em vez de termos a humildade de reconhecermos os nossos erros e corrigi-los, resolvemos adoptar o pior caminho, que consiste em colocar a culpa nos outros... nos americanos, na crise mundial, etc. Mas a verdade é que, se este país tem problemas, isso deve-se à incompetência e irresponsabilidade dos diferentes governos que nos têm liderado.
Independentemente dos governos?
Infelizmente, desde o último governo do Prof. Cavaco Silva, a situação têm-se deteriorado. E mesmo depois disso, em executivos que continham bons governantes, os elementos competentes foram absolutamente enrolados pelas questões partidárias. A verdade é que o País deixou de ter um rumo, ninguém sabe para onde vamos e resulta claro que não há hipótese de governar e de progredir sem se saber onde estamos e para onde queremos ir. Mas o que mais impressiona é que esta é uma situação que persiste e a irresponsabilidade mantém-se. Dou-lhe um exemplo: como é se admite que, estando o País em gravíssimas dificuldades financeiras, se ande a discutir desta forma um orçamento que entra em vigor no próximo ano, quando, na realidade, já devíamos ter colocado um "travão às quatro rodas" na despesa com um orçamento rectificativo. Isso ainda não aconteceu e é precisamente por essa razão que, em 2011, vamos ter cortes na despesa totalmente estúpidos, definidos sem qualquer sentido, prejudicando pessoas que não têm que ver com a situação criada, em vez de se adoptarem medidas mais credíveis. Pergunto, por exemplo, como é possível continuarmos a discutir projectos como o TGV, quando sabemos, de antemão, que não iremos conseguir financiamento? Porque se continua a mentir à sociedade portuguesa e a alimentar projectos para os quais não há dinheiro?
Posto isto, considera que a entrada do FMI ou do fundo de resgate europeu seria positiva ou, por outro lado, uma derrota para Portugal enquanto Nação?
Respondo-lhe com o que me foi dito por um responsável político deste país: a entrada do FMI é inevitável por serem os únicos capazes de tomar decisões que ninguém, no plano interno, terá coragem de assumir. Falta de coragem por razões partidárias, por medo de perder votos, o que é lamentável.
Falta sentido de Estado na classe política?
Claramente. Uma missão política requer espírito de sacrifício, de missão, porque é realmente dura a todos os níveis. Hoje, tenho muita pena que elites importantíssimas tenham desaparecido da vida política, e aqui recordo nomes como Mário Soares, Sá Carneiro, Hernâni Lopes e outros. Actualmente, somos governados e orientados por pessoas e deputados de quem não sabemos minimamente o que são ou o que fizeram na vida e que tomam decisões pelo País. Dou-lhe o exemplo do lançamento das SCUT como uma evidência da maior incapacidade política. Mais: se esse processo tivesse acontecido numa empresa privada, tenho a certeza de que os responsáveis já teriam sido demitidos.
Gostaria de estabelecer aqui uma comparação de processos entre as SCUT, que antes eram gratuitas e agora passam a ser pagas, com a redução de salários na Função Pública, ou seja, algo que se proporciona ao cidadão para lhe ser retirado logo depois. Em que posição fica o Estado no meio de tudo isto?
Vou regularmente a Aveiro pela A8 e ainda não consegui compreender como é que, de Leiria até à Figueira da Foz, existem três faixas de rodagem para cada lado... Em primeiro lugar, não percebo porque razão existe uma auto-estrada e, depois, como é que esta tem seis pistas. Fazemos quilómetros e quilómetros sem ver um único carro naquela via. Quem é o responsável por este dinheiro esbanjado?
A culpa morre demasiado solteira em Portugal, é isso?
Tem de haver mecanismos para que a incompetência não seja julgada apenas nos actos eleitorais. O Tribunal de Contas tem de ser mais activo e as suas auditorias devem ter consequências vinculativas, que podem ir à demissão de um governante, enquanto o Parlamento deve exercer uma fiscalização que, actualmente, não é feita. Não podemos admitir que as contas do Estado de três anos sejam aprovadas na Assembleia da República numa única tarde. Por outro lado, as mesmas regras de conduta que existem nas empresas privadas devem ser aplicadas na acção governativa e nas empresas públicas. Quanto é que não custam, ao País, todos os concursos não executados e todas as admissões sem cultura de mérito, antes orientadas por critérios políticos?
Adoptando aqui o tema desta edição do OJE, considera, então, que o fim da impunidade e a instituição de uma cultura de mérito seriam uma das prioridades para os próximos 1000 dias?
Absolutamente. O Estado deveria apenas efectuar admissões por concurso, à luz do currículo dos candidatos e das suas aptidões, e não por nomeação ministerial. Dou-lhe o exemplo inglês, em que o Primeiro-Ministro dispõe de um leque muito reduzido de nomeações, enquanto tudo o resto é predominantemente constituído por funcionários de carreira, que tiveram, e têm, as suas avaliações por mérito e objectivos para cumprir. Em Portugal, existia uma figura semelhante, a dos directores-gerais, conhecedores da sua missão, mas, actualmente, ministros e secretários de Estado nomeiam pessoas sem qualificação, o que começa por estar errado, porque são os próprios governantes a desconhecer os assuntos com que têm de lidar. Em suma, admissões por mérito, avaliações sérias de desempenho e objectivos claros, os quais, não sendo cumpridos, devem levar a consequências. Na verdade, todos têm direito ao trabalho, mas ninguém tem direito a ficar num emprego a vida toda. O trabalho é um direito, mas o emprego conquista-se. Em Portugal confunde--se muito estes conceitos, mas, enquanto assim for, vamos continuar a ver o País a cair. Há uma característica muito nossa, que dificulta as coisas: o português resigna-se, diz que é a "vontade de Deus". Mas Deus não tem nada que ver com isto.
Acha que a sociedade portuguesa está assim - resignada, amorfa, sem motivação?
Tirando a juventude! Os jovens portugueses são, actualmente, uma geração fabulosa.
Mas, já que fala nos jovens, há um dado que não podemos aqui ignorar: estima-se que exista, actualmente, mais de 20% do chamado desemprego jovem. Uma situação que já dura desde o eclodir da crise financeira, há mais de três anos, e que, ao que tudo indica, não irá alterar-se nos próximos dois ou três. Por outro lado, os que trabalham, ganham mal ou não encontram, no mercado, resposta às suas habilitações. Não corremos o risco, com tudo isto, de ter uma geração inteira irremediavelmente perdida?
Tenho quatro netos que estão prestes a sair da Universidade e digo--lhes frequentemente que devem encarar a hipótese de ir para o estrangeiro, porque o mais certo é não encontrarem emprego em Portugal. Isso, confesso-lhe, incomoda-me muito. Considero dramático que jovens saídos das universidades não consigam trabalho ou, aquele que encontram, não seja minimamente interessante. E digo-lhe que eles têm qualidade e saem razoavelmente bem preparados e rapidamente absorvem as necessidades das missões que vão desempenhar, como o atesta a nossa experiência aqui, no grupo Jerónimo Martins. Aquilo que considero dramático é que essas necessidades são cada vez menores, porque não há novos investimentos, não há crescimento. Pergunto: para onde irá toda esta gente?
Estamos perante uma inevitabilidade. O nosso país é, de facto, pequeno...
Considero que a situação de crise em Portugal não remonta a três anos, como disse. Há três anos, surgiu uma crise financeira, isso sim. O nosso problema é estrutural e tem muito mais tempo do que isso. Retomo o que lhe disse, e aponto esta situação como uma consequência da tal falta de rumo político e da quebra dos valores fundamentais, em especial os que se relacionam com a ética. Trata--se de uma degradação que não se nota de um dia para o outro. Hoje, se reparar, o investimento estrangeiro fugiu do nosso país, enquanto o nacional é cada vez mais pequeno, porque há uma aversão dos políticos, e até da população em geral, à iniciativa privada. As pessoas gostam de se recolher debaixo do abrigo do Estado, pensando que este as protege de tudo, o que leva a uma crise de ambição sob a ilusão de uma falsa segurança. Não há incentivo para alterar o estado de coisas, para começar projectos novos, e há uma descrença profunda. Por isso, quando assisto às críticas no Parlamento aos lucros da Jerónimo Martins, e falo apenas do meu caso, estão a convidar-nos para irmos embora, porque não percebem, ou não interessados em entender, que, numa empresa como a nossa, Portugal tem cada vez menos peso. A Polónia representa hoje mais de 50% das nossas vendas, tudo isto numa única companhia, quando, em Portugal, temos quatro ou cinco. Fico revoltado quando oiço críticas que ignoram o facto de os nossos resultados terem origem predominantemente na Polónia, onde já investimos mais de 1 bilião euros, que ainda não recuperámos. Os números são altos, mas quem critica esquece-se, também, de que esta é uma companhia que caminha para os 10 mil milhões de vendas e que emprega mais de 50 mil pessoas. Portugal é, em suma, perfeitamente subsidiário para o grupo. Por outro lado, enquanto na Polónia sou bem recebido e a iniciativa privada é altamente estimulada, com um sistema de justiça e fiscal que funcionam, em Portugal, verifica-se exactamente o contrário. Mas a verdade é que, sem ganhar dinheiro, não se faz investimento, não se pagam dividendos, não se pagam impostos nem se proporcionam aumentos de salário. Questionar o lucro de uma empresa, ignorando aquilo que ela produziu, é um absurdo e um atestado de ignorância a quem profere essas críticas. Pergunto, aliás: se não houver lucros da parte das empresas, o Estado vive de quê? Tem, naturalmente, de ir buscar ao bolso dos cidadãos aquilo que as empresas do próprio Estado não produzem. É uma situação que me revolta.
Então porque mantém a sede em Portugal?
Temos, no nosso Conselho de Administração, quatro elementos estrangeiros e um que não vive em Portugal que me perguntam muitas vezes o que continuamos a fazer aqui. É um problema complicadíssimo: por um lado, há a família, que não quer sair de cá (afinal, trata-se de uma companhia que nos pertence desde 1920). Mas, por outro lado, temos a realidade do negócio: porque razão havemos de continuar aqui, enfrentando uma carga fiscal absolutamente brutal, quando podemos fazê-lo noutro lado qualquer, mesmo mantendo a utilização dos nossos quadros portugueses? Aliás, com todas as medidas que vamos enfrentar no próximo ano, esta é uma questão que se coloca cada vez mais.
Quais são as suas expectativas para 2011?
Estou francamente preocupado com o que aí vem. As famílias vão, pela primeira vez, sentir a crise de forma muito intensa. Preocupa-me, por exemplo, a queda nas pensões, que já eram pequenas; vejo, por outro lado, que são cada vez mais as famílias que recorrem ao Banco Alimentar contra a Fome. No plano económico, não se vê investimento e assiste-se a quebras em sectores importantes. E creio que esta será uma situação difícil não apenas em 2011, mas nos próximos três ou quatro anos.
Acredita que teria sido possível um Orçamento que tivesse olhado mais para as famílias ou, como disse Eduardo Catroga, a economia ficou encurralada e não se pode agora fazer mais nada?
Este Orçamento não foi preparado com o cuidado e com o tempo necessários, fazendo, aliás, acreditar na ideia de que alguém impôs este OE a Portugal. Estamos agora a cortar sem critério para cumprir os objectivos, quando deveria ter existido um trabalho prévio e ponderado que observasse a nossa situação de défice e de dívida atempadamente. Por outro lado, considero terrível o que se passa com os salários da função pública: foram aumentados de acordo com um ciclo político para, agora, serem cortados. Ora, isto não se faz. Não se pode fazer em nome do que quer que seja. Já defendi anteriormente, mas repito-o: era preferível propor mais horas de trabalho, reduzindo o custo por hora, do que reduzir salários. Teria sido mais justo assim. É preciso olhar para as pessoas e ter em conta que elas assumiram os seus encargos e que têm as suas despesas, que são legítimas e necessárias. E não me falem em gastos supérfluos ou no endividamento excessivo das famílias, porque vivemos hoje numa sociedade e num mercado abertos. Acho perfeitamente legítimo uma família desejar um carro ou uma casa melhor, querer viajar, pretender evoluir. Não é justo que isso tenha sido permitido e, de um momento para o outro, se cortem salários e aumentem brutalmente os impostos. Demonstra como tudo está a ser feito em cima do joelho, sem método ou estratégia, no que está a provocar um impacto muito forte na motivação de todos. Trata-se de uma situação de desânimo generalizado que pode dar origem a fenómenos nada positivos para o desenvolvimento do País.
Outra história que poderá repetir-se, a avaliar pelos relatos que vamos ouvindo com cada vez mais insistência, diz respeito a situações de fome no País. Esperava que isto tornasse a acontecer em Portugal?
Não, de todo. Nas últimas gerações, vivemos sempre com um dia seguinte melhor do que o anterior, mas hoje isso inverteu-se, o que é terrível. Depois de termos assistido a uma melhoria brutal da qualidade de vida dos portugueses, assistimos agora ao contrário, e em toda a linha. Por isso, há reformas que têm de ser feitas, e eu dou-lhe o exemplo do Serviço Nacional de Saúde, que deve manter-se gratuito apenas para os que necessitam, uma vez que, tal como está, se tornou incomportável para o País; utópico, mesmo. Mantê-lo assim é pura demagogia e, com ela, assiste-se a uma perda sensível da qualidade do serviço prestado e a um aumento da dívida e do défice. É preciso não esquecer que o SNS é suportado pelos cidadãos e o que eles estão a pagar agora é, acima de tudo, uma grande ineficiência e a demagogia de uma classe política que não tem coragem de assumir que, aqueles que podem pagar a saúde, terão de passar a fazê-lo.
Para encerrar este capítulo de reflexão sobre o estado do País, proponho-lhe um exercício: suponha que era empossado para liderar um "conselho de senadores" encarregue de reformar o país. Quais seriam as suas prioridades para os próximos 1000 dias?
Em primeiro lugar, digo-lhe que não seria esse conselho de senadores que ia resolver alguma coisa... É, isso sim, absolutamente necessário - o momento do País exige-o - que as principais forças políticas, sociais e económicas se sentem à volta de uma mesma mesa e discutam o rumo para Portugal, em encontros que poderiam, e deveriam, acontecer sob o patrocínio do Presidente da República. Esta estratégia foi adoptada na Holanda, na década de oitenta, com grandes resultados e é o que precisamos neste momento: discutir o tempo que for necessário, até encontrar um acordo e, depois, garantir que esse rumo é, de facto, aplicado na gestão do País. E esta será uma missão de todos, da Igreja aos sindicatos, do patronato aos partidos políticos. Por outro lado, não deixo de considerar interessante a ideia da existência de uma câmara de reflexão, que se poderá chamar Senado, um pouco como as Câmaras Altas existentes em parlamentos de outros países, desvinculada de partidos políticos, antes constituída por figuras experientes, idóneas e capazes de dar um contributo para uma melhor elaboração das leis, por exemplo.
Numa altura de crise profunda, os resultados da Jerónimo Martins são muito positivos. Qual o segredo deste sucesso?
Um grupo não se reforma de um dia para o outro e, no caso da Jerónimo Martins, este é um processo que dura há muitos anos, período em que soubemos mudar a nossa estratégia em função da realidade do mercado e até da situação económica. Até 1970, a JM caracterizava-se por um investimento muito forte na indústria e por ser o maior armazenista do país, mas teve de haver uma mudança de estratégia, fruto da evolução da livre circulação nos mercados, no âmbito da EFTA [n.d.r: Associação Europeia de Livre Comércio, criada no anos 60 e que teve Portugal como um dos elementos fundadores]. Isso implicou encontrar uma posição forte na distribuição, no sentido de sermos fortes e respeitados perante os nossos concorrentes na indústria. Encontrámos um rumo e a sua aplicação implicou uma reestruturação que passou pela sensibilização de accionistas, a aposentação de elementos que não se reviam neste novo rumo e pela contratação de jovens, a quem foi necessário "vender" o projecto para que pudessem implementá-lo e desenvolvê-lo. Chegou uma altura em que nos considerámos suficientemente fortes para nos internacionalizarmos e daí a ida para a Polónia, onde ganhámos uma enorme experiência.
Que cuidados é necessário observar quando se dá esse salto?
Em primeiro lugar, é necessário aprender quais os problemas de uma empresa internacional. No caso da JM, houve alguns inteiramente novos para nós, mesmo no plano pessoal, com a deslocação de quadros para outro país e para outra língua. À medida que o tempo foi passando, fomos ganhando "know-how" em termos de organização da empresa, mas também em relação ao mercado, conhecendo os hábitos do consumidor polaco, e ainda fomos estabelecendo uma relação de confiança com os fornecedores para com uma empresa que vinha de um país diferente e que enfrentava, aliás, a enorme pressão concorrencial das companhias alemãs no mercado polaco. Mas esta experiência demonstra algo muito importante: as qualidades dos portugueses. Somos realmente bons, com uma enorme capacidade de adaptação a ambientes diferentes e, para além disso, possuímos uma enorme capacidade de trabalho e uma grande dose de agressividade.
A Polónia vai continuar como o motor de crescimento do grupo?
Nos próximos cinco anos vai prosseguir assim e esperamos, aliás, manter um crescimento de dois dígitos. Mesmo assim continuamos a estudar novas frentes, uma vez que não podemos parar à sobra do sucesso conquistado. É absolutamente necessário continuar a crescer, uma vez que isso permite, para além das oportunidades de negócio, a renovação dos quadros e o prosseguimento do nosso amadurecimento. Estamos, porém, numa altura complexa, pelo só dentro de um ano decidiremos para onde vamos a seguir.
Estudam novas geografias? O Brasil volta a ser hipótese?
O Brasil vai ser estudado, juntamente com dois outros países.
Que países?
Não posso adiantar ainda...
Falou há pouco na contratação de jovens e aplicou mesmo uma expressão motivacional - "vender-lhes um projecto". Observando o histórico da Jerónimo Martins, parece que uma das estratégias de RH assenta na sua constituição como "escola de líderes"...
Não lhe chamaria "escola de líderes"... Mas aquilo que nós, enquanto família, cultivamos é o respeito por todas as pessoas que trabalham connosco.
Depois, acreditamos profundamente na formação a todos os níveis, seja internamente, seja através de programas universitários com a Católica, a Nova ou academias estrangeiras. Neste último caso, parece-me fundamental que os nossos quadros contactem com gestores de outros países, com diferentes culturas e formas de trabalhar.
Qual é, para si, o peso dos valores familiares numa empresa?
Cerca de 42 anos depois de ter vindo para a Jerónimo Martins, acredito mais numa empresa familiar do que noutra de natureza diferente. É absolutamente necessário que o accionista família tenha a noção do seu exacto papel: estar bem informado, como qualquer outro accionista, mas deixar a gestão da empresa para os melhores quadros. Se esses melhores forem da família, tanto melhor, mas temos de estar abertos a outras soluções. A família é ainda fundamental na transmissão de princípios e valores para a própria empresa, os quais começam por ser aplicados logo na selecção dos seus efectivos, seja um administrador, seja um trainee. A transmissão dos valores acontece ainda dentro da própria família, no sentido de incutir, nas várias gerações, o sentimento de que, serem accionistas, por si só, não lhes dá o direito de intervir.
Fundação Francisco Manuel dos Santos
"A Sociedade Civil é determinante para a qualidade do país"
O que levou ao lançamento da Fundação Francisco Manuel dos Santos?
A ideia nasceu no seio da família, quando nos interrogámos sobre o que poderíamos fazer por este país, que tanto nos tem dado. Já existem muitos projectos por parte das empresas, pelo que queríamos fazer diferente, que acrescentasse algo. Numa das discussões em torno do tema, lançámos o desafio de "acordar" a sociedade civil portuguesa, no fundo, compensando a pouca intervenção que se verifica actualmente, seja do meio académico, seja do mundo empresarial. Queremos, com a Fundação, incentivar o sentimento de que a sociedade civil é o elemento determinante da qualidade do país. Posso dizer que, quando fui para a reunião familiar onde se decidiu criar a FFMS, ia preparado para lutar até ao fim - afinal, com um orçamento de 5 a 7 milhões de euros por ano, não estávamos a falar de um montante pequeno. No entanto, não precisei de mais de 15 minutos para obter a aprovação, metade da minha apresentação não chegou a ser feita! Digo-lhe, com toda a sinceridade, que a Fundação constitui a minha maior alegria em mais de 50 anos de trabalho. A qualidade e o êxito dos trabalhos que estamos a produzir - com prioridade na qualidade e não na pressa - dão-nos um enorme prazer. Temos um concelho científico constituído por pessoas muito jovens, algumas delas portugueses, que se encontram em universidades fora do país e que demonstram, uma vez mais, o nosso valor. É pena que não estejam a trabalhar nas universidades do nosso país.
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