urukai Escreveu:Na sequência de uma discussão com o Automech escrevo este post
Ainda bem que escrevi aquele comentário sobre a comodidade de comprar numa grande superficíes. Fiquei curioso pelo que estavas para escrever mas isto supera tudo o que se podia esperar. Trabalho excepcional Urukai !
Já agora, fica a aqui o link para o tópico onde a discussão começou., uma vez que não tinha nada a ver com saúde:
http://caldeiraodebolsa.jornaldenegocio ... ht=#781491urukai Escreveu:Como pressupostos, há que saber que o diploma (autoria do ministro da Saúde da altura, Correia de Campos) levou à abertura de estabelecimentos para venda livre de MNSRM e também à eliminação do preço fixo a que estavam sujeitos estes medicamentos passando a haver uma livre concorrência de preços. Relembrando as palavras de Sócrates no célebre discurso
É importante salientar que se fizeram 2 alterações ao mesmo tempo (abertura de estabelecimentos e liberalização dos preços) e que as mesmas estão interligadas, sendo impossível conhecer o impacto isolado de cada uma delas.
urukai Escreveu:Do ponto de vista económico era uma medida populista e de pouco relevo para as necessidades do país
Completamente de acordo. O meu comentário vem na sequência de ter dito que há 5 anos o Sócrates parecia um tipo determinado e pronto a enfrentar lobbies e escolheu o das farmácias, simbolicamente, para mostrar isso mesmo (embora aqui estejamos a falar dos MNSRM e o discurso dele incidiu mais na possibilidade de terceiros abrirem farmácias, ainda que sob certas condições).
urukai Escreveu:
o Infarmed começou a publicar mensalmente um relatório sobre a evolução do mercado dos MNSRM apenas fora das farmácias, ou seja, não temos uma visão verdadeira da evolução do mercado na sua totalidade.
Isto são coisas à Portuguesa. Roça o ridículo, analisar apenas uma das partes.
urukai Escreveu:Analisando o relatório de Julho de 2010, vemos a seguinte evolução:

Ou seja, como podem ver em 2004, com a entrada das grandes superficies e parafarmácias o índice de preços dos MNSRM desceu 9% (fora das farmácias) contudo em 2006 quase voltou para os valores antes de Agosto de 2005 e, a partir de 2008, os MNSRM ficaram mais caros quando vendidos em estabelecimentos que não farmácias. Em 2010 estão cerca de 2% mais caros que em 2005 e o próprio Continente (que chegou a vender 5% mais barato que o índice base) já vende a um índice de 99. A tudo isto acresce o facto de não termos os dados dos mesmos medicamentos dentro das farmácias que, não tendo as capacidades de aprovisionamento e economia de escala dos grandes grupos (apesar de agora já irem tendo) têm preços superiores como indica um estudo da DECO de 2007 (também mencionado pelo Automech):
Aqui o comentário do Elias sobre a inflação é muito relevante.
A taxa de inflação (excluindo habitação) foi a seguinte:
2005 – 2.5%
2006 – 3.1%
2007 – 2.4%
2008 – 2.5%
2009 – (-1%)
Fonte:
http://www.pordata.pt/ Ou seja, um produto que custasse 100 no final de 2004, custaria teoricamente 109.8 no final de 2009.
Como estamos a meio de 2010 não sei exactamente que taxa devemos considerar para este período já decorrido, mas podemos considerar 0% (ou seja sem impacto), o que não é demasiado grosseiro (
http://economiafinancas.com/tag/taxa-de-inflacao-2010/ )
Vemos portanto que os medicamentos, estando 5% mais caros do que em 2004 ficam aquém dos 9.8% teóricos pela taxa de inflação.
Podemos dizer, duma forma especulativa e populista, que o aumento destes medicamentos foi aprox 50% inferior ao dos restantes produtos.
urukai Escreveu:Por estabelecimento, as farmácias registaram a maior subida, tendo apresentado preços médios 6,3% mais elevados do que os últimos valores fixados pelo Estado.
Isto, quanto a mim, prova que o causador da subida de preços foi a liberalização de preços e não a abertura das novas lojas.
Aliás, especulativamente até podemos questionar se não teriam aumentado mais se tivesse havido a liberalização dos preços, sem a abertura de novos estabelecimentos.
urukai Escreveu:
Fora das farmácias, o crescimento ficou-se por cerca de 1%, em média. Tal deveu-se, sobretudo, aos valores apresentados pelas cadeias Vale e Dantas (Pingo Doce), Jumbo e Modelo/Continente, 4 e 5% inferiores aos cobrados antes da liberalização. Excluídas estas, o aumento global dos medicamentos fora das farmácias ronda, em média, os 4 por cento.
Eu penso que isto dá razão a uma parte da decisão (autorizar a venda fora das farmácias) e corrobora em parte o que acabei de escrever.
urukai Escreveu:
O domínio das três cadeias nas vendas fora das farmácias e na descida de preço, segundo a TESTE SAÚDE, fragiliza a concorrência. “Se, depois de consolidarem a sua posição no mercado, estes estabelecimentos aumentarem as margens de lucro, desaparecem os poucos benefícios da liberalização”, alerta aquela revista.
Essa tentativa de ganhar quota de mercado é o normal quando um mercado é liberalizado. Quanto ao resto é, de facto, um risco porque o mercado dos medicamentos não é algo facilmente comparável em termos de preços, nem sequer é algo que, em principio, a pessoa saiba de cor.
Será fácil alguém ter a noção se o preço de um quilo de laranjas ou de um litro de leite está caro ou barato, mas já não é tão intuitivo perceber se o preço duma caixa de aspirinas num determinado sitio é caro ou barato (e estou a assumir que a maioria das pessoas não compra caixas de aspirinas todos os meses, o que me parece uma pressuposto aceitável).
urukai Escreveu:
Na minha opinião, o que aconteceu foi que imediatamente a seguir à liberalização os grandes players entraram no mercado com preços mais baixos (para garantirem quota de mercado) e desde então têm vindo a aumentar os preços.
Admito que sim pelas razões que já expliquei, mas mais uma vez saliento que na origem disso está a liberalização do preço dos medicamentos e não a abertura de novos estabelecimentos.
urukai Escreveu:
Salienta-se também que a partir de certa altura o Infarmed começou a colocar as estatísticas referentes apenas aos estabelecimentos com preços mais baixos mas existem relatórios de 2008 e 2009 que demonstrava que os preços, em certos locais (ex: Corte Inglês ou Cadeia Cota Pharm), eram 16% a 30% mais caros que antes da liberalização. As farmácias, essas, não estando sujeitas a um preço fixo aumentaram os preços pois tinham algumas factores que mantinham a preferência dos utentes (confiança, atendimento mais qualificado e experiente, e o facto de utente que comprassem MSR aproveitariam para comprar MNSRM). Isto está comprovado pela reduzida quota de mercado que perderam em 5 anos, que foi de apenas 12%. A pergunta é então, em 2010 qual o verdadeiro indice de preços dos MNSRM vendidos fora e nas farmácias. Pelos dados, aponto para um valor acima de 5% mas serão especulações e hipóteses da minha parte pois o infarmed ou o governo nunca apresentaram estes números.
Pois, esse estudo era indispensável. Que raio de tipos estão no ministério, supostamente especialistas em saúde, que não pensam numa coisa básica destas ? Enfim…
urukai Escreveu:Ou seja, em 1998, 7 anos antes de Portugal implementar a liberalização, os ingleses já tinham percebido que a sua liberalização não podia ser tão liberalizada.
Quanto aos custos para o Sistema Nacional de Saúde, neste mesmo artigo é indicado que:
In the US, the direct cost of paracetamol overdose has been estimated at $87 million annually, and this is likely to be a conservative estimate. In 1995, it was calculated that the average cost associated with intentional paracetamol poisoning involving adolescents and adults in the US was $2172 per case.
Ou seja, passando rudemente para o caso português temos que anualmente seriam gastos 2,7 milhões com intoxicação por paracetamol.
Seria interessante ter mais estatísticas. Nos EUA não sei, mas os ingleses têm parafarmácias (não sei se é assim que se designa mas são basicamente lojas de artigos de saúde) em tudo quanto é sitio, sendo por isso natural que o aumento lá, por via da maior acessibilidade, tenha sido muito mais vincado.
Embora seja uma idiotice ir às compras e levar uma caixa de Benuron só por levar, se os número de RAM indicam um crescimento pode de facto indiciar esse tipo de comportamento e consequentemente de maior consumo.
De qualquer das formas, nem sequer tenho liquido o aumento das notificações com o aumento de consumo porque se reparares no teu gráfico as notificações de RAM cresceram também muito em 2002 e depois em 2005 (pode ser realmente) mas a seguir o crescimento já parece aquele que se vinha verificando.
urukai Escreveu:
Este valor parece-me exagerado mas o problema essencial é que não há dados e ninguém se preocupou em obtê-los. Se o Governo gasta tanto em Institutos e na saúde temos vários, porque não fez a devida monitorização desta medida e o impacto que teve no país? Que pedisse ajuda a outros parceiros do sector, ordens profissionais, associações, tecido empresarial. Voluntários não faltariam.
Quanto ao custo para o SNS temos de fazer uma ressalva. O custo não é o do estudo porque, mesmo antes dos estabelecimentos novos, esse perigo de envenenamento também existia. O verdadeiro custo é o incremento que se verificará pelo maior consumo (se assumirmos que esse maior consumo vem realmente da maior acessibilidade).
Não estou a questionar que há um aumento mas não se pode atribuir a totalidade desse custo. Apenas o incremental.
urukai Escreveu:O único dado de que disponho é a notificação de reacções adversas a medicamentos (RAM) do sistema de Farmacovigilância que por acaso no site do Infarmed só vai até 2005, de qq maneira arranjei os dados até 2007 que são estes:

Ou seja, como referi antes, a questão é que percentagem deste aumento de reacções adversas a medicamentos se devem a MNSRM? Poderá o aumento do consumo ter potenciado estas RAM?
Enfim são questões que ficam sem resposta por incapacidade/desinteresse político de obter essas mesmas respostas.
Uma observação que vi nalguns sítios que pesquisei é a defesa (claro que tendencial) do bastonário sobre a falta de controle na venda de MNSRM nos estabelecimentos que não farmácias.
Eu aqui tenho de discordar porque nunca, mas mesmo nunca, fui questionado quando comprei uma caixa de aspirinas ou um xarope para a tosse.
Se me disserem que na farmácia temos acesso a melhor aconselhamento, isso sim, mas não há necessariamente um maior controle para quem vai, intencionalmente e sem dúvidas, comprar um determinado MNSRM.
urukai Escreveu:
Vantagens? Sim, aumentou-se a comodidade na aquisição, criaram-se oportunidade de investimento para não farmacêuticos (apesar de mtas pequenos estabelecimentos terem fechado por não conseguirem competir com as grandes superficies)
Eu acho esta conclusão estranha Urukai, uma vez que penso que a maioria dos medicamentos ainda são sujeitos a receita médica (corrige-me se estiver enganado).
urukai Escreveu:
e aumentou-se a acessibilidade a uma grande maioria de medicamentos relativamente inócuos mas, pergunto, é esta uma MEDIDA BANDEIRA que é apresentada como o mote de todo um mandato político para governar Portugal????
Em relação a isso já te respondi. A malta gosta é do show off.
