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Caldeirão da Bolsa

Como são calculados os spreads bancários?

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por kpt » 10/9/2010 0:30

Garfield Escreveu:kpt, penso que há concerteza uma ordem de qualidade nos activos, algo do genero :

depositos a prazo,
imobiliario,
divida publica,
titulos obrigacionistas,
acções


BN
Garfield


Não consigo elaborar uma hierarquia com rigor, isto porque há bastantes variáveis a analisar em cada activo.

Quanto aos depósitos, não te esqueças que os depósitos não são um activo do banco mas sim um passivo, logo não podem ser dados como garantia, nem vejo como. O dinheiro que lá está é das pessoas e essas mesmas pessoas podem resgata-lo quando bem quiserem.

Os créditos concedidos pelos bancos, esses sim, sendo um activo, poderão ser dados como garantia.

Por exemplo, porque puseste imobiliário primeiro que dívida pública?

Imagina que queres comparar o dito edifico no centro de Lisboa com a dívida pública nacional.

Por exemplo, o edifício no centro de Lisboa poderá ser um activo valioso e com baixa probabilidade de depreciação mas por outro lado a sua liquidez é bastante reduzida quando comparada com dívida pública nacional.

A dívida pública gera juros inevitavelmente, já o edifício no centro de Lisboa poderá nem sempre gerar rendimento equivalente (rendas, por exemplo) ou nem gerar sequer, para além de que requer custos de manutenção (ao contrário da dívida pública).

Por um lado, na dívida pública se não deixares até à maturidade estás sujeito a perdas mas pelo menos tem muito maior liquidez e gera rendimento.

Ou seja, com base neste tipo de variáveis que te dei, e sendo o imóvel mais valioso e menos sujeito a depreciação, não é claro que, principalmente em momentos de crise, o imóvel seja um activo mais apetecido do que a dívida pública, isto no âmbito de colaterais.

Como vês, tanto dum lado como do outro é sempre possível arranjar argumentos que façam pensar duas vezes se é mesmo possível estabelecer uma hierarquia exacta, ou se, por oposição, não será melhor efectuar análises comparativas caso a caso.
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por Garfield » 9/9/2010 22:53

Embora a Pata-Hari tenha razao de que em teoria os emprestimos do BCE a taxas reduzidas deveriam ter o mero objectivo de evitar a ruptura do sistema, a verdade é que , e isto já envolve aspectos politicos, o financiamento por parte do BCE está a servir descaradamente para fornececer capital barato aos bancos para sua vez financiarem outros projectos onde obtem lucros para gradualmente irem tapando os buracos deixados pela crise.

Na pratica além das ajudas directas, os bancos estao tambem a receber ajudas indirectas para aos poucos comporem os seus balanços e as coisas poderem voltar a normalidade.

kpt, penso que há concerteza uma ordem de qualidade nos activos, algo do genero :

depositos a prazo,
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por kpt » 9/9/2010 22:07

Pata-Hari Escreveu:kpt, mas a liquidez gerada pelo BCE em condições especiais não foi criada para gerar liquidez para novo crédito, apenas para garantir a solvabilidade dos sistema, para evitar bank runs e risco sistémico.


Indirectamente acaba sempre por redundar em novo crédito, ainda que temporariamente condicionado.

Imaginemos um caso dramático. O Banco X não tem liquidez para pagar os juros de depósitos porque não se consegue financiar junto de outros bancos e porque, fundamentalmente, tem muito crédito mal-parado. Naturalmente, como não tem liquidez também não consegue fornecer qualquer crédito.

Aqui o que o Banco poderá fazer (e com esperanças de que o mal parado melhore!) é recorrer ao BCE para pagar os ditos juros de depósitos. De facto, o banco não recebeu o empréstimo do BCE para emprestar mais dinheiro mas sim para pagar os juros que deve aos clientes.

Ora, neste caso, estamos perante um financiamento indirecto à economia, pois embora o dinheiro do BCE não tenha sido concedido para conceder mais crédito ele acabou por chegar indirectamente à economia e aos consumidores, via pagamento dos juros devidos.

Esse novo crédito existe de forma directa no Banco e de forma indirecta no consumidor (na economia).

Se o BCE não tivesse concedido o crédito o banco não poderia pagar juros aos depositantes logo era dinheiro que deixava de circular na economia.

Os créditos do BCE só nunca chegariam à economia (e logo nunca poderiam considerar-se como crédito novo) no caso em que o banco ficasse com o dinheiro recebido paradinho a um canto...

Por fim, e imaginando que o mal-parado melhora o que o banco a seguir faz é pegar no dinheiro que foi amortizado no crédito mal-parado para devolver aquilo que deve ao BCE, retirando assim a liquidez da economia e terminando com a existência daquele "novo crédito" indirecto.

Ou seja, como disse no início houve efectivamente crédito novo de forma temporária e ainda que indirectamente :)
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por Pata-Hari » 9/9/2010 21:34

kpt, mas a liquidez gerada pelo BCE em condições especiais não foi criada para gerar liquidez para novo crédito, apenas para garantir a solvabilidade dos sistema, para evitar bank runs e risco sistémico.
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por kpt » 9/9/2010 21:26

Garfield Escreveu:Tambem já aqui se falou em colaterais e a sua qualidade.

Quais sao os melhores e piores colaterais que um banco pode apresentar ou que um cliente pode apresentar ao banco?


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Eu acho que não é possível, à partida, dizer sem dúvidas que determinada classe de activos tem mais qualidade que outra.

Acho que descontando os activos cotados (e percebe-se porquê), qualquer activo, independentemente da sua classe, poderá ter grande qualidade.

Tudo depende do seu valor e do risco de depreciação.

Uma boa casa no centro de Lisboa poderá ser um colateral muito melhor do que um crédito sobre uma empresa mediana e até boa cumpridora.

Pelo contrário, um crédito sobre uma EDP, uma REN ou uma PT poderão ser melhores colaterais que a dita casa no centro de Lisboa.
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por Garfield » 9/9/2010 21:19

Tambem já aqui se falou em colaterais e a sua qualidade.

Quais sao os melhores e piores colaterais que um banco pode apresentar ou que um cliente pode apresentar ao banco?


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por kpt » 9/9/2010 20:56

Pata-Hari Escreveu:kpt, o meu esclarecimento não era para ti, era mesmo para quem não está tão familiar com o funcionamento.

Quanto ao teu argumento da hipotese de alavancagem em dívida soberana "reles", francamente acho que não faz neste momento grande sentido. Ou melhor, que é pouco prudente alavancar nesse tipo de risco quando os testes de stress e os olhos estão estão exactamente a crucificar quem tem sobre-exposição a esse tipo de activos. Mas provavelmente é possível executar de um modo ou outro, sim.... (não sei se se existem mecanismos de controle quanto ao modo como são usados os fundos emprestados pelo BCE, é uma boa pergunta).


Percebo o teu ponto quanto à dívida soberana "reles" e as implicações que isso tem.

Contudo, pensemos no seguinte. Será o risco de um banco nacional emprestar aos particulares e empresas nacionais menor do que o risco de emprestar ao nosso Estado?

Aliás, o risco de um Estado não costuma ser imediatamente extrapolado como sendo o risco mínimo de todos os restantes intervenientes nesse Estado (particulares e empresas)?

Se sim, do ponto vista teórico do risco, é preferível emprestar ao Estado do que emprestar às empresas e famílias.

Obviamente que na prática não é bem assim. A falência de um Estado não implica, necessariamente e felizmente, a falência automática de todos os agentes e participantes desse Estado.

Mas, basicamente a questão é que neste momento as yields estão bastante atractivas face ao que seria possível obter num normal empréstimo a um particular ou uma empresa. Também é verdade que os bancos, todos eles, aumentaram recentemente e dramaticamente os spreads nas empresas, algumas chegam aos 9% ou 11%. Os bancos irão destruir muita empresa nacional com esta atitude e vão ter que assumir as perdas do capital em dívida pois assim em nada contribuem para que a empresa consiga cumprir! Bom, isto são outras águas...
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por Garfield » 9/9/2010 20:48

A questão não é simples de facto derivada das múltiplas formas de financiamento dos bancos.

A incompatibilidade de prazos tambem dificulta os calculos pois penso que o BCE aplica os 1% a 12 meses e se os bancos forem ou tenham investido esse dinheiro em OT´s a 10 anos terão de se refinanciar várias vezes ao longo do tempo.

É obvio que não se espera que o banco nos financie abaixo do seu proprio custo de financiamento, a discussão envolve termos uma melhor percepção sobre a estimativa do tal custo de financiamento bancario ao qual se aplicara a margem de lucro e dessa forma os clientes poderem negociar de forma mais transparente o spread a aplicar a cada tipo de credito.

Senao vejamos, se eu nao tiver a minima ideia de quanto custou ao banco aquele capital eu cliente nao sei qual é o spread justo para ambas as partes e com a variedade de ofertas que por ai andam torna-se dificil perceber se um spread 2x acima de um concorrente resulta das dificuldades de financiamento do banco em causa ou mera usura.

O possivel investimento dos bancos em OT´s não é bem irrealista, a ordem do processo é que foi erradamente descrita. De facto o banco nao se financia no BCE para comprar OT´s , compra é OT´s e dando-as como garantias recebe de volta uma grande parte do capital ao custo mais baixo da actualidade.

Os 4% de ganho sobre os 80% de capital disponibilizado pelo BCE servem para financiar outras operações e inclusive os custos de estrutura, afinal de contas sao um ganho para o banco.

Sao calculos complicados e por isso mesmo existem as direccoes de credito para os realizarem.

E se a euribor é parte da margem entao quando a mesma subisse os spreads deviam descer :)

Resumindo, a estrutura de calculo do "funding" de um banco é complexa e com imensas variaveis mas era exactamente esse o objectivo desta discussao, tornar esse calculo mais fácil de entender e mais transparente.

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por Pata-Hari » 9/9/2010 20:38

kpt, o meu esclarecimento não era para ti, era mesmo para quem não está tão familiar com o funcionamento.

Quanto ao teu argumento da hipotese de alavancagem em dívida soberana "reles", francamente acho que não faz neste momento grande sentido. Ou melhor, que é pouco prudente alavancar nesse tipo de risco quando os testes de stress e os olhos estão estão exactamente a crucificar quem tem sobre-exposição a esse tipo de activos. Mas provavelmente é possível executar de um modo ou outro, sim.... (não sei se se existem mecanismos de controle quanto ao modo como são usados os fundos emprestados pelo BCE, é uma boa pergunta).
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por kpt » 9/9/2010 16:14

Pata-Hari Escreveu:kpt, as condições especiais são momentaneas, é algo de especial. Numa situação normal o mercado de REPO não tem condições tão díspares do total do mercado interbancário.

Já agora, e só para clarificar as coisas, um banco normalmente não se financia só nem maioritariamente junto do banco central. Normalmente os bancos financiam-se no mercado interbancário (sendo a taxa usada como referência a EONIA e não as EURIBORS mais o spread correspondente ao risco do banco em causa), financiam-se emitindo obrigações, através de titularizações e por empréstimos obrigacionistas. Ou seja... o custo real do dinheiro para o banco não é algo de tão transparente quanto possa parecer.

(notem que eu não trabalho na área e não sou especialista)


Para-Hari, como poderás ver nos meus posts anteriores eu enunciei várias formas de financiamento dos bancos e o facto dos custos de financiamento serem bastanta diferentes. Tenho perfeita noção disso :)

A questão que estamos a debater é apenas a possiblidade de contrair empréstimos junto do BCE (que é o que empresta à taxa mais reduzida possível) e aplicar o respectivo montante em dívida pública.

Este simples processo poderá criar, neste momento, uma oportunidade para os bancos na medida em que as taxas de dívida pública estão elevadas.

Tão simples quanto isto Pata :)

Outro assunto é se o BCE permite que tal aconteça mesmo. Isso já não sei...mas na teoria poderia funcionar.
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por Automech » 9/9/2010 13:17

Em relação aos crédito á habitação a coisa não é tão simples como parece porque o periodo temporal do financiamento do BCE não é igual aos dos empréstimos á habitação que são, por natureza, empréstimos de muito longo prazo.

Esse é, aliás, um dos principais problemas dos bancos actualmente porque estão 'entalados' com contratos a longo prazo, com spreads baixos das campanhas agressivas que fizeram até 2006 / 2007, e estão agora a ter dificuldades em ter um funding a uma taxa que permita equilibar isso.

Daí as tentativas desesperadas que se verificam actalmente para tentarem alterar os spreads a meio dos empréstimos e o facto dos depósitos a prazo estarem com taxas relativamente baixas quando comparadas, por exemplo, com Espanha que é uma tenativa de manter o funding o mais baixo possível.
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por Pata-Hari » 9/9/2010 12:52

kpt, as condições especiais são momentaneas, é algo de especial. Numa situação normal o mercado de REPO não tem condições tão díspares do total do mercado interbancário.

Já agora, e só para clarificar as coisas, um banco normalmente não se financia só nem maioritariamente junto do banco central. Normalmente os bancos financiam-se no mercado interbancário (sendo a taxa usada como referência a EONIA e não as EURIBORS mais o spread correspondente ao risco do banco em causa), financiam-se emitindo obrigações, através de titularizações e por empréstimos obrigacionistas. Ou seja... o custo real do dinheiro para o banco não é algo de tão transparente quanto possa parecer.

(notem que eu não trabalho na área e não sou especialista)
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por kpt » 9/9/2010 12:32

Pata-Hari Escreveu:mais_um, acho que estamos a dizer a mesma coisa.

Ou seja: O Banco tem 1 ME em dívida portuguesa. Entrega essa dívida ao BCE e recebe em troca (valor hipotético), 850 000€. Durante a crise, o BCE fazia esta operação a taxas muito baixas porque era necessario garantir liquidez ao mercado financeiro. A ideia não era nunca financiar crédito novo ou permitir ainda maior alavancagem das instituições. Não sei como foi feito o controle nessa altura mas não acredito que essa operação pudesse ter sido feita, terão havido certamente mecanismos de controle.

Garfield, acho que isto também responde à tua questão, certo?


Mas ao "entregar" a dívida está a entregar como garantia, ou seja, os juros que continuam a vencer são devidos ao Banco e não ao BCE. Ou seja, em teoria era possível ter empréstimos do BCE e aplica-los em OTs.

Outra coisa bem diferente é se o BCE conseguisse restringir/controlar a finalidade do crédito que estava a conceder aos Bancos.
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por Pata-Hari » 9/9/2010 12:12

mais_um, acho que estamos a dizer a mesma coisa.

Ou seja: O Banco tem 1 ME em dívida portuguesa. Entrega essa dívida ao BCE e recebe em troca (valor hipotético), 850 000€. Durante a crise, o BCE fazia esta operação a taxas muito baixas porque era necessario garantir liquidez ao mercado financeiro. A ideia não era nunca financiar crédito novo ou permitir ainda maior alavancagem das instituições. Não sei como foi feito o controle nessa altura mas não acredito que essa operação pudesse ter sido feita, terão havido certamente mecanismos de controle.

Garfield, acho que isto também responde à tua questão, certo?
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por kpt » 9/9/2010 10:13

Pastel Escreveu:
kpt Escreveu:Pata-hari, pergunto-te também se os bancos portugueses estão neste momento a financiar-se a 1%+5%+qq coisa como dizes, como é que no crédito à habitação ainda tens bancos a cobrar somente a Euribor mais um spread de 0,65% ou 0,9%?


Não sendo a Pata-hari, queria deixar uma correcção..
No crédito habitação, não há bancos portugueses a cobrar spreads tão baixos. Abaixo de 1,0% de spread assim de repente só me lembro do BBVA, Banco Popular, Deutsche e Barclays (e mesmo este salvo erro o mínimo é 0,9%). Se estiver enganado por favor corrijam-me :mrgreen:

Onde normalmente se vai buscar alguma diferença entre preço de custo do $$ e o preço oferecido, é nas chamadas contrapartidas, falo de seguros, cartões, aplicações, etc. Tudo isso é quantificado. Pontualmente há ainda bancos que "compram" clientes para ganhar quota, oferecendo desconto no preço (leia-se spread).


De facto, do que sei neste momento são filiais de bancos estrangeiros que têm esses spreads.

Ainda assim mesmo num banco nacional em que consigas um spread, vá, de 1,5% (e não é irrealista), com euribor a 6 meses ficas com uma taxa de +- de 2,6%, o que, a comparar com o custo de financiamento que a Pata-Hari disse (e mesmo tendo em conta todas as alcavalas possíveis) é bastante inferior.

Ainda assim, seja como for, os bancos não estarão para perder dinheiro nessas operações ;)
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por mais_um » 9/9/2010 9:59

Pata-Hari Escreveu:Pegando ainda no teu exemplo, efectivamente o que se passa é que se o estado português, a nossa entidade soberana se está a financiar a 5%, isso significa que uma instituição portuguesa se está a financiar por pelo menos 5% mais qualquer coisa (é uma regra semi-universal que o risco menor de um país é a sua dívida soberana, todas as outras instituições têm riscos maiores e portanto maiores custos de financiamento). Logo, se a euribor está a 1%, o custo para o banco é pelo menos 1+5+qqcoisa.


Humm...penso que não estás a ver bem o filme.

Se é verdade que o BCE só empresta dinheiro aos bancos mediante a entrega de colaterais e que esse valor não corresponde a 100% dos colaterais (depende da classificação do colateral, por exemplo se fosse BBB, tinha uma redução de 25%) não soma, como tu fizeste.

Exemplo: O Banco empresta a Portugal e recebe 5% de juro, a seguir vai entregar as obrigações ao BCE como colateral e consegue do BCE 90% do que emprestou a pagar 1%, ou seja em relação a 90% do emprestimo tem uma margem de 4% (quem recebe os rendimentos do colateral é o banco e não o BCE, certo?)depois pega nesse dinheiro (que pediu ao BCE) e empresta ao particular cobrando a euribor mais o spread.
Claro que há custos de estrutura, de capital (por causa dos racios, etc..) mas mesmo assim as margens são grandes, basta ver os lucros apresentados pelos bancos.
"Só duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana. Mas no que respeita ao universo ainda não tenho a certeza" Einstein
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por Pastel » 9/9/2010 9:47

kpt Escreveu:Pata-hari, pergunto-te também se os bancos portugueses estão neste momento a financiar-se a 1%+5%+qq coisa como dizes, como é que no crédito à habitação ainda tens bancos a cobrar somente a Euribor mais um spread de 0,65% ou 0,9%?


Não sendo a Pata-hari, queria deixar uma correcção..
No crédito habitação, não há bancos portugueses a cobrar spreads tão baixos. Abaixo de 1,0% de spread assim de repente só me lembro do BBVA, Banco Popular, Deutsche e Barclays (e mesmo este salvo erro o mínimo é 0,9%). Se estiver enganado por favor corrijam-me :mrgreen:

Onde normalmente se vai buscar alguma diferença entre preço de custo do $$ e o preço oferecido, é nas chamadas contrapartidas, falo de seguros, cartões, aplicações, etc. Tudo isso é quantificado. Pontualmente há ainda bancos que "compram" clientes para ganhar quota, oferecendo desconto no preço (leia-se spread).
 
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por kpt » 9/9/2010 9:13

Pata-hari, mas se a questão é dar a dívida como garantia do crédito, isso não impede o banco de fazer essa operação (financiar-se junto do BCE e comprar dívida soberana), nem diminui o ganho do banco nessa operação (5% - 1%), certo?

Eu sei que os créditos do BCE estão sempre garantidos com colaterais mas havendo colaterais a garanti-los porque é que dizes que é irrealista? Reconheço que seja mais difícil dar como garantia os activos que o BCE considera como elegíveis mas havendo-os, há algum entrave?

Pata-hari, pergunto-te também se os bancos portugueses estão neste momento a financiar-se a 1%+5%+qq coisa como dizes, como é que no crédito à habitação ainda tens bancos a cobrar somente a Euribor mais um spread de 0,65% ou 0,9%?

Tem sido extremamente noticiado o elevado recurso dos bancos portugueses aos empréstimos do BCE, talvez por isso o custo médio de financiamento se consiga manter baixo. Será isso?
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por Pata-Hari » 9/9/2010 7:28

Garfield, de modo genérico,o spread definido pelo banco vai depender do risco da operação/cliente e do custo do financiamento interbancário.

Quanto ao que foi escrito, não há nenhuma razão para um banco te emprestar a um custo inferior ao do seu próprio financiamento. Se faz um negócio, é para ganhar alguma coisa, coisa essa que terá que cobrir todos custos de estrutura e garantir margem.

Nota igualmente que quando dizes "o banco financia-se junto do BCE a 1% e depois aplica o capital em divida soberana portuguesa a uns "redondos" 5%. ", é um exemplo irrealista porque o BCE empresta por troca de garantias. A tal dívida soberana teria que ficar depositada no BCP a garantir o crédito. Pior, o crédito seria por um valor inferior ao dado em garantia. O BCE não é um pai generoso que dá dinheiro infinito a quem quer e pede sem qualquer garantia. Empresta por troca de garantias. O tal empréstimo a taxas minimas é uma situação especial que existe durante este periodo especial.

Uma operação de crédito é financiada por crédito interbancário, que não custa o tal valor "indiferente" -que mencionas.

Outra questão que não estás a ter em mente é que cada tipo de risco e cada tipo de operação bancária obriga o banco a aumentar mais ou menos o seu rácio de capital. Também isso afecta o custo de cada operação de crédito.

Esta questão é complexa e por isso existem direcções de crédito e financeiras para poderem analisar em todos momentos as operações de crédito bancário.


Pegando ainda no teu exemplo, efectivamente o que se passa é que se o estado português, a nossa entidade soberana se está a financiar a 5%, isso significa que uma instituição portuguesa se está a financiar por pelo menos 5% mais qualquer coisa (é uma regra semi-universal que o risco menor de um país é a sua dívida soberana, todas as outras instituições têm riscos maiores e portanto maiores custos de financiamento). Logo, se a euribor está a 1%, o custo para o banco é pelo menos 1+5+qqcoisa.
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por kpt » 9/9/2010 1:51

Garfield Escreveu:Sim, estamos muito mais próximos da discussão que pretendia. :)

E sim, já tinha concluido que a complexidade derivada das várias formas de financiamento do banco torna dificil a sua explicação.

Mas contudo haverá alguma regra "básica" pois não será só a tal média de custo de financiamento senão não havia dentro do mesmo banco tanta variedade de spreads em função do tipo de crédito.

O proprio tipo de operaçao terá o seu peso no financiamento do banco pois concerteza ele proprio terá de apresentar garatias/colaterais aos seus financiadores e isso irá influenciar todos os calculos.

Um exemplo rudimentar :

o banco financia-se junto do BCE a 1% e depois aplica o capital em divida soberana portuguesa a uns "redondos" 5%.

Assumindo que assim tem um ganho de 4% sem correr risco praticamente nenhum tentemos imaginar o spread necessario para valer a pena ao banco financiar um particular ao invés de investir em divida publica.

Se a operação de crédito tiver como indexante a euribor a 6 meses teremos 1,13% como minimo antes do risco do cliente.

O risco do cliente terá de ser no minimo de 4,00%-(1,13%-1,00%), ou seja 3,87%. Isto para um prazo identico claro.

Realmente a ser assim não admira que os spreads estejam elevadissimos e com tendencia a manter-se...

Poderemos concluir que os bancos só se voltarão para os particulares quando não houver outros mercados tao aliciantes a consumirem o capitsl?

BN
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Como disse, é uma questão complexa e não sei se haverá alguma "regra básica", pois penso que dependerá muito da estratégia e do interesse dos bancos naquele preciso momento.

Uma coisa é certa, não é suposto emprestares a uma taxa que é insuficiente para cobrir o teu custo de financiamento, se bem que tal é capaz de quase acontecer bastantes vezes, por exemplo, no crédito à habitação. Ou melhor, era capaz de ter acontecido, agora nem tanto! :)

Ou seja, a questão da média do custo do financiamento penso que é uma realidade e é uma bitola base para aferir se há ou não necessidade de aumentar o spread, isto, sem ter em conta outras variáveis como por exemplo a que referiste (investir alternativamente em obrigações).

Precisamente quanto ao teu exemplo acho que é bastante interessante. Os bancos (de alguns países) poderão estar muito mais interessados, neste momento, em financiar os seus próprios Estados ao invés de financiar directamente os particulares/empresas.

Ainda assim, a gestão do risco é uma realidade e portanto, como não se pode meter os ovos todos no mesmo saco os bancos têm que inevitavelmente diversificar e emprestar também algum carcanhol aos particulares e empresas :)

Repara que por exemplo há 3 anos atrás este exemplo não tinha sentido, pois tinhas Euribor nos 5% (e a taxa de referência do BCE lá perto) e tinhas as dívidas soberanas a pagar 1,5% ou 2%. Neste caso não havia vantagem em pedir emprestado para investir em dívida pública.

Como disse antes, depende do interesse dos bancos a cada momento, e, realmente, neste momento os bancos são capazes de se sentir muito tentados em investir algum em dívida pública em detrimento de emprestar a particulares/empresas.
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por Garfield » 9/9/2010 1:36

Sim, estamos muito mais próximos da discussão que pretendia. :)

E sim, já tinha concluido que a complexidade derivada das várias formas de financiamento do banco torna dificil a sua explicação.

Mas contudo haverá alguma regra "básica" pois não será só a tal média de custo de financiamento senão não havia dentro do mesmo banco tanta variedade de spreads em função do tipo de crédito.

O proprio tipo de operaçao terá o seu peso no financiamento do banco pois concerteza ele proprio terá de apresentar garatias/colaterais aos seus financiadores e isso irá influenciar todos os calculos.

Um exemplo rudimentar :

o banco financia-se junto do BCE a 1% e depois aplica o capital em divida soberana portuguesa a uns "redondos" 5%.

Assumindo que assim tem um ganho de 4% sem correr risco praticamente nenhum tentemos imaginar o spread necessario para valer a pena ao banco financiar um particular ao invés de investir em divida publica.

Se a operação de crédito tiver como indexante a euribor a 6 meses teremos 1,13% como minimo antes do risco do cliente.

O risco do cliente terá de ser no minimo de 4,00%-(1,13%-1,00%), ou seja 3,87%. Isto para um prazo identico claro.

Realmente a ser assim não admira que os spreads estejam elevadissimos e com tendencia a manter-se...

Poderemos concluir que os bancos só se voltarão para os particulares quando não houver outros mercados tao aliciantes a consumirem o capitsl?

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por kpt » 9/9/2010 1:20

Garfield, de facto eu fiquei confuso ao ler o teu post, pois por um lado falaste de spread e, por outro, falaste de euribor e swap rates que não têm a ver, única e directamente, com o spread. (Adiante já perceberam a importância do sublinhado)

Penso que a tua questão centra-se então na taxa base do financimento em causa, ou seja, a taxa mínima que reflicta o custo de financiamento do próprio banco.

Bem, por norma os bancos aplicam a Euribor + o spread e portanto, neste caso concreto, não vejo que os bancos façam quaisquer cálculos adicionais (excepto os inerentes ao cálculo da média da Euribor a aplicar, por exemplo).

Contudo, talvez perceba mesmo onde queres chegar. Estás a questionar-te como é que um banco garante que o seu custo de financiamento é aquele que acaba por reflectir no cliente (sem contar com o risco do cliente), certo?

Ora, essa é uma questão muito mais complicada e que acaba, aí sim, por ser reflectida no spread.

Ou seja, se os bancos aplicam por norma a Euribor + spread, a variável onde poderão reflectir não só o risco do cliente mas também o seu próprio custo de financiamento (se necessário), é precisamente no spread.

Quanto a esta questão é muito mais complicado dar uma resposta exacta pois as formas de financiamento dos bancos são inúmeras e com custos diversos.

Os bancos podem financiar-se, por exemplo, junto:
- do BCE (nem sempre, claro)
- de outros bancos
- de particulares/empresas (via depósitos)
- de empréstimos obrigacionistas
- dos próprios accionistas

Bem, todas estas fontes de financiamento têm custos bastante dispares e os financiamentos podem ser contratos de várias formas (com maior ou menor risco de mercado para o banco), o que torna a gestão de liquidez e de taxa de juro bastante interessante e desafiante, julgo eu!

Não obstante, é suposto os bancos, penso eu, terem um controlo rigoroso e que lhes permite saber praticamente a qualquer altura qual é o seu custo médio de financiamento para determinado prazo, o que, por sua vez e consequentemente, lhes permite saber se necessitam de aumentar, ou não, e em que medida, o spread.

Por exemplo, se um banco tiver um custo de financiamento médio para determinado prazo que é superior à Euribor para esse mesmo prazo, então o banco deverá aumentar o spread, uma vez que a Euribor não é suficiente para reflectir o custo de financiamento do banco.

Mais uma vez repito, não trabalho nem nunca trabalhei num banco mas esta é a minha opinião ou suspeita de como funciona :)

Era isto Garfield?
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por Garfield » 9/9/2010 0:58

Ambas as respostas acabam por agrupar de forma indirecta os factores que deverão afectar uma das variaveis : o risco.

Mas antes dessa haverá concerteza outras, principalmente o custo de financiamento do proprio banco, e a questão inicial era mais orientada para esse aspecto por considerar que seja algo mais matematico e nao tao sibjectivo como a avaliação de risco de um cliente.

Imaginemos um financiamento a 10 anos de um qualquer montante.

Antes de decidir qual o risco que o cliente representa o banco tem concerteza que financiar a operação. Como o fará e a que custos?

BN
Garfield
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Re: Como são calculados os spreads bancários?

por kpt » 9/9/2010 0:32

Garfield Escreveu:Boas,

Penso que nunca foi colocada aqui esta questão e será concerteza útil que os participantes mais envolvidos com o sector bancário nos possam explicar ou descrever, sem quebrar nenhum tipo de sigilo bancário obviamente, o modo como os bancos calculam ou definem qual o spread a aplicar em determinada solução de crédito.

Quais sao os factores envolvidos e como se conjugam?
Taxas Euribor?
Swap Rates?

A discussão desta questão poderá ajudar a que se torne mais transparente aos clientes bancários a formação do spread ajudando a avaliar até que ponto a instituição bancária está a praticar usura ou a praticar uma margem de ganho justa para ambas as partes.


BN
Garfield


A justeza da margem de ganho (v.g. spread) é muito discutível, pois trata-se de um negócio com alguma dose de risco, concorrência QB, e não é propriamente um produto de consumo rápido, como por exemplo, o mercado das gasolineiras em Portugal, cuja necessidade de se consumir combustíveis é indispensável e cuja concorrência nem vê-la.

Mas indo de encontro à tua questão, e acrescentando ao que já foi correctamente dito pelo MarcoAntonio, há uma série de factores para o cálculo do spread.

Os principais factores para o cálculo do spread (que basicamente deverá reflectir o risco/prémio de risco da operação), caso se trate de uma pessoa, penso serem alguns dos seguintes:

- Rendimento da pessoa (óbvio, claro)
- Há quanto tempo está empregado
- Qual a sua situação contratual. Efectivo ou não
- Sustentabilidade do seu emprego/empresa (ou seja, probabilidade de ficar ou não desempregado)
- Existência ou não de fiadores
- Existência de eventual património que possa ser dado como garantia adicional
- Disponibilidade para fazer seguros que cubram a possibilidade de desemprego, por exemplo

No fundo é uma análise de várias variáveis (e estou certamente a omitir algumas, mas não trabalho em nenhum banco!) que permitem perceber com alguma fiabilidade qual o grau de probabilidade da pessoa em causa deixar de cumprir e se, deixando de cumprir, o que poderá essa pessoa ainda assim oferecer/assegurar ao banco.
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por MarcoAntonio » 9/9/2010 0:00

A resposta que vou dar é muito genérica mas aqui vai: os spreads (para além de incorporarem já o perfil de risco/agressividade do Banco) baseiam-se essencialmente no perfil de risco do crédito e cliente em causa. Sendo que normalmente são aplicados sobre a Euribor (utilizada como taxa indexante, de referência).
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1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
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3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
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