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MensagemEnviado: 9/9/2010 10:52
por migluso
RiscoCalculado Escreveu:

Quanto a Portugal, andamos a tomar remédio keynesiano quer estejamos ou não doentes, há 35 anos.



Na realidade nos últimos 35 anos em poucas ocasiões se podem realmente classificar as políticas seguidas de keynesianas. Não é pelo facto de determinada política ou determinado orçamento ser menos equilibrado ou mais "gastador" que pode imediatamente ser considerado de keynesiano.
E certamente tb não é pelo facto de um qq político justificar a sua política com argumentos supostamente "keynesianos" que isso corresponde à verdade.


Penso que o Prof. Silva Lopes é relativamente insuspeito :


Quanto aos efeitos de estabilização económica , pode dizer-se que a gestão da procura global nunca foi um objectivo importante da nossa política de finanças públicas . As novas correntes da teoria económica , com grande peso no fim do séc. XX , tendem a atribuir pouco relevo à função estabilizadora dessa política , mas há opiniões muito categorizadas que as contestam . Em Portugal , os orçamentos das despesas e os níveis dos impostos nunca foram fixados na base de considerações keynesianas . Nos dois acordos com o Fundo Monetário Internacional (1977-1979 e 1983-1985 ) , a redução dos défices orçamentais foi programada como um dos meios fundamentais para conter a procura interna , mas nem num nem noutro essa redução atingiu proporções significativas . Se os défices se aprofundaram em período de recessão , como em 1984-1985 e em 1993-1994 , isso sucedeu mais por causa dos estabilizadores automáticos ( variações automáticas das receitas fiscais em sentido positivo e de algumas despesas em sentido negativo ???, por causa da contracção da actividade económica ) do que como resultado de políticas deliberadas para estimular a procura interna . Por outro lado , durante o período de 1995-2000 , quando as receitas ( as dos impostos e as provenientes das privatizações ) cresceram bem e quando cairam a taxas de juro da dívida pública , em vez de se terem aproveitado as circunstâncias favoráveis para reduzir o défice e produzir mesmo situações de excedente orçamental , como recomendava o Pacto de Estabilidade e Crescimento da zona euro , preferiu-se continuar com uma política pró-cíclica , dinamizada pelo crescimento imoderado das despesas . O resultado foi que , depois de excedidos os limites do défice fixados no Pacto de Estabilidade , Portugal se viu sem margem de manobra para adoptar uma política contracíclica que ajudasse a combater os efeitos do afrouxamento da procura privada .



José da Silva Lopes in História Económica de Portugal 1700-2000 ( Pedro Lains e Álvaro da Silva Ferreira )

P.S.: os ??? são meus pois parece-me que tem ali uma gralha (receitas e despesas parecem-me estar trocadas naquela frase).


Sim, concordo que, provavelmente, à excepção destes grandes projectos de investimento anunciados muito recentemente ( e que ainda não passaram do papel), nunca a política económica fiscal, nomeadamente despesa e investimento público, teve como objectivo o estímulo da procura agregada.

O que torna o problema das contas públicas portuguesas ainda mais crónico.
Significa que é um problema estrutural e não conjuntural.

Do meu ponto de vista, significa que Portugal andou a tomar remédio keynesiano (recurso a défices públicos) não para aumentar a procura agregada (doença que os keynesianos dizem curar com os défices públicos), mas simplesmente porque os nossos políticos sempre gastaram mais do que aquilo que tiveram.

O que torna tudo ainda mais grave. Aliás, os keynesianos defendem défices públicos, elevados se forem necessários, mas TEMPORARIAMENTE, e não de forma crónica como no caso português.

cumps

MensagemEnviado: 9/9/2010 9:58
por RiscoCalculado

Quanto a Portugal, andamos a tomar remédio keynesiano quer estejamos ou não doentes, há 35 anos.



Na realidade nos últimos 35 anos em poucas ocasiões se podem realmente classificar as políticas seguidas de keynesianas. Não é pelo facto de determinada política ou determinado orçamento ser menos equilibrado ou mais "gastador" que pode imediatamente ser considerado de keynesiano.
E certamente tb não é pelo facto de um qq político justificar a sua política com argumentos supostamente "keynesianos" que isso corresponde à verdade.


Penso que o Prof. Silva Lopes é relativamente insuspeito :


Quanto aos efeitos de estabilização económica , pode dizer-se que a gestão da procura global nunca foi um objectivo importante da nossa política de finanças públicas . As novas correntes da teoria económica , com grande peso no fim do séc. XX , tendem a atribuir pouco relevo à função estabilizadora dessa política , mas há opiniões muito categorizadas que as contestam . Em Portugal , os orçamentos das despesas e os níveis dos impostos nunca foram fixados na base de considerações keynesianas . Nos dois acordos com o Fundo Monetário Internacional (1977-1979 e 1983-1985 ) , a redução dos défices orçamentais foi programada como um dos meios fundamentais para conter a procura interna , mas nem num nem noutro essa redução atingiu proporções significativas . Se os défices se aprofundaram em período de recessão , como em 1984-1985 e em 1993-1994 , isso sucedeu mais por causa dos estabilizadores automáticos ( variações automáticas das receitas fiscais em sentido positivo e de algumas despesas em sentido negativo ???, por causa da contracção da actividade económica ) do que como resultado de políticas deliberadas para estimular a procura interna . Por outro lado , durante o período de 1995-2000 , quando as receitas ( as dos impostos e as provenientes das privatizações ) cresceram bem e quando cairam a taxas de juro da dívida pública , em vez de se terem aproveitado as circunstâncias favoráveis para reduzir o défice e produzir mesmo situações de excedente orçamental , como recomendava o Pacto de Estabilidade e Crescimento da zona euro , preferiu-se continuar com uma política pró-cíclica , dinamizada pelo crescimento imoderado das despesas . O resultado foi que , depois de excedidos os limites do défice fixados no Pacto de Estabilidade , Portugal se viu sem margem de manobra para adoptar uma política contracíclica que ajudasse a combater os efeitos do afrouxamento da procura privada .



José da Silva Lopes in História Económica de Portugal 1700-2000 ( Pedro Lains e Álvaro da Silva Ferreira )

P.S.: os ??? são meus pois parece-me que tem ali uma gralha (receitas e despesas parecem-me estar trocadas naquela frase).

MensagemEnviado: 9/9/2010 9:56
por RiscoCalculado
cheira-me que o grafico e o rsacramento se referem ao ETF das bonds de 30 anos...


Parece-me que tem algumas semelhanças ( apenas semelhanças, o gráfico não é identico ) com o TBT (ProShares UltraShort 20+ Year Treasury ETF )
http://finance.yahoo.com/q/bc?s=TBT&t=2y&l=on&z=l&q=l&c=
mas esse é um ETF que assume posições curtas e não longas nas obrigações .

MensagemEnviado: 8/9/2010 23:23
por migluso
rsacramento Escreveu:
como é que descobriste o ticker? e para 5 e 10 anos, como encontro?

já agora, no prt só consegui chegar aos futuroa
(conseguem o índice, no prt?)

deixo aqui o de 30 anos:


O best trading pro tem estes instrumentos.

XTc1 - 10 anos contínuo
XTZ0 - 10 anos dezembro

Para 5 anos não encontrei

não conheço o prt

MensagemEnviado: 8/9/2010 19:17
por rsacramento
obrigado a todos, em 1º lugar

migluso Escreveu:Olá rsacramento,

Este é o gráfico dos futuros.

Este link é do índice
http://stockcharts.com/h-sc/ui?s=$USB

como é que descobriste o ticker? e para 5 e 10 anos, como encontro?

já agora, no prt só consegui chegar aos futuroa
(conseguem o índice, no prt?)

deixo aqui o de 30 anos:

MensagemEnviado: 8/9/2010 18:36
por flugufrelsarinn
eu acho é que andamos todos a tomar um placebo em vez de nos tratarmos a sério :P

MensagemEnviado: 8/9/2010 18:17
por migluso
RiscoCalculado Escreveu:
Curioso é que estão em campos opostos do pensamento económico.


Eu de facto já me tinha parecido que vês a Economia como algo clubístico . :lol:


A Economia para mim é um ramo do saber que deve estar mais próximo da Medicina do que da Advocacia ou da Filosofia ... -> a prescrição evidentemente depende do estado do paciente ( dos seus sintomas ) .


Só para dizer que concordo com a sua analogia entre medicina e economia.
Não são raras as vezes que vemos opiniões diferentes entre médicos.

É melhor operar, diz um. É melhor não, diz outro...

:lol:

Na economia passa-se o mesmo. Nem todos têm a mesma solução para um problema ou apontam as mesmas causas para o surgimento das "doenças" na economias.

abraço

MensagemEnviado: 8/9/2010 18:15
por Supermann
RiscoCalculado Escreveu:
alguém me confirma se este gráfco corresponde às T bonds a 30 anos? (valores de ontem)


Não . Nem poderia corresponder a nenhuma outra obrigação de divida pública dos EUA , Alemanha , UK ... a não ser que se tratasse de um cupão zero ( obrigação sem cupões ) de muito longo prazo ... O preço é baixo demais ( e por outro lado o comportamento a nível de preço dos ultimos meses é precisamente o inverso daquele que se observa no gráfico )


cheira-me que o grafico e o rsacramento se referem ao ETF das bonds de 30 anos...

MensagemEnviado: 8/9/2010 18:11
por migluso
RiscoCalculado Escreveu:
Curioso é que estão em campos opostos do pensamento económico.


Eu de facto já me tinha parecido que vês a Economia como algo clubístico . :lol:


A Economia para mim é um ramo do saber que deve estar mais próximo da Medicina do que da Advocacia ou da Filosofia ... -> a prescrição evidentemente depende do estado do paciente ( dos seus sintomas ) .


:lol: Mas, num outro thread, eu acabei de "prescrever" antibiótico made by Keynes para a Alemanha, China, etc...

Quanto a Portugal, andamos a tomar remédio keynesiano quer estejamos ou não doentes, há 35 anos.

É um vício cujo processo de desintoxicação será doloroso...

abraço

MensagemEnviado: 8/9/2010 18:02
por RiscoCalculado
Curioso é que estão em campos opostos do pensamento económico.


Eu de facto já me tinha parecido que vês a Economia como algo clubístico . :lol:


A Economia para mim é um ramo do saber que deve estar mais próximo da Medicina do que da Advocacia ou da Filosofia ... -> a prescrição evidentemente depende do estado do paciente ( dos seus sintomas ) .

MensagemEnviado: 8/9/2010 17:48
por migluso
Risco Calculado,

A sua citação do J.K Galbraith faz-me lembrar esta do Hayek:

“The curious task of economics is to demonstrate to men how little they really know about what they imagine they can design.”
F A Hayek
The Fatal Conceit

Curioso é que estão em campos opostos do pensamento económico.

MensagemEnviado: 8/9/2010 17:36
por RiscoCalculado
alguém me confirma se este gráfco corresponde às T bonds a 30 anos? (valores de ontem)


Não . Nem poderia corresponder a nenhuma outra obrigação de divida pública dos EUA , Alemanha , UK ... a não ser que se tratasse de um cupão zero ( obrigação sem cupões ) de muito longo prazo ... O preço é baixo demais ( e por outro lado o comportamento a nível de preço dos ultimos meses é precisamente o inverso daquele que se observa no gráfico )

MensagemEnviado: 8/9/2010 17:29
por migluso
Olá rsacramento,

Este é o gráfico dos futuros.

Este link é do índice
http://stockcharts.com/h-sc/ui?s=$USB

30 years TBond

MensagemEnviado: 8/9/2010 16:49
por rsacramento
alguém me confirma se este gráfco corresponde às T bonds a 30 anos? (valores de ontem)