Finanças desvalorizam subida do juro e destacam procura elevada de dívida
08 Setembro 2010 | 11:52
Eva Gaspar -
egaspar@negocios.pt
Edgar Caetano -
edgarcaetano@negocios.pt
O ministro das Finanças desvalorizou hoje o facto de Portugal ter sido forçado pelos investidores a garantir uma taxa de juro muito mais elevada para comprarem dívida pública.
Numa primeira reacção, o Ministério de Teixeira dos Santos “destaca” o facto de operação ter registado uma “procura elevada”, cerca de duas vezes a oferta, “com elevada participação de uma base alargada de investidores e um custo compatível com as actuais condições de funcionamento de mercado, ainda não totalmente normalizadas”.
Neste contexto adverso, acrescenta o Ministério, foi ainda assim “possível realizar a operação com um custo de cerca de 17,9 pontos base inferior” ao que a mesma linha de crédito estava a ser negociada no mercado secundário.
O IGCP vendeu hoje 1.039 milhões de euros numa dupla emissão de dívida a longo prazo, dentro do intervalo previsto, mas não conseguiu evitar que os juros subissem significativamente face às anteriores colocações comparáveis.
O Tesouro português vendeu 378 milhões de euros em dívida com maturidade em Abril de 2021, pouco mais de dez anos. A procura foi sólida, tendo superado em 2,6 vezes a oferta, mas o juro subiu para os 5,973%.
A última vez que Portugal emitiu dívida a 10 anos foi no final do mês passado. Pagou um juro de 5,312%.Mas a comparação mais exacta deve ser feita com a anterior emissão desta linha, com maturidade em Abril de 2021, que veio para o mercado em meados de Março. Nessa altura o custo foi de 4,171%.
O IGCP vendeu também 661 milhões de euros em notas de dívida com maturidade de três anos, a um juro de 4,086%. Na anterior emissão a três anos, o IGCP tinha pago um juro de 3,597%.
O total, de 1.039 milhões de euros, fica dentro do intervalo de 750 milhões a 1.250 milhões de euros indicado pelo IGCP.
A colocação do IGCP surge depois de ontem o prémio para comprar dívida portuguesa, em vez de alemã, ter subido para o nível mais alto de que há registo.
A situação financeira na Irlanda, que poderá enfrentar uma factura colossal para não deixar ruir o nacionalizado Anglo Irish Bank e ser forçada a seguir as pisadas da Grécia, pedindo ajuda à comunidade internacional, foi uma das causas do regresso da alta tensão aos mercados. Isto, numa altura em que todo o sistema financeiro irlandês permanece no fio da navalha, estimando-se que, só neste mês, tenha de refinanciar 25 mil milhões de euros de dívida que atinge a maturidade.
A contribuir para o nervosismo dos investidores esteve também a notícia do “The Wall Street Journal”, segundo a qual os bancos europeus reportaram, por enorme defeito, a sua exposição à dívida pública dos países periféricos do euro (Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha), aquando dos “testes de stress” para avaliar a sua robustez.
A emissão do IGCP foi feita no dia em que o seu presidente, Alberto Soares, chega a Macau numa comitiva liderada pelo ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, e que estará amanhã em Hong-Kong. Segundo o Ministério das Finanças, um dos objectivos da deslocação às duas regiões administrativas especiais da China é tentar atrair compradores para a dívida pública portuguesa.
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