Berardo. CGD aceitou 176 milhões de euros em acções do BCP que hoje valem menos de sete milhões Joe Berardo deu como garantia de empréstimos à Caixa Geral de Depósitos acções do BCP no valor total de 176 milhões de euros. Hoje, valem menos de sete milhões. Desvalorizaram 169 milhões de euros em cinco anos.
Em Junho de 2007, em plena guerra de poder no BCP, o empresário Joe Berardo contraiu um financiamento de 350 milhões de euros junto da CGD para a aquisição de participações representativas no capital de diversas empresas do PSI 20. O banco público aceitou como garantia as acções que viessem a ser adquiridas pelo investidor. Mas, para além dos investimentos de Joe Berardo, a instituição estatal, então liderada por Carlos Santos Ferreira, aceitou como garantia um bloco de 35 milhões de acções do BCP que já eram do investidor. O i sabe que essas acções tinham um valor global de 138,2 milhões de euros, o equivalente a 3,95 euros por acção. Hoje, essas acções valem 0,06 euros, o equivalente a pouco mais de cinco milhões de euros. Contas feitas, a desvalorização foi superior a 136 milhões de euros.
Este procedimento foi também utilizado no segundo financiamento aprovado pela CGD, no montante de cerca de 38 milhões de euros, destinado ao aumento de capital do BCP realizado em Maio de 2008. Para acautelar um potencial incumprimento no pagamento de capital, juros, comissões, despesas ou outros encargos, o investidor entregou mais de 31,4 milhões de acções adquiridas ao preço de 1,20 euros por acção. Ou seja, o valor da garantia era exactamente igual ao montante de financiamento concedido.
Neste segundo crédito, a CGD já era presidida por Faria de Oliveira. Com a queda a pique das acções, a garantia deste segundo financiamento vale hoje 1,9 milhões de euros, uma desvalorização de quase 36 milhões de euros. Assim, no conjunto dos dois financiamentos, as garantias de 176 milhões de euros equivalem, actualmente, a 6,9 milhões de euros. A perda de valor é superior a 169 milhões de euros.
No entanto, a degradação do valor das garantias não terá resultado em imparidades para a CGD, isto porque o investidor foi sendo chamado a reforçar os colaterais de forma a cumprir um rácio de cobertura de dívida superior a 105% no primeiro crédito e de 100% no segundo.
Os contratos terminaram em Junho deste ano, altura em que Joe Berardo terá renegociado o capital em dívida. No entanto, o incumprimento no pagamento de juros ao longo da vigência dos financiamentos terá levado a CGD a accionar garantias e a vender parte das acções do BCP. De Dezembro de 2011 para Junho deste ano, o empresário “perdeu” 84 milhões de acções, reduzindo a sua participação no banco de 4,23% para 3,07%.
Não é garantido que tenha sido exclusivamente a CGD a vender os 84 milhões de acções do empresário, uma vez que este também pediu crédito ao BCP e ao BES. No total, Joe Berardo devia cerca de mil milhões de euros à banca.
O investidor recusa comentar a renegociação dos créditos com a CGD, mas adianta que o banco público não está, neste momento, a executar a sua dívida, nem vai fazê-lo. “É impossível”, garantiu ao i.
Se o empresário não tivesse reforçado as garantias, os bancos seriam forçados a executar as dívidas, assumindo as perdas.
Só a Caixa foi forçada a constituir provisões de 728,9 milhões de euros no primeiro semestre, face a perdas potenciais ou já realizadas. Neste bolo, 245,6 milhões referem-se a participações e outros activos e os restantes 483 a imparidades de crédito. A CGD assume que poderá registar imparidades de 1,2 mil milhões de euros até ao final do ano, o que irá prejudicar os resultados já negativos no semestre.
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