Pedro Lino olha para o passado e reconhece que hoje é mais difícil os investidores recuperarem a confiança.
Começou a investir ainda adolescente. Perdeu muito, reconquistou tudo e tornou-se profissional. Dedicou-se aos mercados, agora mais globais, mais automatizados e com investidores menos confiantes. As crises são todas diferentes, mas esta, explica, é mais diferente que as outras.
Começou a investir ainda com 16 anos. Como correram os primeiros anos? Muitos percalços?
A primeira conta foi aberta com dois colegas da Escola Secundária de Miraflores, em 1993, com 65 contos. Como era menor a conta não podia estar no meu nome, mas era eu que todos os dias ia para a Rua dos Fanqueiros preencher as ordens. A primeira acção que comprámos foi a Corticeira Amorim, a 1.005 escudos. Quando havia alguma oscilação, corria até à corretora, preenchia a ordem em papel, dava à operadora e ainda conseguia comprar.
Era uma realidade muito diferente da actual...
Não tem nada a ver com os nanossegundos de hoje. E depois estavam lá todos os investidores na sala corretora, era um ambiente familiar, conheci muita gente. Todas as experiências da vida estavam concentradas naquela sala, desde a depressão, a ambição, a ganância, o medo de perder e a euforia. O que era algo completamente novo, viver todas as emoções ao mesmo tempo.
Era o investidor mais novo lá...
Sim, tinha 16 anos. As coisas correram tão bem - em 1993 fiz mais de 300% -, que o meu pai recebeu uma herança e deu-me o equivalente a 50 mil euros para investir. Pedi conselhos e incentivaram-me a comprar acções do segundo mercado, com pouca liquidez, empresas duvidosas, que tinham volatilidade, mas pouco volume. Investi e perdi muito, fiquei com cerca de 20 mil euros. Mudei de corretor, aconselharam-me um que fazia gestão em ‘forex', não fazia ideia do que era.
Esse investimento teve melhores resultados?
Não. Um dia liguei ao corretor, já da universidade, e disse-me que tinha praticamente perdido tudo, fiquei com 3.000 euros. Não contei nada aos meus pais e foi nessa altura que decidi ler livros de análise técnica, fundamental, e recuperar no mercado o que tinha perdido no mercado. Foram anos um bocado complicados, pela desilusão com as pessoas. Não se deve confiar em quase ninguém, foi a minha primeira lição, sobretudo quando se trata de dinheiro.
Recuperou o dinheiro perdido?
Vivi até 2001 um período excelente. Houve o ‘crash' do sector tecnológico, em 2000, mas mesmo assim, consegui ser bastante bem sucedido. E devolvi todo o dinheiro aos meus pais, com juros.
No percurso que fez houve duas grandes crises. Como foi estar no mercado nesses períodos?
Houve também as crises de 1998, a asiática, de 1999, da América Latina com a desvalorização do real... Foram os dias em que ganhei mais dinheiro, numa altura de ‘crash', porque agia ao contrário das massas. As pessoas entravam em pânico e eu comprava, ou estavam em euforia e eu vendia. As crises foram distintas. Penso que os investidores conseguiram lidar melhor com as crises de 1998 e 1999 do que com a de agora.
Os mercados não eram tão globais...
Não. E o mercado não se movia tão rapidamente. O que havia era momentos de pânico mas recuperava-se mais depressa, porque não havia precisamente movimentos globais e contínuos no tempo. E a confiança era retomada rapidamente, as pessoas voltavam outra vez ao mercado. Não havia também o endividamento que há agora, as pessoas conseguiam ter contas a descoberto para comprar títulos, tinham mais folga financeira. Na última crise, e essa é que é a grande diferença, nota-se que os investidores não recuperaram a confiança. E já passaram três anos.
Pode também ser explicado pelo facto de, com a evolução tecnológica, os investidores terem hoje acesso a informação ao segundo e de estarem melhor informados?
Há mais informação, mas há muita desinformação. Acho que os investidores não estão hoje mais informados, estão mais desinformados. E isso nota-se no impacto desta crise; se as pessoas estivessem bem informadas, a crise não teria esta dimensão. Pode haver muitos indicadores, mas se não houver ninguém capaz de os interpretar e criar cenários alternativos, isso não é informação é só mais um dado. E as pessoas acreditam em tudo. Esse para mim é o grande problema, as pessoas são cada vez mais manipuláveis, não é manipuladas.
Os investidores não têm sabido lidar com tanta informação?
Há muita informação, todos os dias. Por isso é que nesta altura vemos algo que não se via antes... a volatilidade do sentimento dos investidores está a um nível extremamente elevado. E esta volatilidade no sentimento é devida ao excesso de informação que há e que origina que se tenha uma reacção todos os minutos. E isso é que está a destruir toda a camada de investimento e de investidores que existia antes e que agora não existe. É preciso criar confiança.
A própria conjuntura económica estará a contribuir para isso...
Sim. Muitas pessoas com quem contacto têm medo de investir devido à insegurança no futuro. Há uma descrença a todos os níveis. Esta é a crise que estamos a viver agora.
Diario economico
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