O profeta da desgraça na sua versão pedagógica
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O profeta da desgraça na sua versão pedagógica
Texto extraído do link do jornal de Negócios.
Pela primeira vez nos tempos mais recentes vejo este Senhor, apresentar o que pensam ser as soluções para o problema (como se apraz a um professor) em detrimento de vestir a capa de Satanás e de profeta da desgraça em que anuncia o fim do mundo.
http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS_OPINION&id=432301
[
quote]Nouriel Roubini
Como evitar uma recessão global em forma de W
© Project Syndicate, 2008. www.project-syndicate.org
Os políticos de todo o mundo têm debatido incessantemente a questão de saber quando e com que rapidez devem ser retirados os avultados pacotes de estímulo orçamental e monetário que evitaram que a Grande Recessão de 2008-2009
Os políticos de todo o mundo têm debatido incessantemente a questão de saber quando e com que rapidez devem ser retirados os avultados pacotes de estímulo orçamental e monetário que evitaram que a Grande Recessão de 2008-2009 se transformasse numa nova Grande Depressão. A Alemanha e o Banco Central Europeu querem instaurar rapidamente medidas de austeridade orçamental; os Estados Unidos estão preocupados com os riscos de uma consolidação orçamental excessivamente precoce.
Com efeito, os responsáveis encarregados de delinear estas políticas estão num beco sem saída. Se retirarem demasiado cedo os estímulos orçamentais e monetários - quando a procura do sector privado continua frágil -, existe o risco de voltarem a entrar numa situação de recessão e de deflação. Se bem que as medidas de austeridade orçamental sejam necessárias em países com enormes défices e elevados níveis de endividamento, o aumento dos impostos e a redução da despesa pública poderão agravar a recessão e a deflação.
Por outro lado, se os políticos mantiverem os estímulos durante demasiado tempo, a explosão dos défices orçamentais poderá levar a uma crise da dívida soberana (os mercados estão já a castigar os países orçamentalmente indisciplinados, fazendo subir os juros sobre a dívida pública, que apresenta agora "spreads" mais elevados). E se estes défices forem monetizados, a forte inflação poderá obrigar a um aumento das taxas de juro a longo prazo e, uma vez mais, penalizar a retoma económica.
O problema complica-se pelo facto de, nos últimos 10 anos, os Estados Unidos e outros países deficitários - incluindo o Reino Unido, Espanha, Grécia, Portugal, Irlanda, Islândia, Dubai e Austrália - terem sido consumidores de primeiro e último recurso, gastando mais do que os rendimentos que obtêm e tendo de gerir défices das contas correntes. Entretanto, as economias emergentes da Ásia - particularmente a China -, de par com o Japão, a Alemanha e mais uns quantos países, têm sido produtoras de primeiro e último recurso, gastando menos do que ganham e apresentando contas correntes excedentárias.
Os países que gastaram em demasia estão agora a fazer marcha-atrás, devido à necessidade de reduzirem os seus gastos privados e públicos, de importarem menos, de reduzirem os seus défices externos e de procederem a uma desalavancagem. Mas se os países com défices gastarem menos, ao mesmo tempo que os países com superavits não compensam com menores poupanças e com mais gastos - especialmente no que diz respeito ao consumo dos sectores privado e público -, então a capacidade produtiva excedentária irá deparar-se, em termos agregados, com uma escassez da procura, o que por sua vez levará a uma nova contracção do crescimento económico global.
Sendo assim, o que devem fazer os responsáveis políticos? Em primeiro lugar, nos países onde as medidas de austeridade se impõem urgentes, para que se evite uma crise orçamental, a política monetária deve ser muito mais flexível - através de taxas de juro mais baixas e de uma maior flexibilidade quantitativa - de modo a compensar os efeitos recessionistas e deflacionistas do aperto orçamental. Em geral, a política de taxas de juro próximas do zero deve ser mantida na maioria das economias avançadas, de forma a sustentar a retoma económica.
Em segundo lugar, os países onde os "vigilantes" dos mercados obrigacionistas ainda não acordaram - como é o caso dos Estados Unidos, do Reino Unido e do Japão - devem manter activos os seus pacotes de estímulo orçamental, ao mesmo tempo que concebem programas credíveis de consolidação orçamental que deverão ser implementados mais tarde, no médio prazo.
Em terceiro lugar, os países que poupam demasiado, como a China e a Ásia emergente, a Alemanha e o Japão, devem implementar políticas destinadas a reduzir os seus níveis de aforro e os seus excedentes das contas correntes. Mais especificamente, a China e os países asiáticos emergentes devem implementar reformas que permitam reduzir a necessidade de haver poupanças precaucionais e devem deixar também que as suas moedas valorizem; a Alemanha deve manter o seu pacote de estímulo orçamental e estendê-lo até 2011, em vez de dar já início às suas mal concebidas medidas de austeridade orçamental; e o Japão, por seu lado, deve aplicar medidas para reduzir o seu actual excedente das contas correntes e estimular as receitas e o consumo reais.
Em quarto lugar, os países com excedentes das contas correntes devem deixar que as suas moedas subavaliadas se apreciem, ao passo que o Banco Central Europeu deve seguir uma política monetária mais flexível que preveja um enfraquecimento adicional e gradual do euro, de modo a restaurar a competitividade e o crescimento na Zona Euro.
Em quinto lugar, nos países onde a desalavancagem do sector privado está a ser muito rápida, através de uma queda do consumo dos particulares e do investimento privado, os estímulos orçamentais devem ser mantidos e prolongados enquanto os mercados financeiros não considerarem esses défices insustentáveis.
Em sexto lugar, se bem que seja necessária uma reforma regulatória destinada a aumentar os coeficientes de liquidez e os rácios de capital para as instituições financeiras, esses rácios mais elevados devem ser aplicados gradualmente, de modo a evitarem uma deterioração da contracção do crédito.
Em sétimo lugar, nos países onde os níveis de endividamento privado e público são insustentáveis - e refiro-me à dívida dos agregados familiares nos países onde a bolha do mercado imobiliário estoirou e às dívidas dos governos, como é o caso da Grécia, que apresentam problemas de insolvência em vez de apenas falta de liquidez - essas mesmas dívidas devem ser reestruturadas e reduzidas, de forma a evitar uma grave deflação da dívida e uma contracção dos gastos.
Por último, o Fundo Monetário Europeu, a União Europeia e outras instituições multilaterais devem providenciar um generoso apoio de credor de último recurso, de modo a evitarem uma forte recessão deflacionista nos países que precisam de proceder a um desendividamento dos sectores público e privado.
Em termos gerais, o desendividamento por parte das famílias, dos governos e das instituições financeiras deverá ser gradual - e sustentado por uma depreciação da moeda - se quisermos evitar uma recessão em forma de W e um agravamento da deflação. Os países que ainda conseguem manter os pacotes de estímulo orçamental e que precisam de reduzir as suas poupanças e aumentar os gastos devem contribuir para o ajustamento global das contas correntes - mediante ajustamentos cambiais e um aumento dos gastos - a fim de se impedir uma escassez mundial da procura agregada.
O fracasso na implementação destas medidas políticas coordenadas - para sustentar a procura mundial agregada numa altura em que as tendências deflacionistas são ainda bastante severas nas economias avançadas - poderá levar a uma recessão em forma de W, bastante perigosa e penalizadora, nas economias avançadas. Um tal resultado provocaria mais um episódio de grave risco sistémico nos mercados financeiros globais, despoletaria uma série de incumprimentos soberanos contagiosos e penalizaria gravemente as perspectivas de crescimento das economias dos mercados emergentes que, até agora, têm tido uma recuperação mais robusta do que os países avançados.
Nouriel Roubini é professor de Economia na Stern School of Business, Universidade de Nova Iorque, é "chairman" da consultora global de macroeconomia Roubini Global Economics (www.rgemonitor.com) e é co-autor do livro intitulado "Crisis Economics: A Crash Course in the Future of Finance".
Para aceder ao "podcast" deste texto em inglês, deve utilizar o seguinte link:
http://media.blubrry.com/ps/media.libsy ... bini26.mp3
© Project Syndicate, 2010.
www.project-syndicate.org
Tradução: Carla Pedro[/quote]
Pela primeira vez nos tempos mais recentes vejo este Senhor, apresentar o que pensam ser as soluções para o problema (como se apraz a um professor) em detrimento de vestir a capa de Satanás e de profeta da desgraça em que anuncia o fim do mundo.
http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS_OPINION&id=432301
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quote]Nouriel Roubini
Como evitar uma recessão global em forma de W
© Project Syndicate, 2008. www.project-syndicate.org
Os políticos de todo o mundo têm debatido incessantemente a questão de saber quando e com que rapidez devem ser retirados os avultados pacotes de estímulo orçamental e monetário que evitaram que a Grande Recessão de 2008-2009
Os políticos de todo o mundo têm debatido incessantemente a questão de saber quando e com que rapidez devem ser retirados os avultados pacotes de estímulo orçamental e monetário que evitaram que a Grande Recessão de 2008-2009 se transformasse numa nova Grande Depressão. A Alemanha e o Banco Central Europeu querem instaurar rapidamente medidas de austeridade orçamental; os Estados Unidos estão preocupados com os riscos de uma consolidação orçamental excessivamente precoce.
Com efeito, os responsáveis encarregados de delinear estas políticas estão num beco sem saída. Se retirarem demasiado cedo os estímulos orçamentais e monetários - quando a procura do sector privado continua frágil -, existe o risco de voltarem a entrar numa situação de recessão e de deflação. Se bem que as medidas de austeridade orçamental sejam necessárias em países com enormes défices e elevados níveis de endividamento, o aumento dos impostos e a redução da despesa pública poderão agravar a recessão e a deflação.
Por outro lado, se os políticos mantiverem os estímulos durante demasiado tempo, a explosão dos défices orçamentais poderá levar a uma crise da dívida soberana (os mercados estão já a castigar os países orçamentalmente indisciplinados, fazendo subir os juros sobre a dívida pública, que apresenta agora "spreads" mais elevados). E se estes défices forem monetizados, a forte inflação poderá obrigar a um aumento das taxas de juro a longo prazo e, uma vez mais, penalizar a retoma económica.
O problema complica-se pelo facto de, nos últimos 10 anos, os Estados Unidos e outros países deficitários - incluindo o Reino Unido, Espanha, Grécia, Portugal, Irlanda, Islândia, Dubai e Austrália - terem sido consumidores de primeiro e último recurso, gastando mais do que os rendimentos que obtêm e tendo de gerir défices das contas correntes. Entretanto, as economias emergentes da Ásia - particularmente a China -, de par com o Japão, a Alemanha e mais uns quantos países, têm sido produtoras de primeiro e último recurso, gastando menos do que ganham e apresentando contas correntes excedentárias.
Os países que gastaram em demasia estão agora a fazer marcha-atrás, devido à necessidade de reduzirem os seus gastos privados e públicos, de importarem menos, de reduzirem os seus défices externos e de procederem a uma desalavancagem. Mas se os países com défices gastarem menos, ao mesmo tempo que os países com superavits não compensam com menores poupanças e com mais gastos - especialmente no que diz respeito ao consumo dos sectores privado e público -, então a capacidade produtiva excedentária irá deparar-se, em termos agregados, com uma escassez da procura, o que por sua vez levará a uma nova contracção do crescimento económico global.
Sendo assim, o que devem fazer os responsáveis políticos? Em primeiro lugar, nos países onde as medidas de austeridade se impõem urgentes, para que se evite uma crise orçamental, a política monetária deve ser muito mais flexível - através de taxas de juro mais baixas e de uma maior flexibilidade quantitativa - de modo a compensar os efeitos recessionistas e deflacionistas do aperto orçamental. Em geral, a política de taxas de juro próximas do zero deve ser mantida na maioria das economias avançadas, de forma a sustentar a retoma económica.
Em segundo lugar, os países onde os "vigilantes" dos mercados obrigacionistas ainda não acordaram - como é o caso dos Estados Unidos, do Reino Unido e do Japão - devem manter activos os seus pacotes de estímulo orçamental, ao mesmo tempo que concebem programas credíveis de consolidação orçamental que deverão ser implementados mais tarde, no médio prazo.
Em terceiro lugar, os países que poupam demasiado, como a China e a Ásia emergente, a Alemanha e o Japão, devem implementar políticas destinadas a reduzir os seus níveis de aforro e os seus excedentes das contas correntes. Mais especificamente, a China e os países asiáticos emergentes devem implementar reformas que permitam reduzir a necessidade de haver poupanças precaucionais e devem deixar também que as suas moedas valorizem; a Alemanha deve manter o seu pacote de estímulo orçamental e estendê-lo até 2011, em vez de dar já início às suas mal concebidas medidas de austeridade orçamental; e o Japão, por seu lado, deve aplicar medidas para reduzir o seu actual excedente das contas correntes e estimular as receitas e o consumo reais.
Em quarto lugar, os países com excedentes das contas correntes devem deixar que as suas moedas subavaliadas se apreciem, ao passo que o Banco Central Europeu deve seguir uma política monetária mais flexível que preveja um enfraquecimento adicional e gradual do euro, de modo a restaurar a competitividade e o crescimento na Zona Euro.
Em quinto lugar, nos países onde a desalavancagem do sector privado está a ser muito rápida, através de uma queda do consumo dos particulares e do investimento privado, os estímulos orçamentais devem ser mantidos e prolongados enquanto os mercados financeiros não considerarem esses défices insustentáveis.
Em sexto lugar, se bem que seja necessária uma reforma regulatória destinada a aumentar os coeficientes de liquidez e os rácios de capital para as instituições financeiras, esses rácios mais elevados devem ser aplicados gradualmente, de modo a evitarem uma deterioração da contracção do crédito.
Em sétimo lugar, nos países onde os níveis de endividamento privado e público são insustentáveis - e refiro-me à dívida dos agregados familiares nos países onde a bolha do mercado imobiliário estoirou e às dívidas dos governos, como é o caso da Grécia, que apresentam problemas de insolvência em vez de apenas falta de liquidez - essas mesmas dívidas devem ser reestruturadas e reduzidas, de forma a evitar uma grave deflação da dívida e uma contracção dos gastos.
Por último, o Fundo Monetário Europeu, a União Europeia e outras instituições multilaterais devem providenciar um generoso apoio de credor de último recurso, de modo a evitarem uma forte recessão deflacionista nos países que precisam de proceder a um desendividamento dos sectores público e privado.
Em termos gerais, o desendividamento por parte das famílias, dos governos e das instituições financeiras deverá ser gradual - e sustentado por uma depreciação da moeda - se quisermos evitar uma recessão em forma de W e um agravamento da deflação. Os países que ainda conseguem manter os pacotes de estímulo orçamental e que precisam de reduzir as suas poupanças e aumentar os gastos devem contribuir para o ajustamento global das contas correntes - mediante ajustamentos cambiais e um aumento dos gastos - a fim de se impedir uma escassez mundial da procura agregada.
O fracasso na implementação destas medidas políticas coordenadas - para sustentar a procura mundial agregada numa altura em que as tendências deflacionistas são ainda bastante severas nas economias avançadas - poderá levar a uma recessão em forma de W, bastante perigosa e penalizadora, nas economias avançadas. Um tal resultado provocaria mais um episódio de grave risco sistémico nos mercados financeiros globais, despoletaria uma série de incumprimentos soberanos contagiosos e penalizaria gravemente as perspectivas de crescimento das economias dos mercados emergentes que, até agora, têm tido uma recuperação mais robusta do que os países avançados.
Nouriel Roubini é professor de Economia na Stern School of Business, Universidade de Nova Iorque, é "chairman" da consultora global de macroeconomia Roubini Global Economics (www.rgemonitor.com) e é co-autor do livro intitulado "Crisis Economics: A Crash Course in the Future of Finance".
Para aceder ao "podcast" deste texto em inglês, deve utilizar o seguinte link:
http://media.blubrry.com/ps/media.libsy ... bini26.mp3
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Tradução: Carla Pedro[/quote]
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