Silvio Peruzzo
"Há bancos que poderão não aguentar a divulgação dos testes de stress"
"Os mercados querem saber que bancos conseguem aguentar um incumprimento da Grécia", diz Silvio Peruzzo, economista para a Zona Euro do Royal Bank of Scotland, em entrevista ao Negócios, acrescentando que "a divulgação dos resultados dos testes de stress é a única forma de poder acalmar a tensão".
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Rui Peres Jorge
rpjorge@negocios.pt "Os mercados querem saber que bancos conseguem aguentar um incumprimento da Grécia", diz Silvio Peruzzo, economista para a Zona Euro do Royal Bank of Scotland, em entrevista ao Negócios, acrescentando que "a divulgação dos resultados dos testes de stress é a única forma de poder acalmar a tensão".
Qual é importância da divulgação dos testes de “stress” em Espanha, Alemanha e eventualmente noutros países?
As decisões de Espanha e Alemanha são muito positivas, pois os mercados estão neste momento desconfiados sobre a saúde de todos os bancos, nomeadamente sobre as suas exposições aos mercados de dívida. A divulgação dos resultados dos testes de stress é a única forma de poder acalmar a tensão.
Mas há o risco de se criar ainda mais ansiedade caso os resultados sejam maus...
Haverá provavelmente ganhadores e perdedores, mas é exactamente isso que os mercados precisam de saber: como está a saúde de cada banco, e não apenas do sistema bancários em geral. Pode estar a acontecer que dois ou três bancos em situação difícil estejam a forçar o fecho do mercado para todos. É provável que, com a divulgação da informação, alguns bancos não consigam aguentar: esses terão de ser ajudados, recapitalizados ou integrados noutros bancos.
Que informação é importante nos testes de “stress”?
Há neste momento uma grande preocupação com o risco sistémico. Os mercados querem perceber que bancos conseguem aguentar um incumprimento da Grécia, ou com outro grande choque. É por isso que é importante que seja divulgada informação detalhada de cada banco, nomeadamente as suas exposições aos mercados de dívida.
Outro aspecto que será analisado com atenção serão as hipóteses assumidas nos testes, pois só assim poderá haver confiança nos resultados e na resistência das instituições.
Portugal apresentou recentemente um plano de forte redução de défice. Há risco de recessão?
A probabilidade de uma recaída da economia em recessão aumentou significativamente. O tipo de tarefa orçamental a que Portugal se está a propor é muito significativo e terá efeitos negativos no consumo e no investimento. Depois a Grécia, Portugal é um candidato provável a uma recessão.
Acha que é provável Portugal ter de recorrer ao pacote de financiamento externo?
A nossa hipótese de trabalho qualquer países só o fará em último recurso. Isto porque a condicionalidade associada ao acesso ao pacote de financiamento será muito forte, com necessidade de ajustamentos de dimensão ainda maior, e decididos pelas equipas da Comissão Europeia e do FMI.
Por isso, enquanto houver capacidade de resistir, e enquanto o BCE continuar a suportar o mercado, creio que nenhum país irá recorrer à ajuda. E provavelmente o BCE até terá de aumentar as suas ajudas, nomeadamente comprando dívida privada, nomeadamente espanhola. Pelo que sabemos, as compras até agora centraram-se em dívida pública grega e portuguesa.
Qual é a importância do Conselho Europeu estar a discutir o governo económico europeu, quando a Europa está a arder?
É um debate central. Os mercados perderam toda a fé no projecto de moeda única. E os líderes têm agora uma oportunidade única para melhorar as condições de governação económica e de restituir aos mercados a confiança de que, se sairmos desta confusão, estarão no terreno todos os mecanismos que permitam o sucesso da Zona Euro.
Para isso é essencial perceber que os países falam a uma só voz, e que têm os mecanismos para evitar os desequilíbrios que levaram à crise, e que têm uma forma de resolver futuros problemas.