Atenas furiosa com decisão "incompreensível" da Moody’s
07 Março 2011 | 09:35
Eva Gaspar -
egaspar@negocios.pt
"A descida de ‘rating’ hoje anunciada é completamente injustificada", levanta "questões muito sérias" sobre a independência e responsabilidade das agências de notação de risco, e só reforça os argumentos a favor de uma regulação mais apertada destas entidades.
O protesto violento do Ministério das Finanças grego surgiu pouco depois de a Moody’s ter esta manhã anunciado que completou a análise às perspectivas de evolução da economia e finanças gregas, tendo concluído que os pratos pesam decididamente para o lado negativo.
Na opinião da agência de notação de risco, a economia grega não vai recuperar tão cedo, muitas das reformas anunciadas para cortar definitivamente nos gastos do Estado e/ou aumentar as suas receitas vão ficar pelo caminho, pelo que uma reestruturação da gigantesca dívida pública a partir de 2013 (ano em que será concedida a última tranche do empréstimo internacional de 110 mil milhões de euros) dificilmente será evitável.
Em consequência, a Moody´s baixou três níveis à “qualidade” da dívida grega, reduzindo o seu “rating” de "Ba1" para "B1", tendo ainda mantido a perspectiva "negativa", o que sugere a probabilidade de novas descidas na notação.
A reacção do Governo grego não se fez esperar. Em comunicado enviado às redacções, o Ministério grego das Finanças, dirigido por George Papaconstantinou (na foto), acusa a agência de ter feito uma análise “desequilibrada” em que ignora os dados positivos da execução orçamental e em que assume como fracasso muitas medidas que – ao nível nacional e europeu – ainda estão por decidir.
Atenas vai mais longe, ao acusar a agência de notação de risco de ter feito uma análise irresponsável apenas com a intenção de se antecipar às suas concorrentes numa espécie de corrida pela “profecia da desgraça”.
“Depois de terem falhado rotundamente o acumular de riscos que conduziu à crise financeira em 2008, as agência de 'rating' estão agora a concorrer umas com as outras para ver quem primeiro descobre os riscos que levarão à próxima crise. Num momento em que a economia global permanece frágil e os mercados sensíveis, decisões desequilibradas e injustificadas, como a de hoje da Moody´s, podem iniciar profecias danosas que se auto-cumprem, reforçando certamente os argumentos a favor de uma regulação mais apertada das próprias agências”.
“Em última análise", acrescenta o comunicado de Atenas, a decisão da Moody’s de descer o ‘rating’ da dívida grega "é mais reveladora dos incentivos desajustados e da falta de responsabilidade das agências de 'rating' do que das reais perspectivas em torno da economia grega”.