Reguladores e operadores bolsistas analisam "mini-crash" com secretário do Tesouro
Os responsáveis das entidades reguladoras do mercado de capitais dos EUA estão reunidos desde as 19h de Lisboa com o secretário norte-americano do Tesouro, Timothy Geithner, para analisarem as perturbações ocorridas nas bolsas do outro lado do Atlântico, na quinta-feira passada, quando chegaram a perder mais de 9%.
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Carla Pedro
cpedro@negocios.pt
Os responsáveis da entidade reguladora do mercado de capitais dos EUA, a Securities and Exchange Commission (SEC), bem como da Comissão de Negociação de Futuros sobre Matérias-Primas (CFTC), estão reunidos desde as 19h de Lisboa com o secretário norte-americano do Tesouro, Timothy Geithner, para analisarem as perturbações ocorridas nas bolsas do outro lado do Atlântico, na quinta-feira passada, quando chegaram a perder mais de 9%.
Além dos responsáveis pelos órgãos reguladores, estão também presentes os representantes dos principais operadores das bolsas norte-americanas, refere a Reuters. Estão representadas a Bolsa de Nova Iorque, o Nasdaq, a Bolsa de Opções de Chicago, CME Group e Intercontinental Exchange, entre várias outras grandes praças.
Geithner (na foto), Mary Schapiro (“chairwoman” da SEC), Gary Gensler (“chairman” da CFTC) e os responsáveis das maiores bolsas vão focalizar-se nos progressos que os reguladores já fizeram na análise aos dados de ‘trading’ do dia 6 de Maio e tentarão determinar que mudanças terão de ser feitas, salienta a Bloomberg.
A razão do “mini-crash” da passada quinta-feira está ainda por esclarecer, mas suspeita-se que as diferentes normas de ‘trading’ mantidas pelas várias bolsas poderão ter desempenhado um papel crucial.
Vinte minutos foram suficientes para um "mini-crash" nas praças do outro lado do Atlântico. Só nos primeiros 10 minutos, transaccionaram-se 1,3 mil milhões de acções.
O "tornado" que se produziu entre as 19h40 e as 20h de Lisboa (menos cinco horas em Nova Iorque) arrastou centenas de acções para o vermelho.
A Accenture - que chegou a valer apenas um cêntimo de dólar - , a Exelon e a Philip Morris International estão entre alguns dos títulos que caíram mais de 90% nesse período. O Dow Jones perdeu 998 pontos, na maior queda intradiária desde o "crash" de 1987.
Agora, as autoridades de regulação querem determinar se foi o sistema de "trading" que não aguentou a quase duplicação do volume habitual de ordens ou se, pelo contrário, este tumulto foi propositado.
“Não é suposto os mercados funcionarem assim”
"Não é suposto os mercados funcionarem assim", comentou à Bloomberg um estratega do White Cap Trading, Jamie Selway. "Houve uma corrida louca ao fecho de posições. Só não sabemos se foi acidental ou intencional", referiu o mesmo responsável, que foi economista chefe da NYSE Arca, uma unidade da NYSE Euronext, a empresa que gere a Bolsa de Nova Iorque.
A SEC já veio dizer que está a tentar apurar se os participantes do mercado fizeram descarrilar acidentalmente ou maliciosamente as negociações. As agências federais de supervisão e regulação estão todas envolvidas na investigação.
Na sexta-feira, o Nasdaq OMX Group anunciou o cancelamento das ordens sobre os títulos que subiram ou desceram mais de 60% durante aqueles 20 minutos da sessão de quinta-feira. Ou seja, sobre 286 títulos. O que significa que não vai haver mexidas na Procter & Gamble, por exemplo, que defende que a sua queda de 37% também terá resultado de algum erro.
Larry Leibowitz, responsável operacional da NYSE Euronext, disse em entrevista à Bloomberg que a queda de quinta-feira pode ter começado pelos crescentes receios em torno de um eventual contágio da crise grega a outros países endividados, mas que a bola de neve que se seguiu pode dever-se ao facto de as ordens de venda terem sido enviadas para mercados onde não havia investidores dispostos a comprá-las.
"Quando uma grande ordem ou uma série de ordens entra nos mercados electrónicos, eles não têm forma de reconhecer se se trata de um erro, nem conseguem abrandá-las até atraírem a adequada liquidez", explicou Leibowitz.
Futuros e opções também na ribalta
O valor de algumas empresas caiu para menos de um dólar quando a Bolsa de Nova Iorque trocou o sistema de encontro de ordens electrónicas (compra e venda) pelo sistema de leilões, um programa que incentiva algumas ordens de venda a fluírem para bolsas de menor dimensão - que naquela altura tinham poucos (se é que tinham alguns) investidores dispostos a comprar, explicou a Bloomberg.
Depois deste incidente, estão também a ser levantadas questões quanto à queda dos mercados de futuros e opções, já que muitos dos seus contratos se baseiam no desempenho das acções e dos índices de acções, salientou a Reuters.
Na sexta-feira, as bolsas continuaram em baixa nos EUA, tendo contagiado toda a Europa, pois a integridade do sistema de "trading" das praças norte-americanas foi posta em causa.
O "trading" de alta velocidade, que recorre a sofisticados algoritmos informáticos, baseados em cenários específicos, de modo a automatizar as transacções a velocidades de milionésimos de segundo, corresponde actualmente a cerca de 60% do volume das bolsas norte-americanas.
SEC e seis bolsas reforçam accionamento de “travões”
Entretanto, a SEC e seis bolsas aprovaram um enquadramento estrutural que reforce aos chamados “travões” à negociação de ordens acima ou abaixo dos limites estabelecidos e que consiga conter, assim, as operações erróneas.
Em comunicado, Mary Schapiro disse ter tido uma reunião “construtiva” com os líderes da Bolsa de Nova Iorque, Nasdaq, BATS, Direct Edge, ISE e CBOE, refere a Bloomberg.