Vincent Treulet, director de investimentos do BNP Paribas, acredita que a Grécia será mesmo ajudada pela Europa, sob pena dos mercados atacarem outros países do euro. Entre aqui para ler a entrevista.
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Susana Domingos
sdomingos@negocios.pt
Vincent Treulet, director de investimentos do BNP Paribas, acredita que a Grécia será mesmo ajudada pela Europa, sob pena dos mercados atacarem outros países do euro.
Dada a difícil situação enfrentada pela Grécia, quais as perspectivas para o mercado de dívida?
Não é um bom momento para investir em dívida soberana. Não creio que haverá um "crash" no mercado de obrigações ou que o retorno vá ser desastroso no curto prazo. Mas a longo prazo, quando se está a investir em títulos de dívida pública, está a emprestar-se dinheiro aos Estados. E, de momento, não sabemos como toda a questão da redução da dívida vai ser resolvida. Não há forma de sair da actual situação sem dor. Num vasto número de países, que vão muito mais além dos do sul da Europa, haverá um momento em que tem que se pagar o preço de ter um endividamento muito elevado.
Acredita então que haverá uma solução para a Grécia?
Tenho uma posição mais optimista que a maioria. Os gregos queixam-se do elevado nível de juros que têm que pagar para se financiarem. Mas se não tivessem na Zona Euro, seria ainda pior. Não é do seu interesse sair do euro. Nem é do interesse dos restantes países da Zona Euro, porque sabem que se deixarem a Grécia entrar em incumprimento, outros países seriam atacados imediatamente. E esse é provavelmente o maior risco para um país como Portugal. Se amanhã a Grécia entrar em "default" ou sair da Zona Euro, os mercados transferem imediatamente a sua atenção para os países seguintes na lista. E há três ou quatro países que podem ser imediatamente atacados. Tem que ser encontrada uma solução política, por mais dura que seja.
Mas então porque é que está pessimista no longo prazo?
Ter um plano de emergência não resolve o problema fundamental. Para estabilizar a situação e evitar o "default", só há dois caminhos possíveis. O primeiro é gerir a dívida via indução de inflação. O que é muito difícil de impor porque não se pode aumentar a inflação por imposição. Outra via é estabilizar o défice orçamental e limitar a subida da dívida pública. O que implica aceitar um ambiente macroeconómico muito duro, de corte de gastos públicos, aumento de impostos. E tudo isso vai matar qualquer possibilidade de crescimento económico nos próximos três ou quatro anos.
A probabilidade de uma recaída em recessão é, então, muito elevada?
Para países como a Grécia, há um risco muito elevado de uma nova recessão. Para as maiores economias ocidentais, penso que não.
E para Portugal ?
O risco existe e é significativo. Se a situação grega estabilizar, não creio que Portugal ou Espanha venham a ser obrigados a efectuar ajustamentos tão fortes em relação aos seus défices. A consequência positiva do pessimismo que vigora para o ambiente macroeconómico é que os bancos centrais não vão subir as taxas de juro no curto prazo, o que ajuda a financiar os défices.
Dada a fragilidade política que a UE tem demonstrado ao lidar com a questão grega, a credibilidade do euro fica ameaçada?
Já está a ser afectada. A recente queda do euro é um reflexo disso. Até certo ponto, já é notória a existência de activos a desconto. O mercado accionista europeu está mais barato do que no resto do mundo. Esta é uma consequência não apenas do desconto que é colocado em relação à Europa, mas também em relação ao pessimismo dos próprios europeus. Isto não vai desaparecer no curto prazo. Os investidores querem assegurar-se sobre o que acontecerá à Grécia. No longo prazo, temos de facto um problema por resolver, para o qual não vejo solução. Isto é muito preocupante.