Boas!
QuimPorta Escreveu:Em primeiro lugar a decisão de zarpar ocorreu já os Franceses estavam às portas de Lisboa,
Tendo em conta os historiadores parece-me que estás enganado:
No início do século XIX, no contexto internacional criado pela ascensão do Império de Napoleão Bonaparte, a ideia da retirada da Família Real para o Brasil voltou à tona, tendo sido defendida pelo marquês de Alorna em 30 de maio de 1801[3] e, novamente, em 16 de agosto de 1803, por D. Rodrigo de Sousa Coutinho[4].A ideia de uma transferência para o Brasil, ressurgindo como um meio de reforço à segurança, sobretudo em contextos de ameaça iminente à soberania nacional, foi apresentada como uma via necessária ao cumprimento de um projecto messiânico, como em António Vieira, ou como um meio para redefinir as relações de forças no "equilíbrio europeu" pós-Vestfália, como em dom Luís da Cunha, marquês de Alorna e dom Rodrigo de Sousa Coutinho
No Conselho de Estado, reunido a 18 de Agosto, sem que se conhecesse ainda a manobra de Napoleão, venceu a posição do ministro António de Araújo e Azevedo: Portugal unia-se ao bloqueio continental, fechando os portos aos navios ingleses. A única objecção era a de não aceitar o sequestro dos bens e nem a detenção de pessoas de nacionalidade inglesa, por não serem conciliáveis com os princípios cristãos. O ministro Araújo ordenou a redação das cartas e expediu-as. Essa era a posição tomada por Lisboa, mas deixando vencida uma minoria liderada por D. Rodrigo de Sousa Coutinho, que defendera que se fizesse a guerra contra a França e a Espanha, colocando-se em prontidão 70 mil homens e mobilizando-se 40 milhões de cruzados para a custear. Na mesma reunião, Coutinho formulou uma vez mais a ideia preconizada em 1803, de uma retirada estratégica: caso Portugal não tivesse sorte nas armas, então "passasse a família Real para o Brasil"[6].
Os membros do Conselho de Estado encontravam-se divididos em dois partidos – o chamado "partido francês" e o chamado "partido inglês". Este último, liderado por D. Rodrigo de Sousa Coutinho, contava com personalidades como D. João de Almeida e preconizava a continuação dos pactos internacionais com o Reino Unido, insistindo na necessidade de encarar com firmeza a ideia de guerra. O "partido francês", liderado por D. António de Araújo e Azevedo, defendia a aceitação das condições francesas e, embora dissesse que buscava a neutralidade, inclinava-se para o lado da França.
A decisão de transferir a Corte para o Brasil, porém, já ficara resolvida na convenção secreta subscrita em Londres, em 22 de outubro de 1807, e que veio a ser ratificada em Lisboa no dia 8 de novembro. Pela mesma altura, chegava a Lisboa a notícia da prisão, em Espanha, do príncipe herdeiro do trono (Príncipe das Astúrias), e de que tropas espanholas e francesas se estavam a dirigir para a fronteira portuguesa.
Confirmavam-se os propósitos de Napoleão em relação a Portugal e a Espanha; tinham fundamento as advertências do rei da Grã-Bretanha e as do chamado "partido inglês" no Conselho de Estado. Não havia alternativa à retirada de toda a Família Real e do governo do Reino para o Rio de Janeiro.
Em fins de outubro, realizaram-se novas reuniões do Conselho de Estado, defendendo D. João de Almeida a saída de toda a Família Real e não apenas do Príncipe da Beira e das infantas. Mantiveram-se todas as ordens dadas para que continuassem os preparativos da esquadra. Depois se veria quem iria sair para o Brasil
.
Como podes verificar havia 2 partidos, um que queria entregar o reino ao Napoleão e outro que queria defender a soberania.
Os factos são claros e suportados em documentos, foi uma decisão pensada, pesando os prós e contras. Como deves calcular não é em 4 dias que se prepara uma esquadra para transportar tanta gente, por isso os preparativos vinham de longe.
QuimPorta Escreveu:Quanto à suposta "estratégia" de D. João VI cito o próprio Junot:
Citação:
Que tal estavam as cabeças que governavam Portugal, pois que, tendo entrado havia 4 dias, ainda ninguém o havia ido encontrar? Se ele vinha como inimigo que saíssem a bater-se! Se como amigo, então que lhe mandassem víveres!
O que o Junot disse não é relevante, ele foi enganado, tinha um objectivo e não conseguiu atingi-lo, querias que ele disse-se o quê?
Junot, no seu "Diário", manuscrito na Biblioteca Nacional da Ajuda, revela quanto os franceses receavam aquele embarque. Ao ser informado que este estava já em execução, e não podendo voar sobre o Ribatejo até Lisboa com as suas tropas, ainda enviou Hermann a Lisboa com a missão de o atrasar ou impedir. "Mr. Hermann ne put voir ni le Prince ni Mr. D. Araujo; celui-ci seulement lui dit que tout était perdu" ("O Sr. Hermann não pôde ver nem o Príncipe nem o sr. D. Araujo; este apenas lhe disse que tudo estava perdido"), escreveria depois Junot a Bonaparte. Para Araújo, para o "partido francês", o mais importante estava na verdade perdido - não era mais possível aos franceses aprisionarem o Príncipe-Regente de Portugal.
O "partido francês" em Portugal, não se dando por derrotado, começou imediatamente a difundir a ideia de que a retirada estratégica da Corte para o Brasil mais não era do que uma "fuga", que teria deixado Portugal sem Rei e sem Lei. Por esse motivo foi enviada uma delegação sua ao encontro de Junot para que Napoleão Bonaparte lhes desse uma Constituição e um Rei.
QuimPorta Escreveu:Posteriormente há que dizer que na dita “estratégia” faltou planear como se defenderia o Reino… Porque alguém teve que o fazer, e por vezes quase sem qualquer participação de Portugueses, o que é uma verdadeira aberração.
Isso não é bem assim, as forças portuguesas foram vitais para o sucesso do Wellington, não só na libertação de Portugal como na libertação da Espanha e invasão da França, como reconhecido pelo 1º ministro inglês à época:
Sem perder de vista as contradições e as limitações dos seus protagonistas civis e militares, a máquina de guerra portuguesa, de pequena dimensão se comparada com a das grandes potências, foi indispensável para o desenlace da campanha. O exemplo português ajudou a inflectir a "guerra entre soberanos para a guerra entre nações", como afirmou no Parlamento britânico o primeiro-ministro Liverpool, a 4 Novembro de 1813.
QuimPorta Escreveu:Por fim acrescentaria ainda que, caso a corte tivesse zarpado com uma estratégia pensada, teria regressado após as invasões. Só que as invasão ocorrem em 1807-1810, e a corte só regressa por imposição do Sinédrio, 10 (?!?) anos depois…
Mas isso já não tem a ver com a decisão de ir para o Brasil mas com acontecimentos posteriores.
Se verificares com o que se passou em Espanha, em que o Rei ficou e foi capturado, teve que abdicar a favor do Napoelao, tendo os restos do exercito Espanhol ficado confinado a Cadiz durante alguns anos, alimentado pelos ingleses, em que o seu territorio foi todo saqueado e não evitou a independencia das colonias espanholas da america do sul e central.
Assim não me parece que a opção do governo português tenha sido errada.
Um abraço,
Alexandre Santos