As elevadas perdas da TAP e a forte desvalorização das acções da Galp Energia, EDP e Inapa devido à crise financeira fizeram quase triplicar os prejuízos do Sector Empresarial do Estado (SEE) no ano passado, até mais de mil milhões de euros. O Estado continua a ganhar peso na economia
O Sector Empresarial do Estado (SEE), que agrega 89 empresas publicas e empresas onde o Estado é accionista, quase triplicou o seu prejuízo no ano passado, apesar da melhoria operacional e do aumento de dividendos entregues em ano de crise económica.
Segundo o relatório do Ministério das Finanças sobre a actividade do SEE em 2008, o sector empresarial do Estado registou um prejuízo de 1031,1 milhões de euros. Ou seja, um aumento de 642,6 milhões de euros face a 2007 e quase o triplo do apurado nesse ano (prejuízos de 388 milhões de euros).
Em termos de valores ponderados pela participação directa do Estado em cada empresa, os prejuízos foram ligeiramente inferiores (971,7 milhões de euros), mas o aumento das perdas, em comparação com 2007, foi muito superior (275 milhões de euros e quase quatro vezes mais). Ainda assim, o universo da empresas do Estado conseguiu um resultado operacional positivo. O EBITDA (resultado antes de juros, impostos, depreciações e apreciações) totalizou os 1203,6 milhões de euros, menos 0,1% que em 2007 (1204,2 milhões de euros) e a margem de EBITDA recuou ligeiramente para 11,5% face aos 13,8% de 2007.
A forte deterioração das contas do SEE deve-se sobretudo a dois factores: aos prejuízos da TAP e à queda, em bolsa, de algumas cotadas onde o Estado é accionista de referência, como a Galp Energia, EDP e Inapa que arrastaram a Parpública - empresa que gere as participações financeiras do Estado - para o vermelho.
Só a Parpública perdeu quase 500 milhões de euros em lucros com a queda das acções devido à turbulência nos mercados financeiros: em 2007, tinha apurado um resultado líquido de 375 milhões de euros e passado um ano registou perdas de 133 milhões de euros.
Na companhia aérea liderada por Fernando Pinto, o peso do aumento do preço do barril de petróleo - que em Julho de 2008 atingiu os 147 dólares - foi determinante para os prejuízos de 329 milhões de euros verificados no ano passado e que representam um terço do total das perdas da Parpública. A TAP sofreu ainda com a queda do tréfego devido à crise internacional e perdas nas suas participadas como a Groundforce ou a VEM, adianta o documento.
O ministério das Finanças refere ainda que o agravamento dos encargos com juros e similares totalizou 123 milhões de euros em prejuízos.
Contas feitas, as perdas com a Parpública, TAP e encargos com juros acabaram por ofuscar a boa perfomance das restantes empresas públicas, que registaram um lucro conjunto de 105 milhões de euros.
No comunicado que acompanha o relatório do SEE, o secretário de estado do Tesouro e Finanças, Carlos Costa Pina, afirma que "as empresas públicas não financeiras, excluindo a Parpública e o sector da Saúde, devido às suas especificidades em 2008, fizeram uma gestão anti-cíclica, apesar da conjuntura negativa, tendo melhorado o emprego em um por cento e os prazos médios de pagamento em 21 dias".
O resultado operacional após subsídios disparou dos 169,4 milhões de euros positivos em 2007 para 403,9 milhões de euros negativos, adianta o relatório. O esforço financeiro do Estado com as empresas públicas não financeiras acelerou 26%, em 2008, para 811 milhões de euros. Já as despesas de investimento feitas pelas empresas não financeiras do Estado atingiram os 4,37 mil milhões de euros, mais 200 milhões que no ano anterior.
As Finanças destacam que, apesar do aumento dos prejuízos, muitas das restantes companhias públicas apresentaram uma perfomance bastante positiva. Empresas como a Águas de Portugal, RTP, Estradas de Portugal, CTT - Correios de Portugal, Carris. ANA - Aeroportos de Portugal, CP, Refer e Administrações Portuárias aumentaram o seu resultado operacional em mais de 10% entre o período de 2005 e 2008.
Costa Pina sublinha o caso da CP, que no ano passado apresentou o primeiro resultado operacional positivo da sua história, atingindo os 2,2 milhões de euros face a um prejuízo de 23 milhões em 2007. Os CTT, por exemplo, duplicaram os dividendos entregues ao accionistas Estado em 2008 devido aos bons resultados.
Outro dos destaques do ano foi a performance da Caixa Geral de Depósitos, que duplicou também os dividendos pagos ao Estado, por via do aumento de capital. O banco público apurou um resultado líquido de 459 milhões de euros em 2008, uma quebra de 46% face ao registado em 2007 ( 856 milhões de euros).
O Governo escreve que no SEE, é crítico dar seguimento às iniciativas de reestruturação em sectores-chave como é o dos transportes. No transporte aéreo, o ministério das Finanças sublinha que é essencial prosseguir com a privatização da ANA - Aeroportos de Portugal e a construção do novo aeroporto de Lisboa. A implementação do plano de reestruturação económico e financeiro da TAP é igualmente uma prioridade máxima.
No sector ferroviário, depois do equilíbrio da performance operacional, o documento sobre a actividade do Sector Empresarial do Estado no ano passado diz que o objectivo é agora "abordar os passivos e apoiar a sua resolução".
Dividendos aumentam
No ano em que a crise económica mais se fez sentir, os dividendos entregues ao Estado pelas suas empresas praticamente estabilizaram, registando uma ligeira subida de 0,5% no ano passado face a 2007. Os cofres públicos receberam 559,0 milhões de euros em dividendos no ano passado contra os 556,3 milhões de euros de 2007, refere o relatório de actividade do SEE.
Os principais contribuintes em dividendos foram os CTT e a Caixa Geral de Depósitos. Os primeiros entregaram ao Estado 46,5 milhões de euros, mais 16,6 milhões que em 2007, enquanto o banco público entregou 272 milhões de euros, mais 30% e 66 milhões que um ano antes.
Em ano de crise, as privatizações foram também escassas face a anos anteriores. Em 2008, o Estado recebeu apenas 157 milhões de euros oriundos dos acertos correspondentes à 1ª fase de privatização da REN. As disponibilidades de de receitas de priovatização caíram de 5,76 mil milhões em 2007 para 856 milhões em 2008.
Estado ganha peso na economia
O peso do Estado na economia continuou a aumentar no ano passado, tanto ao nível do PIB como do emprego, mantendo a trajectória ascendente dos últimos anos.
Segundo o relatório do ministério das Finanças, o peso do Sector Empresarial do Estado em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 0,7 pontos percentuais em 2008, passando de 4,1% em 2007 para 4,8% no ano passado. O SEE é constituído por 89 empresas públicas com um valor nominal de 12,6 mil milhões de euros. Porém, os valores não são directamente comparáveis devido à incorporação de empresas como as Estradas de Portugal ou a integração dos hospitais-empresa.
Ao nível do emprego, o peso do Estado sofreu um acréscimo de 8,93% passando esta presença a representar 3,17% do total do emprego contra os 2,92% de 2007. Descontando o sector da saúde, o peso do SEE no emprego total teria caído para 1,61%. Desde 2006, que a presença do Estado na economia tem vindo a aumentar.
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