Quico Escreveu:zecatreca Escreveu:
Vamos então exigir formação, a esses senhores, que provavelmente começaram do zero, a trabalhar horas e horas para terem um” pé-de-meia”, iniciando assim uma empresa, criando assim postos de trabalho.
E eu diria mais...
Já pensaram que se calhar
só é empresário neste país quem não teve outra hipótese de se safar na vida do que meter mãos à obra e criar um negócio, porque só tinha a 4ª classe?Entretanto, meninos bem formados e bem pensantes saem de cursos superiores a saber tudo da vida, a ambicionar serem quadros superiores do estado ou a serem captados pelos grandes grupos empresariais, e desatam a julgar esses "empresários de vão de escada". E porque não, em vez criticarem, serem eles a criarem as tais PME's "como deve ser" e a criar postos de trabalho? Se calhar é por isso que este país "está como está"...
Em 1980 foi criada uma pequena empresa de fabricação de calçado com 40 empregados que ganhavam acima da tabela salarial e foi assim durante muitos anos e todos eram parte integrante da fabricação de sapatos. A Parte administrativa era assegurada pelo patrões (casal), mais uma contabilista que cobrava pelos seus serviços cerca de 30.000$00(escudos) mensais à data.. Em 1981 andava eu na tropa e fui contactado para ir trabalhar para essa empresa nas funções de empregado de escritório. Entre 1981 e 1983 laborei em part time por causa do SMO
Em 1983 foi-me feita a proposta de passar a desempenhar as funções de encarregado geral com a respectiva melhoria salarial.
Em 1990 estávamos no auge de fabricação para o mercado externo (França, Alemanha e países nórdicos) com uma produção média diária a rondar os 500 pares o que dava uma média diária de 12,5 pares por cada empregado. Tudo que fosse acima 10 pares era ALTA PRODUTIVIDADE/COMPETITIVIDADE, na qualidade média do nosso fabrico
Como as instalações da empresa eram exíguas e era imperioso crescer pq já nessa data tínhamos fases das 2 épocas (primavera/verão e outono/inverno) que entregávamos a outras fábricas a laboração (à mão de obra) de calçado encomendas supervisionadas por nós.
Mãos à obra e em Junho de 1991 estávamos nas novas instalações.
A partir desta data o casal empresário passou a ter a colaboração da filha e do genro(doutores) a gerir a empresa
Fomos a 1ª empresa em Portugal a utilizar o sistema Anzani (italiano) na costura das gáspeas e na montagem das mesmas. Em poucas palavras esse sistema consistia no seguinte. Era temporizado, ou seja, cada empregado tinha o seu posto específico e tinha x segundos ou minutos para executar determinada tarefa. Ao fim desse tempo tinha que ter a sua tarefa pronta pq o seu "carro" passava ao operador seguinte para outra operação e ele recebia do colega anterior um "carro". Todas operações e empregados estavam interligados de tal modo que sempre que alguém necessitava de ir à casa de banho , só o podia fazer depois de ser substituído por um membro suplente.
Lógico que a produção de 500 de média diária passou para 850, mas o nº de empregados também passou para 80.
Apesar dos 80 empregados, ainda estávamos acima dos tais 10 pares de média diários, mas desses 80 a empresa tinha contratado.
1 telefonista
1 economista
1 informático de gestão
2 empregados de armazém
1 guarda- nocturno
1 revisor de contas (pelo volume de vendas a lei obrigava a isso). Visitava a empresa 1 a 2 vezes semanais
2 empregados de escritório + 1 que me tinha substítuido em 1983 passaram a ser 3
Pelas contas 10 pessoas dessas 80 não faziam parte do aparelho produtivo. Algumas delas tinham salários de Doutores que dava para pagar o salário de 5 ou 6 empregados.
Conclusão: A empresa continuou a ser produtiva, se nos referirmos ao número de pessoas que faziam parte do aparelho produtivo, continuou com a mesma qualidade, MAS PERDEU COMPETITIVIDADE, já que o lucro de cada sapato passou a ser muito menor para a entidade patronal.
A parte administrativa comia um bolo demasiado grande. Todas as outras despesas inerentes à fabricação de calçado subiram imenso pq o "navio" agora era muito maior.
Em 1997 acabei por sair da empresa pq eram demasiadas pessoas a mandar e a fazer asneiras, algumas mesmo caricatas. O problema é que eram sempre os mesmo a resolver as incompetências dos doutos.
Como era o elo de ligação entre a entidade patronal e os trabalhadores sobrava sempre para mim a resolução dos problemas. Cansado acabei por dar um rumo novo à minha vida. Sei que 1 ano depois de sair, a empresa contratou um engenheiro de produção.
Resultado final= a empresa já fechou à 2 anos afogada em dividas aos trabalhadores, banca e fornecedores, etc, etc.
Haveria mais pormenores para narrar, mas são pessoais.
Ainda hoje me lembro com saudade, da pequena festa que organizava no meu aniversário e onde estava presente toda o pessoal homem. Era paga do meu bolso e nunca pedi um cêntimo à entidade patronal. Se o fazia era pq sabia que tinha uma equipe de trabalho que me acompanhava na noites de serão , nos sábados e por vezes nos domingos........
Casal empresário tinham o antigo 5º ano de escolaridade e eu tenho o antigo 7º ano
http://www.anzanispa.it/anzani/prodo/la ... _it_p.html