
Em que têm investido os portugueses?
Em 2009, os portugueses têm aumentado de forma significativa o seu esforço de poupança, manifestando a intenção de se protegerem dos efeitos de uma conjuntura económica adversa.
Depois de ter atingido no 3º trimestre de 2008 o seu mínimo histórico nos 5,5%, a taxa de poupança nacional subiu no 2º trimestre para 8,6% do rendimento disponível e estima-se que possa chegar aos 11% no próximo ano.
Esta semana, vamos analisar as escolhas de poupança e investimento dos portugueses, bem como o impacto que as baixas taxas de juro têm tido nos produtos seleccionados nos últimos meses.
Os portugueses investem de forma conservadora
De acordo com um estudo* recente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) sobre o perfil do investidor particular português, apenas 26,5% das famílias entrevistadas têm pelo menos um activo financeiro, de entre as seguintes opções:
* Depósitos a Prazo
* Certificados de Aforro
* Obrigações do Tesouro
* Acções
* Planos ou Fundos de Poupança Reforma (PPR)
* Obrigações
* Unidades de Participação em Fundos de Investimento
* Títulos de Participação
* Produtos Estruturados
* Outros Derivados
Das famílias que têm pelo menos um activo financeiro, 65,3% investem exclusivamente em Depósitos a Prazo e/ou Certificados de Aforro, um peso que é atribuído pela CMVM ao facto de se tratarem de «activos tradicionais, com menor risco, e que não exigem elevados conhecimentos por parte dos investidores, sendo geralmente subscritos por agregados nos escalões etários mais elevados e com menores habilitações académicas».
Desta forma, apenas 9,2% de todas as famílias entrevistadas pela CMVM são investidoras na verdadeira acepção da palavra, ou seja, estão dispostas a correr os riscos inerentes ao investimento no mercado de valores mobiliários. A CMVM conclui ainda que a propensão a investir nos mercados de valores mobiliários é tanto maior quanto mais elevados forem os níveis de rendimento do agregado familiar, bem como o nível de escolaridade e a qualificação profissional.
Estas conclusões são confirmadas se consultarmos as estatísticas oficiais de valores aplicados em algumas das soluções mais populares. Como podemos verificar na tabela em anexo, os depósitos a prazo e, em menor grau, os certificados de aforro, reúnem a esmagadora maioria dos valores investidos em Portugal. Se somarmos os valores disponíveis em depósitos à ordem (cerca de 30 mil milhões de euros), a liderança dos depósitos bancários é ainda mais notória.
Produto
Valor investido
(mil milhões de euros)
Data de referência
(valor mais recente)
Depósitos a prazo
(particulares)
83,995
Agosto de 2009
Certificados de Aforro
16,987
Outubro de 2009
PPR
18,282
Dezembro de 2008
Fundos de investimento mobiliário
16,214
Dezembro de 2008
Fontes*: Banco de Portugal; Instituto de Gestão do Crédito Público; Instituto de Seguros de Portugal; Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP)
Nota: a tabela não inclui todas as soluções de investimento disponíveis em Portugal, mas apenas uma selecção das mais representativas
Das soluções representadas na tabela anterior, as três primeiras têm capital e/ou remuneração garantidos. E mesmo no que diz respeito aos fundos de investimento mobiliário, apenas 9,2% dos mesmos investem em acções (ou predominantemente em acções), o que caracteriza bem o pendor conservador dos aforradores e investidores no nosso país.
Comparação com outros países
As famílias portuguesas estão entre as mais conservadoras do mundo no que diz respeito a investimentos.
De acordo com um estudo* da Federation of European Securities Exchanges (FESE) relativo a 2007, citado também pela CMVM, os particulares e famílias detinham apenas 9,9% do valor de mercado das empresas portuguesas (face a 15% no início da actual década), valor claramente inferior registado em Espanha (20,1%), na Itália (26,6%) e mesmo na Grécia (19,4%), países em que o sector bancário desempenha um papel igualmente importante no financiamento da economia.
(...)
Em conclusão ...
Os hábitos de poupança dos portugueses alteraram-se ao longo dos últimos meses. Desde logo, por alocarem uma maior fatia do seu rendimento disponível à poupança, como forma de precaução numa altura de crise económica, em que se registam as maiores taxas de desemprego das últimas décadas. Mas também por privilegiarem aplicações com um horizonte temporal mais longo e outras soluções para além dos tradicionais depósitos, em busca de remunerações mais interessantes.
Já no que diz respeito ao grau de exposição directa ou indirecta dos particulares aos mercados de valores mobiliários, existe um longo caminho a percorrer face ao que acontece noutros países, nos quais os mercados de capitais têm um maior peso no financiamento da economia, ajudando a promover o investimento.
*Fontes utilizadas neste artigo:
Estudos CMVM nº3 2009 - «O perfil do investidor particular português», Outubro 2009
Federation of European Securities Exchanges - «Share Ownership Structure in Europe», Dezembro 2008
Banco de Portugal - Boletim Estatístico Outubro 2009 – Tabela “Saldo de depósitos com prazo acordado de residentes na área do euro em instituições financeiras monetárias (particulares)”
Instituto Gestão Crédito Público – Boletim Mensal Novembro 2009
Associação Portuguesa de Seguradores – Produção de Seguro Directo Setembro 2009
Instituto de Seguros de Portugal – Estatísticas de Seguros 2008
APFIPP - Nota Informativa sobre Evolução dos F.I.M. Setembro 2009
Fonte: Newsletter ActivoBank7